Mobilidade impulsiona investimentos do mercado imobiliário

Nas redondezas da Estação Brooklin é possível enxergar os símbolos da expansão imobiliária na região. Foto: Breno Damascena

24/08/2022 - Tempo de leitura: 3 minutos, 35 segundos

Inaugurada para testes em dezembro de 2021, a Estação Vila Sônia, da Linha 4-Amarela do metrô, só passou a funcionar de forma plena em maio deste ano. No entanto, mudanças gradativas são observadas no local desde a divulgação da iniciativa e do novo terminal de ônibus, em 2012. É isso que diz Joseane Possidonio, subprefeita do Butantã. “Além da região ficar mais popular, a chegada do metrô trouxe uma estruturação urbana e econômica”, afirma.

“Notamos crescimento no número de empreendimentos imobiliários, aumento populacional e é notória a demanda da população por imóveis, aqui. Portanto, o potencial é ainda maior”, enumera Joseane. “Mas o maior benefício para a gente é que o metrô é um meio de transporte público, rápido e acessível, que permite a nossa conexão com toda a cidade de São Paulo”, complementa.

Casos parecidos

Esse potencial de crescimento é percebido, também, em regiões que receberam estações há um pouco mais de tempo. É o caso da Estação Brooklin, na Linha 5-Lilás do metrô, na zona sul. Bastam alguns metros de caminhada fora da moderna estrutura para deparar com as dezenas de prédios sendo construídos até onde a vista alcança, e incontáveis estandes de vendas anunciando corretores de plantão (confira quadro abaixo).

Lincoln Luis dos Anjos é o coordenador de projetos de um desses prédios, idealizado pela Incorporadora Benx e localizado a cerca de 300 metros do metrô. Ele explica que a proximidade da estação foi um fator determinante para a construção do empreendimento. “Antes de dar início ao projeto, houve um ano de estudos para saber como o bairro funciona. E a mobilidade é bastante relevante nessa equação”, comenta.

Inaugurada em 2017, a estação de metrô se somou ao sistema de mobilidade do Brooklin, que já possui diversas linhas de ônibus e uma ciclofaixa robusta. Não à toa, o bairro começou a atrair pessoas de outras regiões, como é o caso da estudante Izabelly Cristina Tonon. Moradora no bairro há dois anos, ela estuda em Higienópolis e tem o metrô como principal meio de transporte.

A estudante Izabelly Cristina Tonon: “Uso o carro mais para opções de lazer”. Foto: Breno Damascena

“Uso o carro mais para opções de lazer”, justifica a jovem. Apesar de gostar da região, ela relata que a construção incansável de prédios também pode ser um pouco cansativa. “Às vezes, todo esse movimento é um pouco caótico”, complementa. O sentimento de Izabelly não é individual. Alguns moradores do Brooklin apontam que essa transformação traz novos desafios.

Mudanças nas paisagens urbanas

Nos arredores da Estação Brooklin, algumas ruas com casas ainda resistem à revolução dos grandes empreendimentos. Mesmo que fosse impossível ouvir o barulho de trânsito e construções típico das metrópoles, a abundância de placas de “Vende-se” espalhadas pela vizinhança já demonstrariam que é questão de tempo para aquele clima bucólico ser consumido pelos ventos do progresso.

“Não foi o metrô ou a ciclofaixa que mudou a região, foi a quantidade de gente aqui. Você não conhece mais ninguém quando entra numa padaria, não conhece nem seu vizinho”, lamenta Fernando Corte, morador do bairro há 56 anos. O anúncio de venda na porta da casa antecipa seu objetivo de ir embora. “Decidi me mudar para o interior. O bairro está insustentável”, critica.

A urbanista Paula Santoro alerta que a verticalização dos bairros precisa ser observada com calma. “É importante entender o impacto do adensamento populacional e pensar em outras formas de preservar o zoneamento de casas”, comenta. “Os sobrados de São Paulo fazem parte da história. Não precisamos preservar todos, mas é importante salvar alguns”, aponta.

Ela explica que esse debate não pode ser definido com um ar de rivalidade entre mercado imobiliário e elites, contra adensamento populacional. “Estamos vendo um processo urbano em construção, sem ter um projeto urbano desenhado”, aponta. “O que adianta ter um monte de prédio construído em volta do metrô se eu não consigo chegar lá a pé, por exemplo? Mobilidade é um desafio para o planejador, e deve ser pensado de forma integral.”