A moto é a escolha de meio de transporte de milhões de brasileiros. No ambiente urbano, esse tipo de veículo ganhou caráter fundamental com a expansão e consolidação do setor de entregas, especialmente durante o período da pandemia para atender as demandas de grande parte da população que permanece trabalhando e estudando de forma remota.
Usada como meio de transporte, seja para lazer ou para o trabalho (delivery), as motos ocupam espaço importante na mobilidade. O crescimento da frota brasileira quase dobrou em um período de dez anos, saltando de 15 milhões em 2009 para 28 milhões em 2019, segundo a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas). E os números continuam crescendo em um ritmo acelerado.
A Abraciclo registrou a produção de quase 962 mil motos em 2020 e a expectativa é a de repetir (ou bater) o resultado neste ano, uma vez que já foram fabricadas a 463 mil motos de janeiro a maio. As vendas, que em maio de 2020 foram impactadas pelas incertezas da pandemia, com 29,2 mil unidades vendidas, mostraram recuperação e ultrapassaram as 110,3 mil unidades em na comparação com maio deste ano, conforme dados do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores).
O crescimento do interesse dos brasileiros pelas motos, sem levar em consideração o uso (transporte, lazer ou trabalho) ou a cilindrada (potência), também é percebido na Webmotors. Ao comparar o volume de propostas comerciais do primeiro trimestre de 2021 com igual período de 2019 e 2020, identificamos um aumento de 286% e 200%, respectivamente. E a comparação do primeiro trimestre com igual período do ano passado, mesmo que sobre uma base mais alta, também é bastante superior, com alta de 30% no número de propostas.
Em minha visão, os números da Abraciclo e os dados da Webmotors sobre o crescimento das motos no mercado brasileiro podem ser atribuídos principalmente a dois fatores: opção de transporte mais ágil e econômico e ao uso do veículo para o trabalho (entregas). Em ambos os casos, contudo, estamos falando de mobilidade e da importância das motos para a forma como os brasileiros se locomovem, sobretudo nas cidades grandes e médias do país.
Para quem usa a moto como meio de locomoção, ela representa uma escolha lógica de mobilidade como alternativa ao transporte público que, em muitos casos, é mais moroso e lotado – uma preocupação que se acentuou na pandemia. Contribui para isso algumas vantagens, como o fato de ser um veículo que tem opções com preços mais acessíveis, que consome menos combustível, com um custo menor de manutenção e que permite deslocamentos mais rápidos ao driblar o trânsito.
Já para quem tem na moto a sua ferramenta de trabalho, é possível atrelar o crescimento do mercado de duas rodas ao dos serviços de entrega, especialmente na pandemia. Um estudo divulgado no início do ano pela Mobilis, startup de gestão de finanças pessoais, mostra que os gastos dos brasileiros com delivery cresceram 149% em 2020, considerando três dos principais aplicativos de comida.
Outra pesquisa, da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), mostra que o número de empresários que usavam o delivery cresceu de 54% para 66% na pandemia e que a adesão dos negócios aos aplicativos cresceu de 25% para 72%.
Nesse contexto, entendo que as motos representam uma pauta relevante para a mobilidade. Seja como alternativa para driblar o trânsito, meio econômico de locomoção, lazer ou ferramenta de trabalho, temos de estar atentos para as soluções que integrem as motos nos fluxos das cidades e que tornem cada vez mais fáceis e ágeis a jornada de compra dos modelos mais adequados às preferências dos consumidores. E isso envolve a integração do ecossistema de mobilidade, pois tudo indica que esse setor permanecerá em alta no país.