No último dia 23, a cidade do Rio de Janeiro foi palco do maior ataque ao transporte público que o Brasil tem registro, com impacto na rotina de milhões de pessoas com a dificuldade de mobilidade urbana.
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Como suposta retaliação à morte do sobrinho de um miliciano conhecido como Zinho, criminosos incendiaram 35 ônibus, além de carros particulares e até mesmo um trem, comprometendo ainda mais os deslocamentos da população da cidade.
O ataque foi considerado o maior que se tem registro no País, pela quantidade de veículos destruídos. Entretanto, ações como essa têm sido cada vez mais comuns, somando impactos em diversas esferas.
De acordo com dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), desde 1987, 4.810 ônibus urbanos foram incendiados em todo o País, com um prejuízo financeiro aproximado de R$ 2 bilhões para a reposição dos veículos.
O impacto vai além de perdas financeiras e da falta de mobilidade urbana: deste total, houve, ainda, o registro de 22 vítimas fatais e 80 feridos graves nesses incidentes
Apenas no ataque recente da capital carioca, de acordo com a Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro (Semob), o prejuízo soma R$ 38 milhões.
Do total de 35 ônibus incendiados, 25 operavam no sistema de transporte público; os demais eram veículos de turismo e de fretamento. Um motorista, que teve queimaduras de terceiro grau no corpo, segue internado e sem previsão de alta.
Do ponto de vista social, atos de vandalismo geram prejuízos incontáveis para a rotina das cidades e à mobilidade urbana de forma geral, impedindo que as pessoas exerçam seu direito de ir e vir.
“Com isso, o transporte clandestino avança, mais pessoas usam motos e carros, e as vias ficam ainda mais sobrecarregadas. Podemos dizer que a cidade se transforma em um caos e isso impacta a todos, até mesmo quem não utiliza o transporte público”, diz Francisco Christovam, diretor-executivo da NTU.
Outro aspecto importante é que as operadoras de transporte não possuem seguro contratado para esse tipo de sinistro.”Com isso, a conta recai sobre o contrato com o poder concedente, geralmente prefeituras, que acabam onerando depois a tarifa paga pelo passageiro”, explica Christovam. Ou seja: aumento nas tarifas, já consideradas altas pela sociedade.
Além do impacto pontual na mobilidade, o executivo explica que ele se estende por meses após os incidentes. “Em média, para que cada veículo seja substituído, espera-se em torno de 6 meses, pois as fábricas trabalham sob encomenda”, diz. Isso acarreta em ônibus cada vez mais lotados para as pessoas.
Historicamente, o setor vem demandando do poder público o endurecimento e a aplicação da legislação pelos órgãos de segurança, para coibir e punir esse tipo de crime. “Ataques aos sistemas de transporte são inaceitáveis e o poder público, incluindo o Legislativo e o Judiciário, precisam atuar com mais rigidez contra esses criminosos”, completa.
O diretor-executivo da NTU lembra, ainda, que há uma questão cultural, que precisa ser trabalhada na esfera da educação: como patrimônio público, os ônibus acabam virando alvo de ataques devido à insatisfação popular ou alvo de represálias de criminosos contra a ação da polícia.
“Isso precisa mudar, o foco deve ser o cidadão, em especial o passageiro, e as comunidades também precisam se mobilizar para defender o que é direito: o transporte público. Empresas operadoras e até montadoras de ônibus têm feito campanhas educativas nos últimos anos sobre esse tema, que precisam ser reforçadas nas escolas”, finaliza.
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