A cada ano, aumenta o interesse das mulheres, em todo o Brasil, em obter habilitação para pilotar motocicletas. Nos Centros de Formação de Condutores (CFCs), onde as aulas ocorrem, é comum que os instrutores utilizem motos menores que facilitem, ao máximo, o processo de aprendizagem para que os candidatos sintam segurança durante o treinamento.
“Mas, ao final desse período, após passarem pelos períodos de estudo e prática veicular, vemos que muitas mulheres acabam optando por motos com cilindradas maiores”, conta Jucimara Fernandes, observadora certificada pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) que atua em Poços de Caldas (MG).
A empresária Silvana Bernardes Rosa é um exemplo dessa situação: ela passou por diversos treinamentos disponíveis no mercado, como o Capitão da Estrada, entre outros, e atualmente conduz grupos de motociclistas ao pilotar uma Harley-Davidson de 1.700 cilindradas. Ela conta que já fez diversas viagens longas: a famosa Rota 66, nos Estados Unidos; Machu Picchu, no Peru; e, no Brasil, partiu de Minas Gerais para percorrer as regiões Sul e Sudeste do País.
Segundo ela, a decisão de conduzir uma moto de grande porte e alta cilindrada foi impulsionada pelo conforto. Precavida, diz sempre pilotar com muita atenção. “Já sofri um acidente, mas ele foi causado por um condutor imprudente. Porém, na ocasião, eu estava com todos os equipamentos de segurança e seguindo as leis de trânsito”, diz Rosa.
Ao desconstruir estereótipos de gênero, as mulheres, além de pilotar motocicleta de alta cilindrada, participam de eventos e criam grupos para estimular o vínculo social e a condução segura, acompanhando o avanço das novas tecnologias e o lançamento de equipamentos atrativos ao público feminino.
Juliana Nascimento, empresária e motociclista, conta que sempre acompanha as novidades que envolvem o universo das duas rodas. “O passeio, para mim, é uma terapia. Sou prudente e sempre uso equipamentos de segurança”, afirma.
De acordo com o mapeamento realizado pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), com dados disponibilizados pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em março de 2021, foram registradas 25,8 milhões de condutoras de automóvel habilitadas e, desse total, 6,8 milhões também pilotam motocicleta.
“Mesmo observando crescimento no número de condutoras, o percentual de mulheres envolvidas em sinistros de trânsito, quando comparadas aos homens, é sempre menor, demonstrando que elas pilotam com mais cautela”, explica a observadora certificada.
O Infosiga SP analisou os acidentes de trânsito de janeiro a agosto de 2020 e concluiu que, do total de sinistros da capital, 1.812 foram causados por homens (93,5%) e apenas 122 (6,5%) por mulheres, estatística que se repete de forma muito semelhante em todo o País. “Por causa disso, o público feminino é considerado de baixo risco pelas seguradoras, pagando valores menores que os homens”, completa Fernandes.
As empresas estão atentas a esse público, que tem demonstrado ser fiel, mais exigente na busca por novas abordagens, criando iniciativas inovadoras que permitam, cada vez mais, a inserção das mulheres nesse universo.
“A segurança é uma prioridade para elas e fator fundamental para a boa convivência entre todos os agentes do trânsito. Ela deve ser uma meta perseguida por todos os condutores, independentemente do gênero”, finaliza Fernandes.