A inteligência artificial (IA) está cada vez mais presente no dia a dia das pessoas e com o setor de transportes não é diferente. “Essas ferramentas possuem uma capacidade imensa de combinar e processar dados que permitem identificar comportamentos, prever e antecipar tendências e ações”, explica Sergio Avelleda, coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq. Futuro de Cidades do Insper.
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“O Bilhete Único, por exemplo, coleta, diariamente, milhões de dados sobre os perfis de viagens, horários, destinos, embarques e desembarques que, processados, resultam em uma ferramenta para o ajuste das rotas de ônibus conforme a demanda. E permite, portanto, desenhar de forma mais eficiente esses trajetos, atender melhor a população e poupar recursos — e não oferecendo viagens que não serão cumpridas”, acrescenta.
Além da identificação dos ônibus por GPS, que permite saber exatamente onde está o veículo, evitando que as pessoas percam tempo no ponto de ônibus, a IA pode entender também como os deslocamentos e os engarrafamentos se formam e começar a atuar preventivamente no planejamento do tráfego — inclusive para evitar sinistros.
“O cruzamento com os dados de câmeras podem apontar onde estão os maiores riscos de colisões ou atropelamentos para que as autoridades reduzam as velocidades ou redesenhem as faixas nesses locais”, observa.
Além disso, em radares avalia o comportamento do usuário dentro do carro, principalmente se está usando o celular, a a terceira maior causa de sinistros, de acordo com e acordo com a Associação Brasileira de Medicina no Tráfeo (Abramet).
“Esses recursos devem ser eficientes para aplicação de multas, e também para se tornarem um ponto de controle e gestão do tráfego”, diz. Outro aspecto positivo do uso da IA são os ônibus com sensores que “conversam” com semáforos e reduzem o tempo dos veículos parados.
Também já fazem parte da realidade das cidades ferramentas que estimam a chegada dos trens na estação, saber quais vagões mais vazios ou acompanhar o trajeto de passageiros pelo monitoramento das câmeras — como nas estações de trens da CPTM e Metrô, e no BRT de Sorocaba, onde a jornada dos usuários é acompanhada em tempo real.
No entanto, para Avelleda é possível aliar a tecnologia para oferecer uma personalização do serviço de transporte. Uma das ideias é que, a partir do momento em que a pessoa chega ao ponto de ônibus ou entra na estação de metrô, o sistema já “aprende” e identifica, por meio do celular, qual o destino realizado todos os dias, para oferecer o status do destino e as notícias preferidas durante esses deslocamentos.
“Hoje, já temos uma capacidade de transformar um serviço de massa, o transporte público, em algo personalizado, muito mais sedutor, melhorando a experiência do usuário significativamente”, revela. Mas, para ele, pode-se ir muito além, customizando o serviço para entender determinados nichos, inclusive com veículos menores — que concorram com os carros e não com o transporte público.
“Por que não identificar quem sai da região dos Jardins para a Berrini e oferecer vans, talvez por um sistema de aplicativo público com preço mais elevado, tirando carros das ruas?”, sugere Avelleda.
Outra aplicação da IA é cruzar dados do sistema com os da iluminação para que a Prefeitura priorize esse serviço ao redor dos pontos de ônibus. “Também já temos semáforos inteligentes, mas precisamos acelerar a inteligência principalmente para melhorar a segurança viária”, finaliza.
Desde maio do ano passado, o Grupo MobiBrasil já utiliza a plataforma Optibus, movida por inteligência artificial e algoritmos de otimização, em suas operações de ônibus no Recife e em São Paulo para a programação e planejamento das rotas.
A ferramenta permite maior agilidade na criação de quadros de horários, escalas de motoristas e cobradores e os serviços de ônibus, melhorando a gestão de alocação de veículos e tripulação, conforme as particularidades dos bairros, linhas e horários. “Conseguimos reduzir a ociosidade dos veículos e horas-extras”, diz Emerson Santos, gerente de planejamento da MobiBrasil, unidade da zona sul da capital paulista
Agora, em projeto em parceria com o app CittaMobi, a empresa deve aprimorar novas informações para melhorar as manutenções dos veículos, tanto as preventivas quanto as corretivas. “Vamos atrelar esses dados para evitar falhas no processo, prevendo possíveis quebras em todos os itinerários, destinando melhor os recursos, cumprindo as viagens corretamente”, explica o gerente de planejamento.
Outro exemplo vem da Empresa 1, pioneira do sistema de bilhetagem digital para transporte público no Brasil, e foi implementado em Florianópolis (SC). A companhia atualizou o aplicativo Floripa no Ponto com novas funcionalidades, como informar se os ônibus estão cheios, dar alternativas de rotas, previsão de chegada e outras em tempo real.
A ferramenta faz parte de uma nova versão do Sistema de Informação ao Usuário (Si.GO) uma plataforma digital de experiência do passageiro. “Essa é uma forma de estabelecer um sistema de transporte coletivo mais atrativo e sustentável”, diz Marcionilio Sobrinho, CGO da Empresa 1.
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