Em geral, a implementação da mobilidade elétrica é defendida pelos especialistas para locais com alta densidade demográfica, nos quais a concentração de veículos a combustão acaba gerando altos índices de emissão de CO2 e causando, principalmente, problemas de saúde para a população.
Ainda que, no Brasil, as grandes capitais, como São Paulo e Porto Alegre, estejam no processo de estudos ou implementação de ações pontuais para viabilizar a infraestrutura para a eletromobilidade, pequenas cidades começam a aderir ao conceito por motivos e meios diferentes. Conheça, a seguir, alguns exemplos.
Araçatuba, localizada no noroeste do Estado de São Paulo, a 520 quilômetros da capital paulista, tem cerca de 200 mil habitantes. Sua frota circulante é bastante alta, em relação à população – um pouco mais de 170 mil veículos. Até aí, ela tem várias características similares a outras grandes cidades do interior paulista. A surpresa acontece, porém, logo à entrada da cidade, na avenida principal: um eletroposto que chama a atenção.
Fruto da iniciativa privada do empresário da área de energia fotovoltaica Cláudio Desordi Junior, o carregador de 7,4 kW é para uso gratuito do público e fornece cerca de 60 recargas por mês. “Aqui, deve haver, no máximo, cerca de dez carros elétricos.
A logística de viajar, principalmente para São Paulo, é muito complexa”, informa Desordi, ele mesmo proprietário e entusiasta de veículos elétricos. Questionado quanto ao custo/benefício do investimento, o empresário diz que acredita na tecnologia e que ainda pretende colocar um carregador mais potente, no futuro.
O Arquipélago de Fernando de Noronha, considerado Patrimônio Natural da Humanidade, pela Unesco, definiu, por meio da Lei Estadual nº 16.810/20, o dia 12 de agosto de 2023 como a data limite para a entrada na ilha de qualquer veículo (moto, carro, ônibus e caminhão) movido a combustão interna. A restrição de circulação e a permanência definitiva de veículos alimentados a álcool, gasolina ou diesel acontece a partir de 10 de agosto de 2030.
Desde março deste ano, ações para a viabilização do projeto Trilha Verde, desenvolvido pela Neoenergia, por meio do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da agência reguladora Aneel, já estão em andamento.
Atualmente, o projeto utiliza 16 veículos elétricos nas principais atividades econômicas do local, como turismo, administração distrital e a própria operação da Neoenergia. Ele contempla também a construção de duas plantas solare, no arquipélago, que fornecerão a energia para a recarga dos veículos. Uma delas já está em funcionamento.
A outra tem previsão de implantação no segundo semestre deste ano. As plantas possuem sistema de armazenamento por baterias. Para complementar a infraestrutura, 12 eletropostos serão instalados em pontos estratégicos e disponibilizados a todos os carros da ilha. Serão oito pontos, com potência de 22 kW, que possibilitam recarga mais rápida, e outros dois, com potência de 7,4 kW, para mais lenta. As duas últimas unidades terão suporte a V2G (vehicle to grid), no qual o veículo pode utilizar a estação de carregamento ou para “devolver” a energia não utilizada à rede.
“As informações coletadas serão submetidas a avaliações de viabilidade dos modelos de negócios e, depois, será feito um mapa para orientar futuras ações relacionadas à mobilidade elétrica, em Fernando de Noronha”, afirma José Antônio Brito, gerente de pesquisa e desenvolvimento da Neoenergia.
A estância turística de Poços de Caldas (MG), com cerca de 170 mil habitantes, tem, desde novembro de 2021, dois eletropostos em funcionamento. Um deles localiza-se no centro, perto da antiga ferroviária. O outro, um ponto de recarga semirrápida, no campus da PUC Minas.
Ambos fazem parte do projeto Poços + Inteligente, fruto do P&D Aneel, e contam com a parceria que envolve a DME Energética (autarquia local), a prefeitura da cidade, a PUC-Minas e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas. Mesmo com a recarga gratuita, os eletropostos registraram, até junho deste ano, pouco mais de 220 carregamentos, representando potência total consumida de 2945,99 kW.
Outra iniciativa interessante do Poços+ Inteligente é a substituição das tradicionais charretes puxadas a tração animal por carruagens elétricas – que devem começar a circular a partir de outubro deste ano. As equipes empenhadas na modernização das carruagens, além do desenvolvimento do veículo, estão desenvolvendo a parte de software e hardware do produto. Quando estiverem em uso, as carruagens serão recarregadas nos eletropostos de Poços de Caldas.
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Temos que acordar urgente para a realidade, e aproveitar a tecnologia e as ações dos empreendedores voltados a sustentabilidade energética, pela viabilidade e por questão de sobrevivência, vide a guerra da Ucrânia, que precipitou a necessidade da não dependência dos combustiveis fósseis, se valendo da energia que nos é oferecida gratuitamente pela natureza. Parabéns a todos os envolvidos.
Lauro Raphael Dutra, ITAJAÍ, SC