Conheça benefícios e riscos de pedalar na Ciclovia Rio Pinheiros

Marcos de Oliveira (à esquerda) e família preferem pedalar na segurança das ciclovias e ciclofaixas. Foto: Rogério Viduedo

22/03/2023 - Tempo de leitura: 5 minutos, 11 segundos

As excelentes condições de topografia, infraestrutura e segurança pública tornaram a Ciclovia Rio Pinheiros o local mais procurado por atletas do ciclismo de estrada da Grande São Paulo. O fato de usarem os 22,5 quilômetros de pista entre as estações Jaguaré e Miguel Yunes, da Via Mobilidade, para treinar, sozinhos ou em grupos de até seis ciclistas, alcançando velocidades acima de 40 quilômetros por hora, em local onde o limite é de 20, todavia, tem provocado conflitos e até colisões com quem apenas usa o local para se locomover pela cidade.

“É um clima de total terror”, desabafa Claudio Franken, em mensagem enviada ao Mobilidade Estadão. “Esses grupos colocam em risco aqueles que estão pedalando na ciclovia. Aos berros e xingamentos, expulsam os que estão, eventualmente, na frente”, reclama. A situação vivenciada pelo leitor é comum, principalmente, aos finais de semana, quando as pessoas se dirigem ao local a passeio e, por vezes, desconhecem a dinâmica do lugar.

Por volta das 10 da manhã do domingo dia 5 de março, não era preciso esperar muito tempo para presenciar o problema. Na transição da passarela da Ponte Cidade Universitária para a ciclovia, ao lado do estande de café e dos sanitários, três ciclistas começavam a ingressar na pista à direita, ocupando, por um breve momento, toda a faixa no sentido sul.

Subitamente, um desses atletas amadores, sem diminuir a velocidade, gritou: “Esquerda, esquerda!”, e, para evitar a colisão, fez uma manobra arriscada. Ele travou a roda traseira com o freio, fazendo a bike serpentear para a direita e esquerda, evitando o choque. Mesmo assim, chegou a invadir a contramão, colocando em risco, ao mesmo tempo, outro grupo de ciclistas que parou com a intenção de cruzar a pista para acessar a passarela de saída. Por sorte, nada de grave aconteceu.

Nas manhãs de domingo vários ciclistas utilizam a Ciclovia Rio Pinheiros. Foto: Rogério Viduedo

Usuário da Ciclovia Rio Pinheiros há mais de dez anos, o analista de sistemas, Paulo Bonfá, pedala lá regularmente para treinar e para passear com sua filha Laís, de 2 anos de idade. “Nunca tive problemas com ela na garupa. Só que eu procuro vir quando não há pelotões”, diz, se referindo às equipes de ciclismo cujos treinos, em fins de semana e feriados, são proibidos entre 9h30 e 16h

Quando quer treinar forte, ele procura chegar ao local às 6 da manhã e aproveitar as pistas vazias. “Agora, nesse horário, o pessoal poderia pegar mais leve e respeitar crianças e idosos, pois é domingo”, ensina Paulo Bonfá.

Paulo Bonfá, com a filha Laís, sugere que atletas respeitem idosos e crianças. Foto: Rogério Viduedo

Já o assistente de coordenação escolar Marcos de Oliveira que, naquela manhã, estava com a família na ciclovia da Avenida Professor Fonseca Rodrigues, diz que já usou a Ciclovia Rio Pinheiros em outras épocas, mas não volta lá tão cedo por medo dos velocistas.

Ele prefere fazer os passeios usando a rede cicloviária da cidade e a Ciclofaixa de Lazer. “A gente veio lá de Santana até aqui, no Parque Villa Lobos, com calma e em segurança. Lá, na Marginal, não vou, pois parece que somos intrusos”, alerta.

Lista de atenção

Desde que a Farah Service recebeu a concessão para administrar a ciclovia em 2020, o número de pessoas que pedalam para se locomover, passear ou treinar saltou de 17 mil para quase 200 mil acessos mensais, podendo ultrapassar 300 mil pessoas caso seja somado o público da ciclovia do Parque Bruno Covas, na outra margem – informa o administrador Michel Farah.

Ele diz que acontece uma colisão a cada três dias e notou também o aumento nas reclamações. Para enfrentar o problema, Farah explica que o monitoramento é constante, inclusive por câmeras. E toda vez que  alguém é identificado colocando outros ciclistas em risco os funcionários se aproximam para fazer conscientizar o usuário, mas só quando o ciclista está parado.

“Nossa política é de não abordar ninguém no ato. A pessoa pode estar correndo de fone de ouvido ou distraída e pode cair. Por isso, a gente espera que ela pare e, assim, conversamos”, diz Farah.

Por causa de reincidências, há até uma lista de atenção. “Uma vez, vimos um ciclista chutando outro. Conversamos com ele, mas não posso proibi-lo de entrar, pois é uma via pública. Quando ele vem, mantemos observação constante. É o máximo que vamos fazer”, explica.

Sem local de treino

Daniel Guth, diretor da Aliança Bike, entende que o problema dos conflitos na Ciclovia Rio Pinheiros só será resolvido quando a cidade tiver política pública para a prática do ciclismo de competição, como o que acontece, desde 2013, no Rio de Janeiro (RJ). Lá, o trânsito é fechado, regularmente, em algumas ruas e avenidas, para que os atletas treinem em segurança.

Já aqui, em São Paulo, Guth afirma que foi apresentado a Ricardo Teixeira, secretário municipal de Mobilidade e Trânsito, um projeto piloto para implantar uma área de proteção ao ciclismo de competição no Sambódromo do Anhembi, mas o assunto não evoluiu. “Infelizmente, o retorno foi de que não haveria dinheiro para isso”, lamenta. 

Ciclofaixa é mais tranquila para iniciantes

Para iniciantes, Ibirapuera não é boa opção aos domingos, diz ativista. Foto: Rogério Viduedo

Thomas Wang, do Bike Zona Sul, recomenda que pessoas menos experientes ou crianças pequenas evitem pedalar nos grandes parques aos finais de semana. Ele diz que as ciclofaixas de lazer são mais largas e seguras, assim como o Parque Bruno Covas e, no período da tarde, a Ciclovia Rio Pinheiros. “São locais mais tranquilos do que o Parque Ibirapuera, que, aos domingos, fica bem cheio e sempre podem acontecer paradas repentinas que geram trombadas”, alerta. Outra dica é assistir ao vídeo Convivendo na Ciclo, no YouTube, que tem recomendações de ciclistas experientes para um deslocamento seguro.

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