“Quando a gente fala em trânsito e saúde, sempre pensa em acidente, mas a poluição gerada por veículos consome a saúde de quem vive nas grandes cidades.” A afirmação é de Flavio Adura, diretor científico da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).
De acordo com ele, as emissões de poluentes resultam no crescimento do número de atendimento em prontos-socorros e internações hospitalares. Professor aposentado em medicina preventiva da Escola Paulista de Medicina, Adura informa que, além de gases nocivos, como monóxido de carbono (CO) e óxidos de nitrogênio (NOx), há o perigo do material particulado, como poeira, fumaça e até pó de borracha de pneus em suspensão no ar. “São partículas muito finas, que passam pelas vias respiratórias e vão se alojar nos pulmões, causando quadros alérgicos, como asma, bronquite, insuficiência respiratória e até câncer de pulmão.”
O médico afirma que a poluição atmosférica por veículos aumenta a mortalidade por doenças cardiovasculares, como infarto e insuficiência cardíaca. “Ela agrava as enfermidades de portadores de cardiopatias, aumentando a frequência cardíaca, a pressão arterial, afeta a coagulação sanguínea e causa arritmias.” De acordo com o diretor da Abramet, os pedestres são os mais expostos.
O estudo “Global Burden of Disease”, publicado no The New England Journal of Medicine, concluiu que a poluição foi responsável por 9 milhões de mortes, no mundo, em 2019.
Em um trabalho divulgado em 2006, o médico Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP e chefe do Laboratório de Poluição Atmosférica da instituição, chegou à conclusão de que os habitantes de São Paulo tinham redução de cerca de um ano e meio na expectativa de vida.
Neste ano, o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) entrou em sua fase L7. Em relação à L6, os limites de óxidos de nitrogênio caíram pela metade, enquanto o material particulado teve de ser reduzido de 0,025 g/km para 0,006 g/km (veja gráfico).
Dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) mostram que, quando o programa foi criado, em 1986, a emissão média de monóxido de carbono de um veículo leve a gasolina era de 54 g/km. Atualmente, o limite é de 1 g/km.
No entanto, não há nenhum controle sobre a frota circulante. Com o fim do contrato entre a prefeitura de São Paulo e a Controlar, no final de 2013, a maior cidade do Brasil interrompeu o controle de emissões. De acordo com a Cetesb (baseada em dados de 2019), a região metropolitana da capital paulista concentra 11,5 milhões de veículos em circulação. Como mais de 6 milhões têm idade superior a dez anos, o órgão ambiental salienta que isso pode agravar problemas relacionados a emissões, devido ao fato de que são veículos que atendem a fases do Proconve já superadas há muito tempo e que, além disso, sofreram deterioração natural ao longo dos anos.