Por um trânsito mais seguro para todos

Redução de velocidade é uma das ações defendidas pelo programa Visão Zero. Foto: Getty Images
Daniella Saragiotto
02/09/2021 - Tempo de leitura: 3 minutos, 55 segundos

Conscientizar a sociedade sobre o respeito ao Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é fundamental para uma mobilidade mais segura e consciente. Nos últimos anos, entretanto, diversos países têm adotado um conceito que compartilha a responsabilidade dos acidentes e mortes no trânsito com planejadores urbanos e gestores públicos.

“A ideia de que só a imprudência dos motoristas é responsável pela tragédia que representa o trânsito é um limitador das ações que podem e devem ser tomadas para evitar mortos e feridos no trânsito”, diz Sérgio Avelleda, coordenador do núcleo de mobilidade urbana do Laboratório de Cidades Arq. Futuro, do Insper.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o trânsito é responsável por 1,35 milhão de óbitos por ano no mundo, sendo a principal causa de morte entre crianças e jovens com idades entre 5 e 29 anos. As estatísticas têm feito diversas cidades e países a adotarem uma metodologia chamada Visão Zero para reduzir acidentes fatais e feridos no trânsito.

Trata-se de um conceito de segurança viária que foi criado na Suécia, em 1997, e que prega que a responsabilidade pela segurança deve ser compartilhada. “O Visão Zero parte do princípio de que nenhuma morte prematura é aceitável. E leva em conta dois fatores fundamentais: as pessoas são passíveis de erro e são frágeis”, explica Avelleda.

Vidas em primeiro lugar

O Visão Zero coloca a preservação da vida como prioridade no planejamento dos transportes, da arquitetura das vias e demais fatores que possam contribuir para aumentar a mobilidade segura. De acordo com o programa, as pessoas podem cometer erros, mas o sistema viário não.

“Enquanto as políticas tradicionais focam, principalmente, no comportamento humano; o Visão Zero busca enxergar as principais causas dos problemas de insegurança viária, que se devem, principalmente, a desafios no desenho das vias e dos meios de transporte”, diz Avelleda.
A seguir, reunimos algumas das práticas mais comuns e que têm se mostrado efetivas na aplicação do programa em diversas localidades.

Velocidade: estabelecer limites adequados também é uma forma de educar os motoristas, e isso vale para rodovias e áreas urbanas. Na Suécia, país que, após a implementação do programa, alcançou uma das mais baixas taxas de mortalidade no mundo – 3 em cada 100 mil habitantes –, houve redução geral da velocidade, além de fortalecimento na fiscalização.

Desenho viário: a maneira como as vias são planejadas e construídas tem impacto direto na segurança. Lombadas, por exemplo, forçam a redução na velocidade e aumentam a segurança; separadores físicos nos sentidos das vias impedem colisões frontais, da mesma forma que diversas estruturas também criam espaços seguros para circulação de pedestres e ciclistas.

Rodovias: causa de grande número de acidentes nas estradas suecas, as colisões frontais foram quase eliminadas com cercas de separação de pistas a cada trecho de 1 a 3 quilômetros, uma solução simples e relativamente barata.

Mobilidade segura em seis atos

Em 2019 o WRI Ross Center for Sustainable Cities e o Banco Mundial desenvolveram uma série de medidas para promover um trânsito mais seguro e humano. O conceito das recomendações, elaborado após uma pesquisa global, é a adoção de uma abordagem sistêmica para a prevenção das mortes no trânsito.

Análises em 53 países feitas naquele ano mostraram que aqueles que adotaram uma abordagem com base nos chamados sistemas seguros alcançaram as taxas mais baixas de mortes por 100 mil habitantes e a maior redução nos níveis de fatalidade nos últimos 20 anos. Veja, a seguir, quais são essas recomendações.

  • Formalização de um pacto nacional pela segurança no trânsito, com a participação da União, dos Estados e dos municípios.
  • Engenharia de trânsito incorporando a metodologia do programa Visão Zero e tornando as vias mais seguras, levando em conta desenho, sinalização e redução de velocidade.
  • Dar prioridade ao transporte coletivo e à mobilidade ativa.Fiscalização constante para punir comportamentos imprudentes, por meio de radares e agentes de fiscalização.
  • Maior rigor na formação e no processo de habilitação dos motoristas.
  • Envolvimento de toda a sociedade na solução do problema, como Poder Público, indústria automobilística, imprensa e sociedade civil.

O trânsito é responsável por 1,35 milhão de óbitos por ano, no mundo. É a principal causa de morte entre crianças e jovens com idades de 5 a 29 anos

Fonte: OMS