No dia 29 de setembro, diversos representantes de entidades de trânsito brasileiras discutiram o conceito de ‘Rodovias que Perdoam’ em um webinar organizado pelo Observatório Nacional da Segurança Viária (ONSV), ação que teve apoio do Mobilidade Estadão. Pelo conceito, entende-se que as rodovias devam oferecer condições para que os envolvidos em acidentes de trânsito tenham maior possibilidade de sobrevivência, com menor sequela possível.
É importante reforçar, também, a importância da discussão desse tema com foco nas Metas Globais de Desempenho para a Segurança no Trânsito, que tem como objetivo reduzir radicalmente os acidentes com mortos e feridos até 2030.
Segundo Marcello da Costa, Secretário Nacional de Transportes Terrestres (SNTT), duas metas globais definidas têm orientado o trabalho da secretaria: até 2030, nossas vias devem adquirir padrões técnicos que considerem a segurança o trânsito, com novas rodovias nascendo no mínimo no padrão 3 estrelas em segurança no transito e até 2030 mais de 75% dos deslocamentos devem ser feitos em vias que atendam padrões técnicos de segurança no trânsito para todos os usuários, motoristas, pedestres, ciclistas e motociclistas.
“Essas metas estão no centro do nosso trabalho. O caminho que escolhemos é, primeiro, melhorar a qualidade pavimento e geometria das vias, considerando que estamos enfrentando um período de restrição de investimentos. E estamos adotando concessões de rodovias, que incorporam soluções de engenharia alinhadas com as principais diretrizes do trânsito seguro”, explica.
De acordo com Flavio Freitas, diretor superintendente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), é necessário o envolvimento de todos os envolvidos para que os índices de trânsito melhorem.
“Existem conceitos tecnológicos complexos envolvidos na engenharia segura, que têm sido aplicados, mas há existem comportamentos muito simples que temos que perseguir: não dirigir após ingerir álcool e usar cinto de segurança também no banco traseiro são alguns deles. Temos que ser resilientes e persistentes para conseguirmos as melhorias que nosso trânsito precisa”, diz Freitas.
Para Mário Escobar, presidente da Associação Brasileira de Segurança Viária (ABSEV), existem diversas soluções de baixo custo, já mapeadas e conhecidas, que podem ser adotadas.
Algumas delas: sinalização RIGO em curvas ou pontos críticos, placas ecológicas para placas de sinalização das vias – feitas com material reciclado e que absorvem o impacto em acidentes – dispositivos de segurança como defensas metálicas, cilindros delimitadores e até um exemplo vindo de Recife, a calçada viva, que libera espaço das vias para os pedestres no centro da cidade. “Todos eles reduziram os índices de acidentes e de trouxeram melhorias onde foram implementados”, afirma Escobar.
“O Programa BR-Legal 1, do DNIT, trouxe diversas dessas medidas para a melhorias nas rodovias, como instalação de defensas móveis e outras, além de sinalização horizontal e vertical. Estamos preparando melhorias no programa para implementação do BR-Legal 2, com início previsto para o próximo ano”, diz Fábio Nunes, coordenador-geral de modernização e gestão estratégica do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
De acordo com Nauber Nascimento, conselheiro da ANTT no Conselho Nacional de Trânsito (Contran) a mobilidade no mundo, inclusive no Brasil, foi moldada e estruturada no sentido de acompanhar o desenvolvimento dos veículos, em detrimento das vias. “O motorista, nesse sentido, ganha status de super herói, o que não é, e assume a responsabilidade de evitar acidentes de trânsito. E é esse pensamento equivocado que está nos levando a esses índices desastrosos no trânsito”, afirma.
Hoje, segundo Nascimento, um foco importante do esforço da ANTT é estudar os contratos de concessões de rodovias que estão sendo feitos e terão validade para os próximos 30 anos. “Isso envolve uma série de especialistas e são decisões muito importantes. Precisamos separar o que são tendências efetivas em segurança de trânsito do que é modismo”, explica Nascimento.
A necessidade de uma visão mais ampla tema, incluindo todos os envolvidos, também é mencionada por Silvio Médici, Presidente Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Trânsito (Abeetrans). “É uma das primeiras vezes que percebo que toda a sociedade está envolvida nessa questão, se comprometendo com um trânsito mais seguro. Essa mudança de cultura é fundamental e deve continuar”, diz Médici.
O pedestre, público mais frágil na cadeia da mobilidade, também merece um olhar cuidadoso. “Passarelas sem gradil na rodovia ou sem telas ofuscantes têm quatro vezes mais chances de acidentes que as tradicionais. A passarela tem obrigatoriamente que ter o gradil, senão as pessoas vão tentar atravessar”, diz Frederico Rodrigues, do Observatório Nacional da Segurança Viária (ONSV).
Para Riumar dos Santos, presidente da Associação Brasileira dos Departamentos Estaduais de Estradas de Rodagem (ABDER) os acidentes de trânsito são uma doença social. “E essa doença, acredito, já foi diagnosticada. Temos que dar prioridade ao trânsito, precisamos agir de forma integrada para sair das primeiras posições nos rankings de mortes e acidentes”, afirma.