Muitas vezes, não é o criador de uma grande novidade quem se torna mais conhecido por ela, mas quem a popularizou. O automóvel, por exemplo, foi criado por alemães, mas popularizado pelo industrial americano Henry Ford (1863–1947). É atribuída a ele a frase: ‘Você pode comprar um Ford modelo T em qualquer cor que desejar, desde que ele seja preto’.
O dizer célebre retrata uma realidade em extinção na criação de produtos, ameaçada pelo avanço da industrialização e da tecnologia.
Em lugar da imposição de produtos para o cliente, que se via obrigado a aceitar sem opções significativamente distintas, hoje a produção precisa ser pensada pelo ponto de vista da experiência do consumidor. E isso, muitas vezes, implica romper algumas barreiras entre diferentes indústrias.
Pode parecer óbvio, mas esse é um desafio que ainda afeta o setor automobilístico, sobretudo quando falamos de veículos voltados para a logística e o transporte de cargas, com grande necessidade de integração tecnológica.
Um exemplo dos benefícios dessa integração é a Tesla, empresa que, mesmo tendo começado a dar lucro apenas recentemente, se tornou, em junho deste ano, a montadora mais valiosa do mundo.
Com valor de mercado avaliado em US$ 185 bilhões, a empresa de Elon Musk vale mais que a soma de GM, Ford e FCA juntas.
O que a diferenciou, de fato, das demais, sua grande sacada, foi colocar rodas sob seu computador, não descobrir formas de colocar a tecnologia dentro dos automóveis.
Para as empresas de logística, esses avanços são muito relevantes. A conectividade maior nos caminhões ajuda, por exemplo, no planejamento estratégico de rotas, no aumento da produtividade e até mesmo na segurança, com mais rastreabilidade e proteção contra roubos e um monitoramento mais qualificado da viagem do caminhoneiro.
Outra possibilidade muito importante é a da obtenção de dados estratégicos durante as entregas, tornando possíveis análises aprofundadas sobre a performance da frota e o desenvolvimento de melhorias.
Pode parecer uma realidade distante, mas o fato é que já existem até alguns veículos autônomos sendo utilizados no Brasil. A Mercedes-Benz, por exemplo, opera caminhões com nível 2 de automatização em lavouras de cana-de-açúcar, nos quais o condutor só é demandado em casos extremos.
Para o avanço e a popularização desse tipo de tecnologia, que envolve questões jurídicas e até mesmo de infraestrutura (como conexão 5 G disponível nas estradas e zonas rurais), temos à frente o desafio da conscientização dos trabalhadores dessa área sobre sua disponibilidade e aplicações.
Muitas tecnologias que começaram a ser usadas amplamente na pandemia, como os aplicativos de busca de carga, já estavam disponíveis antes dela, e as empresas de logística apenas tomaram consciência da possibilidade de se apoderar delas em um momento propício.
Dessa forma, para que esse desenvolvimento ocorra, as indústrias (automobilística, de logística e de tecnologia) precisam estar em constante interação, tendo como objetivo comum produzir veículos que, cada vez mais, estejam aptos a utilizar tecnologia como seu principal diferencial.
Já temos, hoje, um cenário em que as pessoas começam a comprar veículos motivados pela experiência com a tecnologia embarcada, muito mais que pela constituição física do veículo propriamente dito.
E, se a saída mais rápida é inverter a lógica e colocar rodas sob computadores, precisamos de uma conversa urgente com todos esses atores, pois as estradas já, já estarão conectadas, autônomas, compartilhadas e elétricas.