Os congestionamentos nas grandes cidades, o alto preço do combustível e o crescimento dos serviços de entregas rápidas têm impulsionado o aumento das vendas de motos no Brasil. Hoje, elas representam mais de 23% dos 104 milhões de veículos registrados no Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) – contra 22% em 2018. O volume de vendas de moto de janeiro a setembro deste ano cresceu 14,7% em comparação com o mesmo período de 2018.
Esses números aumentam se forem contabilizadas ainda as motonetas, que se enquadram em categorias diferentes que as motocicletas e, por isso, contabilizadas separadamente nas estatísticas do Denatran.
São mais de 4,5 milhões (4,36% da frota total) de motonetas circulando pelas ruas brasileiras e menos de um ponto porcentual no comparativo com o ano anterior (4,3%). O total de carros ficou no mesmo patamar nos dois períodos (54% da frota).
Uma pesquisa da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) realizada em 2018 entre usuários de motos apontou que 89,2% dos condutores usam o veículo como meio de transporte diário. Destes, 38,5% trabalham como motofretistas
A economia – de tempo e de dinheiro – é a principal razão apontada pelos motociclistas. A manicure Cintia Ribeiro, 29 anos, que pilota moto há dez anos em Curitiba, já fez o comparativo. Para se deslocar num trajeto total de 20 quilômetros entre a casa e o trabalho, Cintia gasta R$ 15 por semana, em média, com a moto. Se o percurso fosse feito de carro, essa cifra subiria para R$ 100 ou para R$ 45 utilizando o transporte público.
Para Marcello Macedo, diretor geral da Blokton, maior rede de concessionárias de motos Honda do Paraná, com 17 lojas no estado, o mercado de motos no Brasil está voltando a crescer, depois de um longo período de queda nas vendas. De acordo com ele, é possível perceber o aumento na demanda em todas as categorias, mas principalmente entre as motocicletas de uso profissional.
Para o professor da Faculdade Getúlio Vargas (FGV) Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação, o crescimento na procura por motos e bicicletas está diretamente relacionado ao novo perfil de consumo da população, com o aumento do número de compras pela internet e serviços de delivery, que demandam o uso muito intensivo de bicicletas e motos por questões de agilidade e logística.
Segundo Myriam Tschiptschin, head de Smart Cities do Centro de Tecnologias e Edificações (CTE) e coordenadora do curso de Smart Cites do Instituto Europeo di Design (IED-SP), do ponto de vista de qualidade ambiental e de mobilidade urbana, a moto possui a vantagem de ocupar menos espaço público do que o carro, que tem tamanho superdimensionado em relação ao que transporta.
Por outro lado, Myrian salienta que é justamente essa característica que evidencia o lado negativo da moto: deixa o motociclista mais suscetível a acidentes. Ela destaca que a falta de infraestrutura adequada, de regulação, fiscalização e de educação de trânsito resulta em números alarmantes de motociclistas acidentados e mortos na cidade.