Antes considerado uma tecnologia inatingível, o chamado carro voador pode estar mais próximo de fazer parte da transição energética do que se imagina. Muitas empresas já estão desenvolvendo projetos do chamado eVTOl, sigla em inglês para aeronave elétrica de decolagem e pouso verticais.
Uma empresa 100% nacional está com seus estudos bastante adiantados. Trata-se da startup de mobilidade urbana Vertical Connect, com sede em Fortaleza (CE). Segundo Marco Berzaghi, líder da área de operações, em três anos o Gênesis, carro voador da Vertical Connect, terá condições de entrar em operações homologado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
“Em dezembro, daremos entrada no plano de certificação do Gênesis, um documento que explica exatamente como é a aeronave”, diz Berzaghi. “Se conseguirmos cumprir todos os passos determinados, caminharemos ao lado da Anac, que terá os subsídios para aprovar o projeto.”
A história do Gênesis começou em 2021, quando Berzaghi participou de um seminário ligado à aviação, com a participação da Anac e de companhias aéreas. Com larga experiência em manutenção aeronáutica e aviação de caça, ele se interessou no tema eVTOl. “Na hora, pensei: ‘vou ter de aprender aviação de novo’. Era muita novidade”, relembra.
Berzaghi se encantou com o veículo capaz de decolar e pousar na vertical e movido por motores elétricos. “Conheci o projeto de carro voador da empresa alemã Lilium e percebi que era possível criar um eVTOl genuinamente nacional”, revela.
Ele começou, então, a formar um time de engenheiros aeronáuticos, que trabalhariam a partir de três pontos de referência: criariam uma aeronave do tipo drone, experimental e que seja tripulada. Um carro voador tripulado, porém, ainda esbarra na legislação.
Mas o executivo mostra otimismo nessa questão: “A legislação que permite a operação de drones existe. Ela só precisa ser aperfeiçoada para permitir eVTOl com passageiros”, alega.
Berzaghi conta que, em outubro, o Departamento de Aviação Civil da China certificou a empresa EHang para iniciar os testes com o modelo EH216, configurado para dois passageiros. “Essa decisão é um alento para que aconteça o mesmo no Brasil”, afirma.
Sendo assim, enquanto a barreira legal não é resolvida, a Vertical Connect segue seu trabalho. Embora os colaboradores estejam espalhados em São José dos Campos, Piracicaba e São Carlos, cidades do interior de São Paulo que guardam relação com a engenharia aeronáutica, a produção do Gênesis acontecerá em Fortaleza, que receberá um campus do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
De acordo com Berzaghi, o famoso instituto de ensino, sediado em São José dos Campos, será um valioso provedor de mão de obra altamente qualificada.
“Além disso, em outubro, a Vertical Connect e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) assinaram um memorando de entendimento visando o desenvolvimento da aviação comercial e executiva no Estado”, ressalta.
A parceria resultará em formação de novos profissionais da área, capacitação, desenvolvimento e realização de pesquisas de projetos aeronáuticos. O IFCE ficará responsável por criar softwares voltados para os carros voadores concebidos pela Vertical Connect.
O desenvolvimento do Gênesis está prestes a entrar na etapa do mock-up – os moldes que simularão o veículo real. A Vertical Connect planeja duas versões de seu carro voador. A primeira, chamada de Gênesis X1, se destinará ao deslocamento urbano de pessoas.
Com 5 metros de comprimento, 4,80 de largura e 1,40 de altura, ele poderá levar dois passageiros a uma velocidade máxima de 130 km/h e com 60 minutos de autonomia de voo. A bateria de íon de lítio fornece energia para oito motores elétricos.
Com especificações técnicas praticamente iguais às do X1, o Gênesis GL-X irá operar em atividades logísticas, agrícolas e de policiamento. Nos dois casos, o peso máximo de decolagem é de 560 kg.
A instalação da linha de montagem em Fortaleza e outros gastos exigirão investimento de cerca de R$ 10 milhões. “Já temos o apoio do governo do Ceará e do Banco do Nordeste do Brasil”, revela Berzaghi. “Agora, a Vertical Connect trabalha na captação de investidores e vem conversando com empresas de soluções de recarga.”
Não será nada barato se locomover pelos ares. Berzaghi reforça a importância dos recursos para a construção do Gênesis. “O custo de produção deverá ser de aproximadamente R$ 1,5 milhão. Dessa forma, ela entraria no mercado com um preço de venda de R$ 1,8 milhão e R$ 2 milhões”, calcula.
A Eve, subsidiária da Embraer, está construindo um carro voador e já faz projeções a médio prazo. Ela espera atender quase 13 milhões de passageiros até 2035, iniciando suas operações a partir de 2026 nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. O veículo será fabricado em Taubaté. A Eve divulgou outros números. Ela acredita que, em São Paulo, de 50 a 70 carros voadores estarão em atividade em 2026, frota que saltará para 450 em 2035.
As montadoras também investem em EVTOls. Em outubro, a Subaru apresentou o modelo batizado de Air Mobility. Segundo a marca japonesa, “as tecnologias de eletrificação e automação estão avançando, com crescente expectativa de uma nova mobilidade aérea, que provocará uma revolução.
Os engenheiros das divisões aeroespacial e automotiva da Subaru estão trabalhando conjuntamente em testes de demonstrações de voo, a fim de tornar o veículo viável o mais rápido possível.