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Com milhões de pessoas permanecendo em casa pelo máximo de tempo possível, a demanda pelo transporte público diminuiu. O Metrô de Madri, por exemplo, relatou uma queda de 90% no número de passageiros. No Brasil, um levantamento realizado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) no final de abril revelou uma quantidade de usuários 80% menor.
Por outro lado, a frota diminuiu apenas 25%, o que leva a uma conta difícil de fechar: há muito menos receita, mas os custos não diminuíram na mesma proporção. Essa fórmula traz o questionamento de como será o futuro dos metrôs e ônibus — dos transportes públicos, em geral — depois que o isolamento social terminar.
Como é possível comprovar que a mobilidade caiu na quarentena?
A presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (AEAMESP), Sílvia Cristina Garcia, fez um diagnóstico certeiro: “Sobre como serão os transportes no futuro pós-pandêmico, um ponto parece certo, porque já era certo antes da pandemia: o transporte público urbano no Brasil não poderá depender mais apenas da tarifa para existir”.
André Garcia, advogado especialista em segurança viária, também acredita que a tarifa do transporte público precisa ser repensada após o fim da quarentena.
Ele também argumenta que o saldo dessa conta não pode ser repassado para os usuários: “A tendência já existente de déficit de passageiros deve continuar. Então, o subsídio deve ser aumentado, já que não se deve cogitar o aumento na tarifa para o cidadão que já está prejudicado economicamente devido à pandemia”, pondera o advogado.
O arquiteto e urbanista Evandro Augusto teme um aumento no uso de veículos particulares e cita como exemplo a cidade de Wuhan. Lá, apenas 34% dos passageiros que utilizavam o transporte coletivo voltaram a usar após o fim da quarentena enquanto o uso de automóveis dobrou.
Evandro ainda aponta que o uso maior dos automóveis pode representar até mesmo um agravante na situação de pandemia, considerando que estudos já sugeriram uma relação entre má qualidade do ar e mortes pela covid-19.
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Pesquisadores de Harvard descobriram que o aumento das partículas de poluição de somente uma micrograma por metro cúbico de ar aumentaria as chances de morte em 15%. De forma sucinta: poluição e coronavírus é uma combinação perigosa”, explicaram os especialistas.
Além disso, essa nova preferência pelos carros particulares pode colocar a perder os esforços realizados ao longo dos últimos anos para incentivar as pessoas a usar mais o transporte público.
Sílvia Cristina entende a necessidade do setor de transporte coletivo de investir em estruturas de higienização e segurança para que os passageiros se sintam impelidos a usar o transporte público.
A presidente, inclusive, aponta esforços que já foram implementados: “Os operadores estão se preocupando mais com a higienização dos veículos e das áreas de uso dos passageiros”. Além disso, cita as experiências com aparelhos que emitem raios ultravioletas e podem eliminar 100% dos vírus em um curto espaço de tempo.
Outras medidas são sugeridas pelos especialistas, como disponibilizar álcool em gel próximo às catracas e adotar sistemas de bilhetagem eletrônica (sem dinheiro físico) para diminuir as chances de contágio.
A melhor ideia, segundo Evandro Augusto, é a de resolver tudo pelo celular, assim não seria necessário utilizar nem os aparelhos de recarga de cartões disponibilizados em algumas cidades brasileiras. “A solução não é tão inovadora. Existem muitos países que já implantaram esse sistema há alguns anos”, argumenta o arquiteto.
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Mesmo com grandes desafios para a retomada da normalidade, Evandro acredita que o futuro do setor pode ser positivo: “A pandemia é sem dúvida algo terrível, mas força as empresas privadas e o setor público a repensar e a otimizar sua operação, assim como a voltar mais eficiente”.
Fonte: WRI Brasil; Sílvia Cristina Garcia, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (AEAMESP); André Garcia, advogado especialista em segurança viária; Evandro Augusto, arquiteto e urbanista.
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