Pilotos com larga experiência no automobilismo mundial se reuniram na última-terça (28 de maio) no Summit Mobilidade 2024 para debater como as inovações que surgem nos carros de corrida são aplicadas em veículos de rua. Os esportistas também apontaram quais são os possíveis futuros da mobilidade urbana com base em suas experiências.
Lucas Di Grassi, um dos participantes, é campeão mundial de Fórmula E, categoria de corrida que usa carros elétricos de alta performance e existe desde 2014. O painelista sintetizou o cenário em sua fala dizendo que “os carros de corrida são um laboratório de desenvolvimento de tecnologia para as ruas”.
Ao mesmo tempo, o piloto também aponta para o futuro ao afirmar que “as baterias dos carros elétricos vão avançar de forma muito rápida nos próximos 10 anos, estamos longe do potencial teórico”.
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Di Grassi cita o papel que as corridas têm em modernizar os veículos de rua. De acordo com o piloto: “freio a disco e itens básicos, como o espelho retrovisor e o cinto de segurança, começaram no automobilismo e depois foram transferidos para as ruas”.
Nicolas Costa, piloto da McLaren no Mundial de Endurance, concorda e acrescenta “em cada corrida se desenvolve alguma ideia nova ou tecnologia que vai auxiliar não só o meu trabalho como piloto”. O esportista destaca que as ferramentas que hoje aumentam sua performance nas pistas podem, no futuro, ir para as ruas.
Em seguida, Christian Fittipaldi, ex-piloto de Fórmula 1 e o participante mais experiente do painel, relembrou como funcionavam os veículos de sua época. “Quando eu comecei a correr, praticamente tudo era mecânico”. Para o piloto, a principal contribuição da Fórmula 1 para os carros comuns foi o avanço na eletrônica.
“Hoje em dia um carro de Fórmula 1 moderno precisa ter quatro ou cinco engenheiros com laptop do lado do carro para funcionar. Se não tiver, praticamente não liga. Isso é muito diferente da minha época”
Christian Fittipaldi
Em sua fala, Fittipaldi disse que “a informação disponível no painel dos os carros de hoje, comparado com 30 ou 40 anos atrás, é muito maior”. Segundo o ele, a eletrônica que surgiu para as corridas permitiu que esses componentes fossem acessíveis em veículos de passeio.
Por fim, Nicolas Costa demonstra também o papel do automobilismo na segurança dos carros de passeio. “A eletrônica ajuda a usufruir de toda a performance que foi criada nos últimos anos de forma segura”, ele afirma.
Em 2012, Lucas Di Grassi deixou a Fórmula 1 e se juntou a uma equipe da Fiat para desenvolver o primeiro campeonato de carros elétricos. A estrela do automobilismo afirma que essa decisão focava no futuro da mobilidade “há 12 anos, ao falar de carro elétrico, você era taxado como louco ou visionário”.
Antes dos carros elétricos se tornarem realidade nas cidades, esses passaram por testes em pistas de corridas. “Quando começamos a Fórmula E, pouca gente acreditava que seria possível fazer carros elétricos de corrida e que o mundo caminharia cada vez mais para a eletrificação da mobilidade”, reflete Di Grassi.
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A primeira corrida de Fórmula E ocorreu em 2014, na China. De lá pra cá, a eletrificação de veículos e a capacidade das baterias de carros deu um grande salto. Di Grassi relembra que “no início, tínhamos dois carros, o carro A e carro B. No pitstop trocávamos de carro porque a bateria não tinha capacidade de aguentar a corrida inteira”.
Por fim, sobre os avanços em eletrificação e a aplicação nos veículos de rua, Di Grassi exemplifica: “os carros de Fórmula E tinham apenas 300 cavalos. Hoje em dia a potência praticamente triplicou e autonomia duplicou. Esse desenvolvimento caminha lado a lado com o com as tecnologias para veículos comerciais”.
Lucas Di Grassi, piloto de carros elétricos esportivos, entende que nosso País tem um papel crucial na transição energética de automóveis. De acordo com ele, o Brasil está na dianteira quando o assunto é baixar as emissões: “O que escolhermos, etanol, híbrido, elétrico… Já estamos à frente dos países europeus com uma quantidade menor de carbono emitido por quilômetro rodado”.
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De acordo com o piloto, “o Brasil que está bem posicionado com o uso de hidroelétricas, energia solar e eólica”. Enquanto isso, a Europa e os Estados Unidos ainda sofrem para encontrar formas de energia sustentáveis que possam abastecer as baterias dos carros. “A Europa precisa primeiro resolver o problema de matriz energética, para depois colocar essa energia no veículo e rodar de forma coerente”.
“Produzimos nosso etanol em um preço competitivo e temos uma matriz energética 80% renovável, isso é o que a Alemanha quer ser em 2050. Somos o único país continental com uma matriz energética tão limpa”
Lucas Di Grassi
As dificuldades no Brasil, segundo o especialista, estão na falta de infraestrutura no País, como postos de carregamento. No entanto, o uso de etanol ainda nos daria vantagem nesse cenário. “A infraestrutura de recarga ainda está atrasada, mas podemos passar por essa transição usando etanol e veículos híbridos com uma pegada de carbono menor que Europa e EUA”.
Por fim, para tornar a eletrificação realidade no Brasil e manter a posição de destaque do País, Di Grassi afirma que precisamos contar com ações do Governo. “Precisamos de políticas públicas pró regulamentação e pró tecnologia para não ficarmos para trás”.
Di Grassi ainda argumenta que o carro elétrico tende a ser mais vantajoso economicamente no futuro. “A eletrificação só está acontecendo agora porque estamos em uma convergência de tecnologias que estão deixando o carro elétrico mais competitivo. Ou seja, com um custo total de operação mais econômico que um veículo de combustão”.
De acordo com o piloto, o principal gargalo que ainda impede o carro elétrico de decolar é a bateria. Sobre os motores nesses veículos, ele enfatiza “a eficiência energética do motor elétrico nunca poderá ser alcançada por um motor a combustão, por conta dos processos físicos deste”.