Efeitos de mudanças climáticas também afetam a mobilidade urbana, afirma especialista

Principais mudanças devem buscar amenizar os impactos das alterações climáticas. Foto: Sabrina Ferreira

20/12/2023 - Tempo de leitura: 3 minutos, 20 segundos

Em 2023, o planeta Terra atingiu níveis recorde de variações climáticas. De acordo com a versão provisória do Estado Global do Clima 2023, este foi o ano mais quente em 174 anos.

O documento produzido pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) considera até outubro deste ano e demonstra que a temperatura média da superfície global ficou 1,4°C acima da média de 1850/1900. Esse número é maior do que o registrado em 2016 e 2020, os mais quentes até então.

Para o professor Roberto Marx, os efeitos de mudanças climáticas também afetam a qualidade do transporte das pessoas. “No sentido de reduzir os possíveis efeitos cada vez maiores do aquecimento global”, explica.

Marx é professor no Departamento de Engenharia de Produção da Universidade de São Paulo (USP) e também coordena o Laboratório de Estratégias Integradas da Indústria da Mobilidade (Mobilab).

Nova legislação e valorização do transporte público

Segundo o professor, o principal impacto na mobilidade está na prevenção de um agravamento da crise climática. Em países como o Brasil, essa intenção já está levando à criação de legislação específica para amenizar os efeitos de mudanças climáticas.

Desde 2008, por exemplo, o Projeto de Lei 1609/07 propõe a substituição de combustíveis fósseis por outros de fonte renovável. A proposta estipulava uma proporção de 40% nos dois primeiros anos de vigência da lei, com o objetivo de anular completamente a inserção de veículos poluentes em pelo menos 10 anos.

“Por exemplo, em São Paulo, existe uma regra que nenhum ônibus novo poderá ter como combustível o diesel”, afirma Marx. Desde outubro de 2022, a SPTrans, gestora do sistema municipal de transporte, proíbe a inclusão de ônibus movidos a óleo diesel na cidade.

Para o professor, investir em transporte público através de políticas públicas que valorizem esse meio de transporte é a melhor alternativa para o Brasil. “A gente tem essa desigualdade de renda que é muito grande, então eu acho que, do ponto de vista de política pública, a gente precisa resolver a desigualdade social e de renda e, na mobilidade, o investimento é no transporte público”, explica.

Recentemente, a prefeitura de São Paulo aprovou o projeto de tarifa zero no ônibus aos domingos. Para Marx, essa proposta tem o potencial de impulsionar o uso de transporte público na cidade e, consequentemente, diminuir a emissão de gases poluentes ao menos nos domingos. A longo prazo, pode também incentivar novas políticas e medidas voltadas para o coletivo.

Avanço dos eletrificados

Com esse mesmo objetivo, as montadoras de veículos têm investido em veículos elétricos e híbridos. O avanço, entretanto, é lento. “[Pode demorar] pelo menos uns dez anos para vermos veículos elétricos mais presentes do que convencionais aqui no Brasil, principalmente por uma questão de renda”, afirma Marx.

Em relação aos carros particulares, o professor acredita que ainda seja um item restrito para pessoas de alta renda. “Além de estar associada a uma questão mais idealista”, comenta. Ao mesmo tempo, o transporte público tem implementado veículos elétricos em suas frotas.

Para o professor, o País ainda tem uma vantagem energética sobre os outros: o etanol. “Os veículos híbridos com motor [parcialmente] convencional, faz todo sentido ser movido a etanol, que emite menos gases”, explica. A inserção de veículos híbridos tem acontecido em paralelo com os eletrificados, possibilitando uma opção mais economicamente viável para a população.

De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), 10.601 novos veículos elétricos foram registrados em novembro, maior número até então. Em comparação com o mesmo mês em 2022, o número marca um crescimento de 112%. Ou seja, duplicou em um ano.