A queda do número de passageiros de ônibus preocupa empresas que atuam na área. Em outubro de 2013, em torno de 398,9 milhões de brasileiros usaram esse modal; no mesmo mês de 2023, o número registrado foi de 223 milhões de passageiros, percentual 44.1% menor.
Os dados são do Anuário da Associação Nacional das Empresas de Transporte (NTU), e foram divulgados nesta terça-feira (6/08), em coletiva de imprensa no LATBUS, evento que discute o futuro do setor no País.
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Diversos fatores estariam por trás da queda de público. No entanto, Francisco Christovam, diretor executivo da NTU, sintetiza que “se não oferecermos um serviço que casa com as necessidades e expectativas dos passageiros, ele vai migrar para a moto, carro de aplicativo ou carona solidária”.
A pandemia foi um baque para as empresas que têm concessão para operar ônibus nos municípios. Em abril de 2020, o número de usuários foi o mais baixo nos últimos 10 anos, apenas 92,4 milhões. No entanto, mesmo após a retirada das restrições da crise sanitária e volta da normalidade, o número de passageiros não voltou ao patamar anterior.
“A quantidade de viagens realizadas por passageiros pagantes caiu 1,9% no ano passado, na comparação com o ano de 2022, indicando que o ciclo de recuperação pós-pandemia está perdendo o fôlego”, de acordo com o Anuário da NTU.
Em comparação com o período antes da pandemia, o documento afirma que “a redução do número de passageiros transportados em 2023, em relação ao ano de 2019, é de 25,8%”.
Subsídio do governo podes ser a melhor forma de rever a queda no número dos passageiros de ônibus. Essa foi a conclusão que especialistas do setor apontaram durante a coletiva de imprensa no LATBUS. Christovam explica que “um serviço de qualidade custa caro e a população não tem como pagar sozinha”.
“Subsídio no Brasil era palavrão”, brinca o diretor executivo da NTU. Segundo ele, essa mentalidade está mudando: “Antes da pandemia tínhamos três cidades que subsidiavam a passagem de ônibus no Brasil. Hoje temos 365, 135 municípios com tarifa zero”.
De acordo com o Anuário da NTU, a tarifa zero gera “um grande aumento da demanda por viagens. Quem antes não tinha condições de utilizar o ônibus, passa a usá-lo. Em algumas cidades, a demanda triplica. Em Caucaia (CE), com população de 355 mil habitantes, a demanda quadriplicou”.
A gestão da frota de ônibus pode, além da tarifa zero, fazer uma mudança no modelo de negócios. Christovam cita, por exemplo, a substituição da concessão por um sistema com investimento de terceiros e operação por iniciativa privada.
Ele resume dizendo: “Não gosto de um modelo de contrato em que o poder público está preocupado apenas em multar a empresa. Prefiro um modelo em que o órgão público trabalha junto”.
Por fim, “precisamos entender o que o usuário precisa. Qual a necessidade dele e o que o sistema de transporte pode oferecer?”, acrescenta Luiz Carlos Mantovani, superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). De acordo com os executivos, uma mudança de visão dos empresários do setor, entendendo o passageiro como “cliente” e não “usuário”.