Por que a Linha 6-Laranja será tão profunda?

A estação Itaberaba-Hospital Vila Penteado, futura mais profunda de São Paulo, está atualmente 48% pronta. Foto: Divulgação/LinhaUni
Fellipe Gualberto
Há 3h - Tempo de leitura: 3 minutos, 44 segundos

Nove estações da Linha 6-Laranja estarão entre as mais profundas de São Paulo. A atual campeã, Santa Cruz da Linha 5-Lilás, a 41,5 metros abaixo do solo, em breve, perderá o primeiro lugar para a estação Itaberaba-Hospital Vila Penteado, que ficará enterrada a 65,71 metros, tornando-se a recordista de toda a América Latina.

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“Para a implantação de uma linha de metrô é preciso considerar o ponto mais baixo do traçado. Na Linha 6, duas questões foram impositivas para a definição dessa profundidade: passar por baixo do Rio Tietê e do túnel da Linha 4”, explica Jelson Sayeg, coordenador da Comissão de Monitoramento de Concessões e Permissões (CMCP) da Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI).

Estações mais profundas de São Paulo, quando a Linha 6-Laranja começar a operar

  • 1ª Estação Itaberaba-Hospital Vila Penteado, 65,71 m (Linha 6-Laranja);
  • 2ª Estação Higienópolis-Mackenzie, 64,86 m (Linha 6-Laranja);
  • 3ª Estação Bela Vista, 60,68 m (Linha 6-Laranja);
  • 4ª Estação PUC-Cardoso de Almeida, 60,51 m (Linha 6-Laranja);
  • 5ª Estação São Joaquim, 52,08 m (Linha 6-Laranja);
  • 6ª Estação Água Branca, 47,80 m (Linha 6-Laranja);
  • 7ª Estação FAAP-Pacaembu, 45,71 m (Linha 6-Laranja);
  • 8ª Estação Santa Cruz, 41,5 m (Linha 5-Lilás, atual mais profunda)
  • 9ª Estação João Paulo I, 41,45 m (Linha 6-Laranja);
  • 10ª Estação Freguesia do Ó, 39,92 m (Linha 6-Laranja);

Diversos motivos para Linha 6-Laranja ser tão profunda

O fato de São Paulo já possuir diversas linhas de metrô obrigou a Linha 6-Laranja a se refugiar no fundo da terra. A estação Higienópolis-Mackenzie, por exemplo, está sendo construída a 64,86 m, passando por baixo dos trilhos da Linha 4-Amarela, com a qual terá conexão.

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No entanto, esse não foi o único motivo. “A área em que a Linha 6-Laranja está sendo construída é marcada por relevo acidentado, solo com diferentes tipos de rigidez e lençóis freáticos, o que torna necessário organizar os aclives e declives existentes para tornar a operação viável”, explica a Linha Uni, empresa responsável pela construção do ramal, em nota para o Mobilidade Estadão.

De acordo com a companhia, em uma linha de metrô a inclinação máxima deve ser de 4%, deste modo é possível evitar atrito ao subir ou descer. “Como há grandes diferenças de altitude em todos os 15,3km de linha, é preciso que os túneis sejam mais rebaixados, para garantir que o túnel da linha tenha uma profundidade mínima de segurança ao longo do traçado completo”, resumem.

Por fim, a construtora ainda explica que é necessário procurar os terrenos mais estáveis, que irão gerar menos impacto nas construções na superfície. “Estes estratos encontram-se sempre em camadas mais fundas o que obriga que as estações sejam mais aprofundadas”, explicam em nota. De acordo com a empresa, as fundações de grandes prédios foram também um fator que obrigaram a linha 6-Laranja a ser tão profunda.

Passagem por baixo do Rio Tietê

Além dos fatores descritos anteriormente, a Linha 6-Laranja passa por baixo do Rio Tietê entre as estações Freguesia do Ó e Santa Marina. Sendo assim, foi necessário levar o ramal mais para o fundo da terra e tomar alguns cuidados especiais.

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“O controle da água presente no subsolo é um aspecto que traz muitos desafios para a engenharia nas obras subterrâneas, seja durante a execução da obra, seja durante sua manutenção”, conta Pedro Wellington Teixeira, professor doutor da Escola Politécnica do Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica da Universidade de São Paulo (USP).

O especialista explica que, em todas as fases da construção e operação do ramal, é necessário evitar que a água no subsolo crie instabilidades.

“O principal desafio técnico durante essa passagem foi prever o comportamento do solo entre o rio e o túnel, calcular os parâmetros necessários para que o tatuzão realizasse a escavação com segurança e determinar a cobertura mínima — a quantidade de terreno entre o túnel e o rio — que garantisse a segurança tanto do leito do rio quanto do túnel”, explica a empresa em nota.