Trabalho e lazer impulsionam venda de veículos financiados

Jonas Rebizzi, 32 anos, motorista da Cabify, financiou um Fiat Cronos 2019 em 48 meses, sem entrada. Foto: Marco Ankosqui.
Patrícia Rodrigues
03/03/2020 - Tempo de leitura: 5 minutos, 52 segundos

A chegada dos aplicativos de transporte transformou o comportamento das pessoas em relação à mobilidade e, ao que tudo indica, tem influenciado não só as vendas de veículos mas as modalidades de compra — sobretudo os financiados. De acordo com o Banco Central, essa opção foi a principal responsável pelo crescimento de 80% no crédito para aquisição de veículos em 2019, com volume de R$ 47,853 bilhões, com alta de 71,1% no estoque (janeiro a novembro.

O modelo de negócio hoje atrai também as pessoas jurídicas, como as locadoras de veículos, e predomina entre pessoas físicas que utilizam o veículo como instrumento de trabalho, como o motorista Jonas Rebizzi, da Cabify, que, no ano passado, financiou o modelo Fiat Cronos 2019. “Observo que muitos colegas optam pela locação para evitar custos com IPVA, seguro e manutenção. Mas, depois de fazer as contas na ponta do lápis, no meu caso achei mais vantajoso finalizar o período tendo um bem. Para mim, vai funcionar como uma poupança.”

Usados em alta

Em 2019, foram financiados 6,1 milhões de veículos (novos e usados, leves, motos e pesados), um aumento de 11,4% em relação ao ano anterior de acordo com dados da B3, que opera o Sistema Nacional de Gravames (SNG), a maior base privada do País, que reúne o cadastro das restrições financeiras de veículos dados como garantia em operações de crédito em todo o Brasil.

Desse total, 3,8 milhões são usados, o que representa alta de 12,4% sobre o mesmo período. Já os 2,2 milhões de veículos novos cresceram 9,8% em relação a 2018.

Em relação à faixa de uso, entre todos os leves comercializados a crédito em novembro de 2019, 152.029 de unidades somam entre quatro e oito anos de uso; 74.126 têm até três anos de uso; e 113.502 são zero-quilômetro.

Em novembro passado, o financiamento de veículos também teve o melhor desempenho desde 2014: foram mais de 526 mil unidades (incluindo autos leves, motos e pesados, novos e usados) compradas a crédito, sendo que a alta foi puxada também pelos financiamentos de usados (+ 11,6%, contra 5,6 dos 0-km).

Mais crescimento

A Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef) também contabilizou números positivos do setor automotivo em relação ao financiamento: no terceiro trimestre de 2019, o total de recursos liberados cresceu 28,5%, somando R$ 115,7 bilhões ante R$ 90 bilhões do ano anterior (set. 19/set. 18). Para o Crédito Direto ao Consumidor (CDC) — a modalidade mais usual —, foram de R$ 88,6 bilhões em setembro de 2018 para R$ 114 bilhões em setembro de 2019, um aumento de 28,8%.

A queda da taxa básica de juros também gerou mais previsibilidade ao mercado, o que favorece a decisão do tomador de crédito”, afirma Paulo Noman, presidente da Anef. “Esses números reafirmam uma recuperação importante no setor automotivo, principalmente nas vendas financiadas.”

A queda da taxa básica de juros também gerou mais de previsibilidade ao mercado, o que favorece a decisão do tomador de crédito.” Paulo Noman, presidente da Anef. Foto: Divulgação.

De acordo com Noman, se comparadas às taxas de juros do mercado, as praticadas pelos bancos ligados às montadoras continuam mais vantajosas. Em setembro, as entidades associadas à Anef aplicaram juros de 15,5% ao ano e 1,21% ao mês. Vale lembrar que, na hora de financiar, os valores dependem também do perfil e tipo de relacionamento que o cliente já possui com a instituição credora, seja banco associado ou não à montadora, sejam seguradoras, sejam financeiras, sejam locadoras de veículos.

Consumidores optam pelo crédito direto

O Crédito Direto ao Consumidor (CDC), conforme a B3, continua sendo a categoria de financiamento mais utilizada pelos consumidores, com 89,3% de participação. O consórcio apresentou queda de -9,6%, com share de 9,7% na preferência dos consumidores em novembro, na comparação com o mesmo mês de 2018.

O share de participação dos consórcios no universo de financiamentos em outubro de 2019 foi de 11,7% do total. De acordo com a Anef, na categoria de veículos e comerciais leves, o CDC continua registrando resultados expressivos se comparado às demais modalidades de crédito, atingindo 53% do total das formas de pagamento no terceiro trimestre de 2019.

Aplicativos que simulam o financiamento

Para facilitar o processo de financiamento de carros e motos, bancos convencionais e ligados às montadoras/fabricantes, financeiras e seguradoras dispõem de plataformas digitais online e/ou aplicativos para essa finalidade. A simulação depende do envio de dados para avaliar o perfil do cliente bem como o tipo de relacionamento com as instituições credoras. Conheça alguns deles:

Aplicativos que simulam o financiamento

“Financiar o carro foi minha opção para poupar”

Confira o depoimento de Jonas Rebizzi, 32 anos, motorista da Cabify, que financiou um Fiat Cronos 2019 em 48 meses, sem entrada.

Foto: Marco Ankosqui.

“Trabalhei como motorista de caminhão em Viradouro durante seis anos e decidi voltar para São Paulo em busca de um trabalho mais leve e rentável, dirigindo carros de aplicativo. Sou cadastrado em todos eles; porém, 80% das minhas corridas acontecem pela Cabify, cuja atuação se concentra nas regiões mais centrais, onde prefiro trabalhar.

Fiz muitas pesquisas, mas acabei escolhendo um carro da concessionária Fiat, marca que já estava acostumado — tinha um Fiat Uno, que vendi após o financiamento do Cronos 2019. O que me fez optar por esse modelo foi o atendimento prestado pelo vendedor e o fato de o modelo contar com luz e entrada USB para o passageiro, um diferencial que chamou minha atenção. Na concessionária, minha proposta seguiu para dois bancos, sendo aceita pelo Santander: financiei sem entrada um modelo de R$ 70.000 em 48 prestações de R$ 2.065.

Muita gente me fala que a locação é mais vantajosa, cerca de R$ 1.600 mensais para esse modelo, sem custos com manutenção, seguro e IPVA. Mas fiz as contas e, com um gasto médio de R$ 600 a mais, posso ter um bem no final desse período. Não preciso me preocupar com a quilometragem, uma vez que a cada 15 dias viajo para o interior, onde estão minha esposa e meus três filhos.

Apesar da depreciação do veículo, encaro o financiamento como uma poupança e essa modalidade me ‘obriga’ a isso. Penso que, ao final do período, posso utilizar o carro para dar entrada em uma casa ou outro carro. Ao realizar o financiamento com o banco, utilizo o aplicativo e, caso antecipe o pagamento das parcelas, tenho um desconto. Também tenho como benefícios uma conta zero, sem taxas, e um crédito pré-aprovado para a compra de um imóvel.”