Você mora em São Paulo e tem a sensação de que o trânsito na cidade ficou menos ruim depois da pandemia? Não é apenas uma sensação: é um fato comprovado pelas estatísticas. De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a média de congestionamentos em agosto de 2022, considerando apenas os dias entre segunda e sexta-feira, ficou em 117 km, o que equivale a 13% menos que os 135 km registrados em agosto de 2019, antes da chegada da covid-19 ao Brasil. Reduções semelhantes vêm sendo observadas em todos os meses de 2022.
Uma análise superficial poderia credenciar essa redução ao home office, prática impulsionada pela pandemia. Só que há uma série de outros fatores envolvidos – muitos dos quais refletem circunstâncias econômicas e sociais negativas. “A redução dos congestionamentos é sempre um dado bem-vindo quando se olha apenas sob o ponto de vista da mobilidade, mas é preciso uma análise estrutural para entender que as causas nem sempre são positivas”, diz Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes.
Assim, por exemplo, o alto preço dos combustíveis pode ter contribuído para que as pessoas saíssem menos de casa ou optassem pelo transporte coletivo, o que ajuda a dar fluência ao trânsito. Outro ponto a ser considerado é o grande aumento na proporção de motos, aspecto diretamente relacionado à expansão dos serviços de delivery. Esse dado também carrega uma conotação negativa, pois as atividades de entrega estão muitas vezes relacionadas à precarização do trabalho, à perda de empregos formais e ao aumento do risco de acidentes.
No ano passado, de acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o número de emplacamentos de motos no País subiu 26,4% em comparação ao do ano anterior. Já o de automóveis e veículos comerciais leves cresceu apenas 1,2%. Este ano, enquanto o número de emplacamentos de motos no País subiu 17,8% entre janeiro e agosto, em comparação com o do mesmo período do ano passado, o de automóveis e veículos comerciais leves caiu 8,5%. São números que indicam uma clara tendência de substituição dos automóveis pelas motos – o que ocorre muitas vezes por necessidade, e não por escolha.
“Quando olhamos para além da mobilidade, a própria expansão do home office não deve ser vista como inteiramente positiva, pois tem sido associada a problemas como excesso de horas de trabalho e custos indevidamente assumidos pelos profissionais”, ressalta Quintella. Apesar dessas dificuldades, várias pesquisas têm demonstrado que a prática conquistou os brasileiros. Uma das mais recentes, divulgada pela consultoria Robert Half, revelou que 39% dos trabalhadores do País que experimentaram o home office estão dispostos a buscar outro emprego caso a empresa insista na retomada do trabalho inteiramente presencial.
“Cada profissional, empresa ou área se relaciona com o trabalho remoto de maneira muito particular. A melhor forma de lidar com essas peculiaridades é por meio do diálogo aberto, transparente e da inclusão do colaborador na decisão de retorno”, diz Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul.
Há um dado das estatísticas da CET que reforça a tese de que parte da redução nos congestionamentos tem relação direta com a ampliação do home office: a queda tem sido mais acentuada às segundas e sextas-feiras, dias preferenciais para o escritório doméstico no modelo híbrido, aquele em que alguns expedientes da semana são cumpridos em casa e outros, presencialmente.
É importante lembrar, no entanto, que estamos falando de uma parcela limitada da força de trabalho do País. Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) estimou que a modalidade tenha sido adotada por apenas 10% dos trabalhadores do País durante a pandemia, em grande parte concentrados nas regiões mais ricas e urbanizadas.
Baseado em referências internacionais, o estudo estima que 25% dos trabalhadores atuais do Brasil já poderiam exercer suas atividades de forma remota. Um obstáculo para isso é a infraestrutura disponível. Ao cruzar essa projeção com informações dos lares brasileiros, como existência de computador e disponibilidade de internet, os pesquisadores reduziram para 18% o índice de trabalhadores brasileiros que já poderiam trabalhar integralmente em regime de home office. Assim, embora certamente possa contribuir para melhorar a mobilidade nas grandes cidades brasileiras, o home office está longe de ser a “bala de prata” que vai resolver o problema.
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