Garantir uma mobilidade segura e eficiente para a população será um dos principais desafios dos novos prefeitos brasileiros que tomarão posse em janeiro de 2020. Como melhorar a qualidade dos serviços de transporte coletivo se o número de usuários está diminuindo? Como garantir a fluidez do trânsito se as pessoas estão, cada vez mais, optando pelo transporte individual?
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Para José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, “o transporte é como um sangue que abastece as células, pois tudo depende de as pessoas poderem se deslocar para trabalhar, para buscar atendimento médico, lazer e entretenimento, e isso muda a vida das pessoas”.
Ele acredita que, para garantir maior mobilidade nas cidades, é necessário melhorar o uso e a integração de diferentes modais, bem como a reorganização dos corredores de ônibus e da coordenação semafórica.
“Com a implantação de sistemas inteligentes, é possível aumentar a fluidez de 10% a 15%, o que representa mais tempo para o cidadão. Isso, somado a uma melhor coordenação e mudanças no Plano Diretor, pode causar uma melhora de 35% a 40% da fluidez”, explicou o professor ao Jornal da USP.
Uma reportagem publicada pela Agência Brasil entrevistou vários especialistas em mobilidade e, entre todos, há um consenso: para dar fluidez ao trânsito, o transporte público precisa ser priorizado em relação aos automóveis.
De acordo com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), os carros ocupam 70% do espaço viário e transportam 25% das pessoas, enquanto os ônibus ocupam menos de 10% e transportam 40% da população. Por isso, a criação de faixas exclusivas para veículos do transporte coletivo é uma medida tão importante para garantir maior velocidade e segurança.
Para o superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Luiz Carlos Néspoli, o uso das faixas exclusivas e corredores de BRT no Brasil ainda é muito baixo, se comparado ao potencial desse modal. No país, a cada 100 km de vias onde circulam os ônibus, apenas 4,4 km têm prioridade para o transporte coletivo.
A construção de ciclovias é outra medida para melhorar a mobilidade nas cidades brasileiras. Além do baixo custo da construção, ainda incentiva o uso de um meio mais sustentável e benéfico para o meio ambiente e o trânsito das grandes cidades. Porém, a construção dessas vias precisa ser bem analisada, pois não basta construí-las apenas no centro da cidade, elas precisam estar conectadas a todas as regiões.
Segundo o superintendente da ANTP, também é necessário garantir bicicletários e estacionamentos mais seguros, além da realização de campanhas educativas estimulando o uso dos modais alternativos.
A segurança e o bem-estar dos pedestres deve ser pensada pelos novos prefeitos; por isso, garantir a qualidade das calçadas é imprescindível. Infelizmente, no Brasil, elas costumam ser de responsabilidade do morador e não seguem padrões mínimos que garantam a acessibilidade de quem as usa.
Integrante da Associação pela Mobilidade a Pé (Cidadeapé), Ana Carolina Nunes lembra que a Lei Brasileira de Inclusão determina que as prefeituras planejem obras visando “rotas acessíveis” a todas as pessoas. “Os profissionais da prefeitura devem fazer projetos que permitam a qualquer pessoa fazer caminhos inteiros sem se preocupar com degraus ou qualquer obstáculo”, explicou Nunes.
O usuário do transporte coletivo brasileiro em geral paga muito por um serviço de má qualidade. Para o coordenador do Programa de Mobilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Rafael Calabria, as tarifas podem e precisam ser reduzidas.
Em entrevista para a Agência Brasil, o especialista afirma que “as prefeituras precisam buscar ‘fontes extra-tarifárias’, compondo um Fundo de Transportes que ajude a pagar o custo do transporte, sem se basear apenas na tarifa paga pelo usuário”.
Esse fundo, segundo Calabria, pode ser composto de outras fontes mais simples, como a exploração de publicidade nos ônibus, pontos e terminais. O valor arrecadado ajudaria a financiar obras como corredores, ciclovias e ampliação de calçadas.
Fontes: Agência Brasil, Jornal da USP e Portal do Trânsito.