Mecânico do “carro anfíbio” cria triciclo adaptado para cadeirantes
Mais de 200 triciclos adaptados para pessoas com mobilidade reduzida circulam pelo país; próxima criação será anfíbio elétrico, com motor de bicicleta

Após ter seu carro anfíbio apreendido em dezembro de 2024 na praia do Gonzaguinha, em São Vicente, litoral do Estado de São Paulo, o mecânico autoditada Caio Strumiello já anunciou novo modelo de veículo adaptado para estrada e água. Aos 53 anos, ele acumula centenas de criações, como uma mini moto, um carro de fórmula 1 e até motos adaptadas para cadeirantes. Mesmo com a recente perda do carro “nanico anfíbio”, ele decidiu ser ainda mais ousado.
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Carro anfíbio
A próxima criação, que já está em fase de desenvolvimento, será um “nanico anfíbio” híbrido, com motor a combustão e elétrico. O veículo terá um sistema parecido ao das bicicletas elétricas, impulsionadas pelo pedalar. Para Strumiello, a apreensão do “nanico anfíbio” não fez sentido, pois o veículo não apresentava riscos ao meio ambiente ou as pessoas. Ele ainda tece críticas à forma que as coisas funcionam no País, punindo aqueles que se dedicam a desenvolver novos produtos. “Aconteceu o mesmo com Santos Dumont, que precisou sair do Brasil para fazer alguma coisa”, opina, referindo-se ao “Pai da Aviação”.

“O motor que usei é muito fraquinho porque eu não queria navegar, só queria me deslocar na água, ele me dava a 5 km/h ou 6 km/h” explica o mecânico. No dia da apreensão, ele tentou explicar às autoridades que não havia risco de vazamento de óleo, um dos argumentos da fiscalização. Isso porque Caio vedou a estrutura do veículo para que não entrasse água, impedindo vazamentos. Além disso, ele conta que já havia testado o carro na praia em outras ocasiões
Porém, ele não conseguiu convencer e teve a criação apreendida. O mecânico ainda tentou recolher o veículo do pátio e contratou um advogado. Mas entendeu que os custos seriam muito maiores do que simplesmente construir um novo. Como resultado da repercussão do caso, ele recebeu uma encomenda para a Bahia e já começou a construção.
Além da nova unidade do nanico anfíbio, Caio desenvolve outro veículo com capacidade de se movimentar na água, mas, desta vez, mais sustentável. “Vou construir o carro anfíbio mais leve do mundo para duas pessoas, com motor elétrico e a gasolina”, ambiciona ele. Aliás, a estrutura do novo veículo já está montada aguardando Caio entregar outras encomendas para se dedicar a ela. O “nanico anfíbio” híbrido terá apenas 50 quilos.

Moto adaptada para cadeirantes
Apaixonado por mecânica desde pequeno, Caio sabia que algum dia montaria o próprio carro. Quando ele começou a construir seus próprios veículos aos 41 anos, o objetivo era diversão. Na época, ele montava as estruturas com papelão. “Eu comprei uma mobilete para poder ir comprar tinta e transformei ela na Mob Davidson”, conta ele.

Porém, ele não esperava que a principal fonte de renda mudasse da funilaria e pintura de veículos, atividade que ele se ocupa desde os 22 anos, para a venda de motos adaptadas para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.
Em 2015, Caio gravou um programa com o Faustão na TV Globo. Isso ocorreu logo após ele montar o menor carro para duas pessoas do mundo, com 1,2 metro, e começou a receber encomendas. Em seu canal no Youtube, ele chegou a ensinar como montar um carro nanico em casa.
Naquela época, uma mulher passava pela rua dele de ônibus e viu o pequeno veículo estacionado em frente a um estabelecimento na Vila Santa Catarina, bairro da zona sul da capital paulista em que Caio reside. “Apareceu a senhora por meio desses carros e falou: ‘se você colocar motor num carro desse, você consegue colocar um motor na minha cadeira de rodas'”, ele lembra.
Por fim, o mecânico iniciou uma trajetória de montar veículos adaptados. “Comprei a cadeira de rodas no brechó e desenvolvi um triciclo para ela com peças de moto. Ela usa até hoje”, conta o mecânico.
Já que havia criado uma cadeira de rodas com motor a combustão, ele decidiu desenvolver outros modelos triciclos adaptados, com cobertura e até uma Harley Davidson para um tetraplégico. “Hoje, já são mais de 203 triciclos”, ressalta Caio, que recebe encomendas de todo o País.

Mobilidade para pessoas com deficiência
“São veículos para as pessoas que se locomovem pequenas distâncias, porque a pessoa com deficiência não precisa ir longe. Só precisa sair de casa um pouco, ir a uma padaria, uma farmácia, tornar-se independente”, ele defende.
Embora sempre receba novas encomendas de triciclos, ele percebe que o cenário atual é mais difícil. “O Brasil tá meio estranho”, opina sobre a situação financeira das pessoas. Isso porque, para montar os triciclos adaptados, o cliente precisa comprar uma moto, normalmente uma Honda PCX 150. “A pessoa tem que financiar e quando você tem uma insegurança econômica, infelizmente, sonho fica para frente”, conclui ele.
Como os triciclos são produzidos?

“Eu faço como se fosse um caixote, uma gaiola, onde a pessoa vai entrar com a cadeira de rodas. Corto a moto na frente do tanque, coloco a suspensão dianteira na frente do caixote e faço uma suspensão traseira do lado esquerdo. Também faço uma carenagem igual a da moto que fica do lado direito.
Ela lembrar uma biga. Tem uma rampa elétrica, a pessoa entra com a cadeia de roda, se trava lá dentro e pilota. Do outro lado eu fiz um sistema que é um motor elétrico e mecânico para dar ré. É como se tivesse dois motores. Parece que você tem duas motos, mas um lado é de fibra.”




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