Luciana Nicola

Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco.

O que esperar, afinal, da mobilidade urbana neste ano?

Frota de ônibus elétricos da cidade de São Paulo: em setembro passado, 50 novos veículos foram incorporados, com redução de 5.300 toneladas de CO2/ano. Foto: Divulgação Prefeitura de São Paulo

16/01/2024 - Tempo de leitura: 3 minutos, 47 segundos

Passado o ano em que o mundo bateu recordes históricos de temperatura, é praticamente impossível falar da vida nas cidades sem pensar em como garantir modos ambientalmente sustentáveis de interação. E isso passa pelo deslocamento das pessoas, pela mobilidade urbana.

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Isso é ainda mais verdadeiro para o Brasil, País de dimensões continentais em que 61% da população vive em cidades com mais de 100 mil habitantes, onde o transporte tem papel notável nas emissões de gases de efeito estufa.

Por isso, vale ressaltar que 2023 trouxe algumas boas notícias sobre esse tema, fortalecendo tendências positivas para este ano. Por aqui, o setor de transportes é responsável por 8% das emissões de gases de efeito estufa, sendo que 46% delas provêm de veículos leves, segundo o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases.

Dessa forma, alcançar um Brasil carbono neutro passa necessariamente por incentivar um transporte coletivo mais ambientalmente correto, ao mesmo tempo em que também se torna mais limpa a mobilidade em automóveis individuais.

Transportes coletivo e individual

E uma das tendências para 2024 é justamente a eletrificação de ambos. A cidade de São Paulo, por exemplo, acrescentou 50 novos ônibus elétricos em setembro passado, o que significa 5.300 toneladas a menos de CO2 emitidos por ano. O município tem a meta de eletrificar 20% da sua frota até o final de 2024, um total de 2.400 veículos.

Fica mais fácil, então, imaginar um futuro no qual o sistema coletivo de transporte seja mais sustentável do ponto de vista ambiental. Existem até mesmo estimativas segundo as quais 40% do transporte coletivo brasileiro será atendido por ônibus elétricos até 2050.

Nacionalização

Apesar das boas notícias sobre o transporte coletivo, a realidade é que milhões de pessoas ainda utilizam meios individuais para fazer seus deslocamentos urbanos. Por esse motivo, é importante destacar que a venda de veículos eletrificados está batendo mais uma vez o recorde anual.

Entre janeiro e outubro de 2023, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), houve um aumento de 73% no emplacamento e de 36% nas vendas desse tipo de veículo em relação ao mesmo período do ano passado.

No entanto, a principal notícia nesse tema é que o Brasil passará a produzir veículos eletrificados totalmente nacionais em 2024. A perspectiva desta nacionalização pode ajudar a desenvolver o know-how necessário para produzirmos cada vez mais e melhor por aqui.

E pode ser também um passo importantíssimo para termos automóveis elétricos ou híbridos mais baratos, condição fundamental para uma maior popularização dessa tecnologia. Ainda sobre o transporte individual, sabemos que sua adoção massificada é uma das principais fontes de congestionamentos urbanos.

A novidade, porém, é que 2023 registrou uma queda relevante no volume de engarrafamentos em grandes cidades. Locomover-se está ficando mais rápido, provavelmente, porque muitas pessoas estão deixando de se deslocar em alguns dias da semana.

Segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, a melhora tem ocorrido principalmente às segundas e sextas-feiras, o que indica que o fenômeno provavelmente está associado à adoção do trabalho híbrido. Assim, a manutenção dessa tendência neste ano está diretamente relacionada a forma como as empresas vão lidar com a evolução dos modelos de trabalho.

Diversificação de fontes

Já a estrada para um transporte mais sustentável não passa apenas pela eletrificação. Os biocombustíveis também têm um papel. Em dezembro, durante a COP 28, em Dubai, o ministro das Minas e Energias, Alexandre Silveira, disse que o Brasil pretende investir até R$ 200 bilhões no setor de combustíveis sustentáveis.

Se o uso de eletricidade e de biocombustíveis já aumentava constantemente, segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA), esta medida pode acelerar sua adoção. Por outro lado, o uso de combustíveis derivados de petróleo está em queda acentuada desde 2014, e pode cair ainda mais rapidamente.

A tônica para 2024, por fim, parece ser prosseguir com as tendências do ano que se encerrou: movimentar o maior número possível de pessoas pelos espaços urbanos, mas de maneira cada vez mais sustentável e rápida. Ganha o planeta, ganhamos todos nós.

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