São características da cidade de São Paulo como seu crescimento concentrado ao longo dos rios Tietê e Pinheiros, além da urbanização desordenada, com pavimentação que impede a absorção da água pelo solo, que favorecem os alagamentos nesta que é conhecida como a estação das chuvas de verão e enchentes. Basta uma precipitação – e ela nem precisa ser muito volumosa ou prolongada – para alguma região da cidade alagar e, com isso, causar todos os problemas que a população conhece bem: pessoas e veículos ilhados, transporte público paralisado ou funcionando parcialmente, congestionamentos, entre outros. Nessas situações, nossa mobilidade fica totalmente comprometida, causando também prejuízos e transtornos.
Quem não se lembra da última grande chuva da capital, em fevereiro de 2020, quando toda a cidade, literalmente, parou? Foram 200 milímetros de água em dez dias, o maior número para o mês de fevereiro em 37 anos, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). No dia 10 de fevereiro, São Paulo chegou a registrar 159 pontos de alagamento, sendo 101 deles intransitáveis e pessoas de todas as regiões foram impedidas de sair para seus compromissos. Em algumas regiões mais afetadas, como as zonas Oeste e Norte, por exemplo, ruas e avenidas viraram rios. De acordo com o Departamento de Águas e Energia Elétrica, na ocasião, o Rio Pinheiros registrou a maior alta dos últimos 15 anos, e a via teve oito pontos de alagamento, que inviabilizaram o tráfego. Na Marginal do Tietê foi ainda pior: 16 bloqueios, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da Prefeitura de São Paulo.
Quem já encontrou um alagamento enquanto dirigia sabe o quanto isso pode ser assustador: os especialistas pedem para que os motoristas não saiam de casa durante um temporal. Mas e se a chuva cair enquanto as pessoas estiverem em trânsito? A principal recomendação do CGE é que, se estiver em local que está inundando, o motorista ou mesmo o pedestre não devem se aventurar tentando enfrentar a água. O mais indicado, se possível, é ir para um local seguro e pedir ajuda.
A população pode acionar as seguintes instituições nessas emergências: Companhia de Engenharia de Tráfego
(CET, pelo número 156), Coordenadoria Municipal de Defesa Civil
(Comdec, 199), Corpo de Bombeiros
(193), entre outros (veja lista completa no final da reportagem). “Para quem está conduzindo um automóvel e não tem a opção de se abrigar em segurança, algumas recomendações podem amenizar os danos. A principal delas é só atravessar se não houver outra opção e se a altura da água estiver abaixo do meio da roda do carro”, afirma Breno Arruda, coordenador do curso de engenharia mecânica da Faculdade Anhanguera de Piracicaba (SP). Na próxima página, explicamos os perigos para veículos e para motoristas ao passar por áreas inundadas.
Quando a água em excesso entra em contato com um automóvel, por exemplo, diversos equipamentos podem ser comprometidos. Sistema de admissão de ar, motor e componentes elétricos são os mais afetados. “Os veículos não foram projetados para essas situações. E os automóveis estão cada vez mais tecnológicos, com componentes que não são à prova d´água”, explica Breno Arruda, coordenador do curso de èngenharia mecânica da Faculdade Anhanguera de Piracicaba (SP).
De acordo com ele, embora os especialistas recomendem – caso não haja opção de esperar em local seguro – apenas atravessar áreas alagadas se a água estiver abaixo do meio da roda do carro, não existe garantia de que não haverá problemas. “A visibilidade fica comprometida, buracos e obstáculos na via ficam escondidos e, se tiver outros veículos atravessando as ondas, podem elevar o nível da água. Então, o motorista só deve tomar essa decisão se não houver mesmo outra opção”, diz Arruda.
De acordo com Emilio Paganoni, gerente sênior de treinamento do BMW Group Brasil, nem mesmo os veículos 4×4, conduzidos por pessoas acostumadas a terrenos off-road, devem se arriscar em enchentes. “São situações muito diferentes, os rios da trilha sempre estiveram lá e é recomendável, antes da travessia, que os condutores testem sua profundidade com uma vara, o que é inviável em uma situação de alagamento dentro da cidade. Então, esses veículos têm uma chance maior que os demais de conseguir passar, mas isso não quer dizer que o carro não terá problemas”, explica.
Caso seja realmente necessário que o condutor tenha de atravessar uma área alagada, a dica dos especialistas é manter a velocidade constante, em baixa rotação do motor – primeira ou segunda marchas, no caso de câmbios manuais, ou na opção manual para os automáticos –, e só pare de acelerar quando o veículo sair da água. Se, no meio do caminho, o motor “apagar”, o motorista não deve tentar dar a partida novamente. “Isso fará com que os captadores de ar do carro suguem água, entortem os pistões e travem o motor, causando o que chamamos de calço hidráulico”, explica Paganoni. Ele explica que esse é um problema muito sério, que pode levar à necessidade de troca do motor.
Filtros de ar e óleo, sistema de ar-condicionado, borrachas de vedação, freios e sistema eletrônico também podem apresentar problemas. “Imagine que, quando acionamos a partida em um automóvel, ‘ligamos’ em cerca de 2.500 componentes, entre mecânicos e eletrônicos. Depois da água, cada peça com defeito provoca um efeito em cadeia. É um prejuízo enorme para os proprietários; por isso, desaconselhamos passar por inundações”, afirma o gerente sênior de treinamento do BMW Group Brasil.
Os sinistros de veículos que sofreram inundação aumentam consideravelmente neste teríodo. De acordo com a Porto Seguro, nos dois últimos anos, a média de sinistros avisados de alagamentos com indenizações integrais fica em torno de 55% do total na época das chuvas intensas. A Porto Seguro, assim como a maioria das empresas do setor, oferece a cobertura compreensiva, que cobre prejuízos causados por enchentes apenas se o segurado não tentar passar por uma rua já alagada – o que é chamado de risco agravado. “O seguro auto cobre também quedas de árvore, poste ou muro causadas pela chuva, salvo quando são de responsabilidade do motorista. A cobertura também inclui a submersão parcial ou total do veículo em água doce proveniente de enchentes ou inundações, inclusive quando estão no subsolo de garagens”, explica Jaime Soares, diretor do Porto Seguro Auto.
Outra informação importante é que, em caso de alagamento, não está incluída, na cobertura da Porto Seguro, a higienização do veículo em situações de enchentes, alagamentos ou inundações, quando o sinistro não atingir o valor da franquia. “Nesse caso, é necessário que o motorista tenha adquirido a cobertura adicional de higienização em caso de alagamento”, explica Soares.
A oxi-sanitização é um dos métodos indicados para a eliminação dos agentes nocivos e do odor característico nos veículos que passaram por alagamentos. “Esse é um processo realizado por meio de um gerador de ozônio. Esse gás, natural e presente na atmosfera, tem efeito germicida e é eficiente na destruição de vírus, bactérias e fungos”, explica Henrique Mol, diretor executivo da rede de franquias Acquazero Eco Wash, que oferece esse serviço. O serviço ficou muito conhecido durante a pandemia, pois tem eficácia contra a covid-19.
Por ser um gás, o ozônio consegue chegar a lugares em que outros produtos de limpeza não conseguem, inclusive penetrando nas fibras dos bancos, tapetes, carpetes, forrações, feltros e estofamentos. De acordo com Mol, na época das chuvas, a empresa registra aumento em torno de 20% a 30% na procura pelo serviço, que custa, em média, R$ 120 (dependendo do tamanho do carro).
“A motocicleta foi feita para rodar na chuva, e não dentro da água.” A frase do mecânico paulista Alexandre Sauro alerta para os riscos de atravessar uma enchente de moto. Da mesma forma que ocorre com os carros, os problemas podem ser de vários tipos: de um simples mau cheiro até a oxidação interna do escapamento e o travamento do motor. Confira cinco motivos para não correr riscos.
1 – Calço hidráulico
Nas motos, ele acontece quando o nível da água fica acima da entrada do filtro de ar e entra na câmara de combustão, “apagando” o motor. Ao tentar dar partida novamente, o pistão comprime a água que não tem como sair e força a biela, o pistão e outras partes móveis do motor. “Caso a moto morra, não tente ligar ou dar tranco, ponha em ponto morto e empurre até um local seguro”, ensina Sauro.
2 – Água no escapamento
Além da entrada para o filtro de ar, a água também pode ir para o motor pelo escapamento. Isso acontece quando o motor “apaga” ou a moto é arrastada pela enxurrada. Se desconfiar que a motocicleta ficou debaixo d’água, o ideal é não dar partida ou tranco. E, mesmo que a água não tenha atingido o motor, ela pode oxidar o escapamento e destruir o catalisador, causando grandes prejuízos.
3 – Curto circuito
É comum vermos motos e carros que passaram por alagamentos com faróis acesos ou piscas funcionando. Alexandre lembra que isso é resultado da água que “fecha” os circuitos e causa curtos, danificando módulos e prejudicando componentes eletrônicos nas motos modernas. “Nas motocicletas carburadas, o CDI pode ser afetado”, alerta o mecânico.
4 – De scooter, nem pensar
Os donos de scooters devem tomar ainda mais cuidado com o nível da água, pois a entrada de ar, nesses veículos, fica numa posição mais baixa que nas motos. Além do risco ao motor e ao escapamento, as scooters usam câmbio do tipo automático – conhecido como CVT, que, se ficar abaixo da linha-d’água, a transmissão será afetada, assim como o óleo será contaminado.
5 – Marcas eternas
De acordo com o mecânico, a água entra em partes de difícil acesso da moto, como no interior do quadro – o que pode oxidar e corroer o metal com o passar do tempo –, danificando também painel, farol, lanternas e piscas. A água também pode encharcar a espuma do banco e, caso não fique ao sol para secar apropriadamente, pode deixar mau cheiro.
Em caso de emergência como alagamento, ligue para: