Formado em administração de empresas, Petrus Moreira começou a trabalhar na área de veículos há mais de 20 anos. Na GM, ainda como estagiário, participou do então inovador projeto que permitiria configurar o Chevrolet Celta de forma digital. Na Endered, dona da marca Ticket Car, ingressou no setor de gestão de benefícios e de pagamentos de produtos eletrônicos por meio eletrônico. Ficou mais de três anos à frente da filial da empresa, no Chile. De volta ao Brasil, teve uma breve passagem pela Fleetcor até ingressar na Alelo, em 2016. Desde 2019 no posto de superintendente da Veloe, o executivo falou ao Estadão, por meio de chamada de vídeo, sobre as ambiciosas metas da empresa no País.
Como foi 2021 para Veloe no Brasil?
Petrus Moreira: Foi um ano muito bom. Conseguimos resultados bem mais expressivos do que a gente almejava. Praticamente triplicamos nossa base de clientes. Estamos falando de 1,7 milhão de clientes ativos. Isso é ainda mais importante porque a pandemia afetou bastante a mobilidade. Porém, nosso serviço leva conforto, comodidade às pessoas, porque evita, por exemplo, contato físico no momento do pagamento do pedágio ou do estacionamento.
A empresa oferece outros serviços?
Moreira: Sim, mas a tag ainda é o nossa principal produto. Lançamos recentemente o serviço de pagamento de tributos, que permite dividir em até 12 vezes o IPVA. Bem como quitar multas e taxa de licenciamento, entre outros. Estamos trabalhando fortemente nisso, para criar uma experiência muito bacana para o usuário. Além disso, dá para pagar combustível em São Paulo, onde iniciamos os testes desse serviço. A tendência em 2021 é expandir (para outros mercados). Nosso objetivo é ser a carteira do veículo e oferecer várias soluções, incluindo até financiamento, seguro e assistência 24 horas. Isso será feito ao longo deste ano. Vamos diversificar para tornar a Veloe ainda mais atrativa para o cliente final.
As novas concessões de rodovias preveem o fim de caixas com pessoas nas praças de pedágio. Como a Veloe avalia isso?
Moreira: Sim, esse sistema de passagem livre, chamado de “free flow”, é adotado em vários países, como o Chile. A tendência é de que a gente tenha, entre 70% e 100% das praças com esse sistema em cerca de cinco anos. Além das novas concessões, muitos contratos estão vencendo e os próximos têm opção de fazer o sistema free flow. E, nas conversas com a ABCR, que é a associação das concessionárias, e com o Ministério de Infraestrutura, a tendência que a tag seja a opção para leitura do sistema, como acontece em outros países. Já temos uma solução adaptada para isso. É um assunto estratégico para a Veloe.
Quais são as vantagens das tags para as empresas?
Moreira: Trabalhamos em duas frentes. Ou seja, B to C, que é esse lado da pessoa física, para quem queremos levar comodidade, e B to B, que são as frotas. A Veloe é uma unidade de negócios da Alelo (do setor de cartões de benefícios). Por isso, temos o Alelo Frota, que é um produto para gerenciamento de frota e consumo de combustível, que integra a Veloe. Já temos a tag de pedágio para B to B, que é muito usada por empresas que usam serviços de caminhoneiros autônomos.
Há uma demanda muito grande no setor. De São Paulo a Ribeirão Preto (330 km), há oito pedágios. Quem para nessas praças leva uma hora a mais para chegar, por causa da espera. Isso sem contar o custo. Toda vez que o veículo tem de desacelerar e acelerar, gasta combustível, freios, etc. No caso do veículo pesado, é uma dor para os clientes. A tag reduz a necessidade de desaceleração e frenagem, o que diminui os custos da operação. São coisas importantes para a empresa e o caminhoneiro.
Qual é a tendência de maior crescimento de uso em 2022?
Moreira: Com o app Veloe, reunimos vários serviços da vida do veículo. Vamos lançar um serviço de manutenção para pessoa física. Bem como seguro de curto período. Por exemplo, o cliente vai poder contratar uma cobertura para ir de São Paulo ao Guarujá (no litoral Sul paulista). Nu segundo momento, com a desaceleração da pandemia, acreditamos que em 2022 a mobilidade voltará a ser cada vez mais importante. Também temos feito parcerias com empresas para ampliar a oferta de produtos e serviços.
Como a aceleração da pandemia impactou a Veloe?
Moreira: A Veloe é uma transação invisível. Não há nenhum tipo de contato. Muita gente não quer trocar dinheiro na praça de pedágio, descer do carro para pagar pelo combustível ou ficar na fila do estacionamento do shopping. Continuamos atuando fortemente na questão das experiências. Também oferecemos extratos consolidados, em que a pessoa pode, por exemplo, agrupar os custos com deslocamento para trabalho. Assim, facilita na hora de pedir reembolso. E temos a Veloe Turbo. Um clube de vantagens que reúne mais de 23 parceiros. Eles oferecem descontos e fazem promoções nas áreas de varejo, eletrônicos, vestuário, educação, etc. A gente olha muito para a inovação.
O que muda com a chegada do 5G ao Brasil?
Moreira: Eu acredito muito na tecnologia. E o Brasil é um país continente. Queremos oferecer os serviços da Veloe em todos os Estados e municípios. Estamos olhando bastante para a capilaridade e a expansão. Acredito que o 5G vai contribuir muito com isso. Por exemplo, nos Estados Unidos, você faz o pagamento do pedágio com o celular. Há tecnologias bem abertas para que possamos evoluir. Hoje, se você vai de São Paulo a Campinas (93 km) pela Rodovia dos Bandeirantes, que é uma das melhores do País, há pontos sem sinal de celular. Estamos falando de duas cidades muito modernas. Então, acredito que o 5G vai trazer não só a ampliação de possibilidades como maior conectividade. Inclusive, entre os veículos. Isso trará mais inteligência para as cidades.
Como o sr. avalia o momento atual, com alta de juros, da inflação e retração do consumo?
Moreira: A inflação e a alta da Selic afetam o poder de consumo do brasileiro. Além disso, 2022 será um ano de eleição. Seja como for, queremos evoluir com relação a novos serviços e soluções, tanto no B to B quanto no B to C. Em cinco anos, queremos quadruplicar nossa base de clientes. Acreditamos no potencial do mercado. De cerca de 75 milhões, 80 milhões de veículos, incluindo motos e caminhões, apenas 12% têm tag. Então, queremos crescer em todas as regiões e ampliar nossa participação. Estamos bem otimistas para este ano.
O sr. sempre teve uma cultura muito digital…
Moreira: Participei do primeiro projeto de venda de um carro via internet. Eu era um estagiário da GM. Todas as concessionárias tinham um quiosque onde o cliente podia configurar e comprar o carro. Depois de concluído o processo, a entrega era feita em sete dias. Foi um sucesso. Passei por algumas empresas, não foram muitas, e sempre com foco na tecnologia, seja na gestão de frota, do veículo ou do pagamento de abastecimento.
Que mensagem o sr. mandaria ao Petrus que acaba de se formar, há 20 anos?
Moreira: Continue estudando, se aperfeiçoando e fique próximo de pessoas que possam lhe dar orientação. Também foi positiva minha experiência fora do País. Aprender uma cultura diferente é muito significativo. Sempre trabalhei muito. Creio que diria para ele aproveitar mais as oportunidades de lazer.