A mobilidade das pessoas a partir dos 60 anos de idade, os 60+, é tema de um amplo estudo que a Fundación Mapfre acaba de divulgar.
Feita em parceria com o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), a pesquisa ‘Adeus às chaves: perfil, segurança e o momento da transição‘ aborda como é comportamento dos 60+ na mobilidade, impactos com a pandemia e, principalmente, reflexões sobre a hora de parar de dirigir.
“O ato de dirigir, para as pessoas idosas, é sinônimo de autonomia e independência para realizar atividades do dia a dia, como se locomover até o trabalho, ter momentos de lazer, autocuidado e saúde”, afirma Fátima Lima, representante da Fundación Mapfre no Brasil.
E continua: “Contudo, com o processo natural de envelhecimento, podem ocorrer perdas sensoriais e cognitivas importantes, que influenciam na capacidade do indivíduo idoso para dirigir.”
O Brasil, assim como acontece globalmente, passa por um processo de envelhecimento populacional, com aumento da expectativa de vida e redução da taxa de fecundidade.
Se em 2010 a proporção de 60+ era de 10,8%, segundo o IBGE, os testes do Censo 2022 apontam aumento dessa população para 16,7%.
Essa elevação também reflete no número de pessoas desta faixa etária habilitadas a dirigir, que passou de 11% em 2013 para 18% em 2021. Deste total, as mulheres são minoria (44%).
Entretanto, essa proporção diminui conforme aumenta a idade: de 61 a 70 anos, as mulheres são 37% do total de condutores. Na sequência, elas são 29% na faixa entre 71 a 80 anos e, por fim, representam 23% entre o público feminino a partir dos 81 anos.
O estudo sobre mobilidade dos 60+ também analisou como pandemia da covid-19 alterou hábitos de deslocamento.
Essa análise da população foi feita em cinco capitais do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Porto Alegre.
A principal conclusão da pesquisa, nesse sentido, é que os 60+ passaram a sair menos de casa com a pandemia. Dessa forma, a maioria dos entrevistados declarou que saiu, no máximo, 3 vezes por semana de casa durante a crise sanitária.
Antes dela, o motivo mais comum para sair era o trabalho, mesma razão que os levou a não sair de casa durante a crise.
Os modos de transporte mais usados e que mantiveram a frequência de uso entre esse público no período foram deslocamentos a pé (78%) e com automóvel (60%).
O estudo revelou que entre os óbitos ocorridos em sinistros de trânsito no Brasil, os 60+ representam cerca de 15% entre 2015 e 2020, com uma média anual de 4.977 pessoas. Este número teve uma pequena queda em 2020, provavelmente por conta da pandemia.
Do total de pessoas idosas mortas no trânsito, 43% eram pedestres, 32% eram condutores de veículo, 24% deles era passageiro e 1% morreu ao entrar ou sair do veículo.
As mulheres são minoria entre os 60+ que morreram no trânsito no período, representando 16%.
No entanto, quanto maior a idade, maior a proporção do público feminino: elas representam, dessa forma, 18% dos óbitos de pessoas na faixa dos 60 a 69 anos, 26% entre 70 a 79 anos e 30% a partir dos 80 anos.
Entre os que morreram conduzindo um automóvel, os homens são maioria (92%), com idade entre 60 e 69 anos (60%) e era branca (76%).
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o automóvel um dos meios de transporte importantes para os 60+. Por isso, recomenda que as cidades tenham condições que permitam a essas pessoas continuar dirigindo.
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Diversos estudos mostram, ainda, que os 60+ que dirigem e têm acesso ao automóvel saem mais frequentemente de casa do que os idosos que não têm esse bem.
No entanto, vale lembrar que essa população passa por perdas sensoriais e cognitivas importantes que
podem influenciar em sua capacidade de dirigir. Na faixa dos 70 aos 74 anos, cerca de 14% dos 60+ apresentam déficits visuais significativos. Já entre as pessoas de 85 anos ou mais, a perda visual abrange 32% dessa população.
Mas as limitações variam muito de pessoa para pessoa, então não há como precisar uma idade para a aposentar a CNH. Para os especialistas, as avaliações para verificar se há condições de renovação da carteira de habilitação devem ocorrer em períodos menores comparados a outras faixas etária. É fundamental que haja, também, bom senso dos condutores e, muitas vezes, influência da família para ajudar na decisão de que chegou a hora de parar.
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Para entender os motivos que levaram a abandonar ou não o hábito de dirigir, a pesquisa contou com uma etapa qualitativa, com entrevistas em profundidade.
Entre as mulheres que pararam de digir, o principal motivo foi a falta de segurança pública ou viária. Já entre os homens, a motivação é a questão econômica, pois consideram cara a manutenção do automóvel.
Questões de saúde não foram mencionadas como principal para os 60+ deixarem de dirigir. Entretanto, os familiares dos homens colocaram a dificuldade de enxergar como um dos principais fatores.
Para alguns idosos entrevistados, parar de dirigir trouxe sentimento de tristeza, perda de independência e
de autonomia.
Para quem parou de dirigir, os meios de transporte utilizados atualmente são caminhada, aplicativos de transporte e transporte público. O maior benefício citado por eles é a economia.
Os 60+ que continuam dirigindo entrevistados pelo estudo têm um papel importante na família, levando e buscando familiares em compromissos e fazendo compras. Eles afirmam que não pensam em parar tão cedo e avaliam que saberão distinguir a hora em que terão que aposentar a CNH.
A maior parte dos 60+ que dirige não utiliza aplicativos para aprender o caminho, preferindo contar com a própria experiência ou perguntar o trajeto a outras pessoas. Os motociclistas aparecem como uma ameaça tanto para os 60+ que dirigem quanto para os que pararam de guiar.