A forma mais eficiente de manter a regularidade no transporte público passa pelo planejamento operacional. Esse trabalho de conciliar os veículos com os condutores em diferentes horários de circulação é realizado por softwares.
Eles são capazes de refazer em poucos minutos, com a ajuda de algoritmos, o que uma pessoa levaria ao menos dois dias para resolver em caso de imprevistos comuns, como uma nova obra no trajeto ou o afastamento de um motorista. Isso mantém a regularidade na oferta de transporte.
André Vieira, diretor comercial da israelense Optibus, conta como está ocorrendo a implantação dos serviços da empresa nos corredores de ônibus (BRT) de Sorocaba (SP), onde há 70 veículos distribuídos por 16 linhas, transportando 53 mil passageiros por dia.
“Antes, a organização era feita em planilhas de Excel. O projeto piloto realizado pela Optibus nos corredores trouxe ganho de desempenho e economia de recursos. Conseguiu reduzir a quilometragem ociosa, as horas extras e replanejou o sistema”, garante Vieira. A Optibus existe desde 2014. No Brasil já soma 40 clientes e seus serviços são utilizados em frotas de cinco capitais.
Segundo a empresa, o corredor de Sorocaba passará a ter alterações automatizadas. Isso vai aumentar a previsibilidade para todas as equipes envolvidas e, claro, para os passageiros, já que a plataforma ajuda na programação das rotas, na frequência ideal das viagens, na agenda dos motoristas e permite medir os resultados obtidos a partir de informações que confrontam, por exemplo, o tempo total de trabalho dos motoristas com o tempo efetivo de condução. A implantação estará concluída em março de 2023.
Wan Chih, diretor de negócios da catarinense WPlex, conta que o tempo parado nos pontos finais costuma responder por 20% a 30% do total da operação. “A parada de cinco minutos para o motorista ir ao banheiro pode se estender para 20 minutos ou meia hora. Com o planejamento adequado, os ônibus passam a realizar mais viagens e é possível reduzir esse tempo parado para 10%”, garante.
A WPlex foi criada em 1999. Os bons resultados mantêm alguns clientes desde o surgimento da empresa. “O retorno é certo. Um trabalho convencional, feito no Excel, costuma ter muitos erros. Com um software dotado de algoritmos você evita falhas com estas, que que têm custo alto.” A WPlex atende cerca de 60 empresas de 30 cidades. São 12 mil ônibus transportando 4 milhões de passageiros por dia, aproximadamente.
Wan Chih é um dos fundadores da empresa. A experiência no segmento vem da antiga Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), onde conseguiu o primeiro emprego. “Lá eu desenvolvi uma metodologia [de planejamento operacional] em papel milimetrado”, recorda.
Segundo Chih, Jânio Quadros, em seu segundo mandato como prefeito de São Paulo (de 1986 a 1988), fez com que outras empresas de ônibus da cidade implantassem o método. Ainda de acordo com o executivo, a criação da WPlex ocorreu no fim dos anos 1990 por causa do maior acesso aos computadores naquele período.
Outra especialista em planejamento operacional é a espanhola Goal Systems, empresa de 30 anos que atua há dez no Brasil. “Nosso histórico mostra economia de 4% a 15% no custo da operação”, garante Romano Garcia, diretor comercial da companhia para a América Latina. A Goal Systems atua em capitais como Florianópolis (SC), Salvador (BA) e Belo Horizonte (MG).
Também está no sistema TransMilênio de Bogotá, na Colômbia (com mais de 13.000 veículos) e no Transantiago, no Chile (mais de 7.000 ônibus). A experiência com o transporte sobre trilhos obtida na Espanha e outros países europeus garantiu a participação no metrô do Rio de Janeiro e agora na implantação do sistema na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
A Goal fará o planejamento operacional de cinco linhas. “É uma operação gigante. São cerca de 2 milhões de passageiros por dia, 140 trens e pelo menos 1.200 maquinistas. O trabalho tem de levar em conta quedas de energia, alagamentos e de alguma forma fazer o replanejamento”, garante Garcia.
As três empresas oferecem sistemas do tipo SaaS (do inglês Software as a Service), hospedados em nuvem e pagos como uma assinatura mensal. Para todos eles o cliente só precisa em tese de um computador com acesso à internet, não é necessária a instalação de equipamentos nos veículos ou garagens.
Mas o controle efetivo das frotas só ocorre quando cada unidade recebe um localizador GPS. “Essa é a forma de aproximar a curva do trabalho previsto à do trabalho realizado”, admite Romano Garcia, da Goal Systems.
O executivo garante: “Poucas tecnologias se pagam tão facilmente.” Segundo ele, o retorno obtido vai de duas até cinco vezes o valor investido. Tanto a Goal como a WPlex costumam atender frotas com a partir de 50 veículos. A Optibus não estabelece um limite mínimo.