Luciana Nicola

Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco.

Tendências para uma mobilidade descarbonizada

Aumento do uso de bicicletas e da participação de veículos elétricos e híbridos na frota são os caminhos para uma mobilidade mais sustentável. Foto: Getty Images

19/04/2023 - Tempo de leitura: 3 minutos, 33 segundos

O caminho para atingir a meta do Acordo de Paris está ficando mais estreito. O objetivo é limitar o aquecimento global em 1,5 °C até o fim deste século, em relação aos níveis pré-industriais. Mas já chegamos a 1,1 °C; e, para termos alguma chance de cumpri-lo, será necessário que o planeta zere a emissão líquida de gases de efeito estufa até 2050. Nessa jornada, a busca por uma mobilidade limpa será fundamental.

Quando falamos em mudanças climáticas no Brasil, não é raro pensarmos só em preservação florestal, pela centralidade da Amazônia. Mas devemos lembrar que as cidades também têm um papel importante na emissão de gases de efeito estufa.

No Brasil, a maioria da população (85%) ocupa áreas urbanas. O deslocamento de milhões de pessoas tem um alto custo ambiental, reforçando a necessidade de uma mobilidade mais limpa. Para ter uma ideia, o setor de energia era o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa, em 2021, no País, segundo o Observatório do Clima, e o transporte respondia por quase 50% desse total.

Não à toa, o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, da ONU, é enfático: temos de cortar o consumo de petróleo no mundo em pelo menos 60% até 2050 – e, consequentemente, também aconselha a massificação de meios alternativos de mobilidade. Isso evidencia três tendências para o Brasil: mais eletrificação no transporte, uso mais intensivo de bicicletas – incluindo as elétricas – e adoção de tecnologia para tornar a mobilidade mais eficiente.

Eletrificação

Em 2023, segue, no Brasil, o crescimento robusto na venda de veículos eletrificados. No primeiro bimestre, houve um aumento de 47% no número de unidades comercializadas, em relação ao mesmo período de 2022, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Esse dado chama ainda mais atenção pelo fato de o licenciamento de carros em geral ter crescido apenas 3,9% no mesmo período, segundo a Anfavea.

O empenho do governo para fortalecer a indústria nacional pode beneficiar a produção brasileira de automóveis eletrificados e híbridos, que rodam com energia elétrica e etanol, mais limpo que a gasolina – uma boa notícia para o meio ambiente. Também há outros movimentos do poder público, como o investimento na eletrificação dos ônibus em São Paulo, para cumprir a lei que determina que ao menos 20% da frota seja elétrica até 2024.

Sob duas rodas

Durante a pandemia, aumentou o uso de bicicletas, e não só nas regiões centrais. Uma pesquisa da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo e do coletivo Bike Zona Leste mostrou um incremento de 54% no número de ciclistas na periferia, entre 2016 e 2020. Já o sistema de compartilhamento de bikes do Itaú Unibanco, operado pela Tembici, teve uma evolução de 15% no número de deslocamentos em 2022, em relação a 2021. Para 2023, estão previstas mais estações do programa. A pandemia passou; a adesão às bicicletas, não.

Um estudo do Instituto Clima e Sociedade ajuda a entender esses resultados. Entre os entrevistados, 67% se dispõem a trocar seu meio de transporte individual por outro mais limpo. Já as bicicletas ficaram em segundo lugar como o melhor transporte para o dia a dia, atrás apenas dos ônibus.

O cenário favorece o crescimento do uso de bicicletas no Brasil. Fortalecer uma infraestrutura amigável, com mais ciclovias e estações de compartilhamento de bicicletas, inclusive elétricas, será fundamental para consolidá-las no dia a dia do brasileiro.

Uma última tendência é a tecnologia 5G, com a possibilidade de interligar todos os modais de uma cidade, permitindo fazer, em tempo real, as melhores escolhas de trajetos. Enquanto a transição para uma mobilidade mais limpa não chega, isso ajudará a controlar parte da emissão de gases de efeito estufa.

O caminho para atingir a meta do Acordo de Paris está mesmo ficando mais estreito, mas devemos ser otimistas e nos engajar nessa causa, pois ainda é possível percorrê-lo, desde que seja de uma maneira mais sustentável e inteligente. E essas opções estão ao nosso alcance.