Luciana Nicola

Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco.

Transição para uma mobilidade sustentável

A COP-30: oportunidade para o setor de transportes do Brasil. Foto: Adobe Stock

Há 3h - Tempo de leitura: 3 minutos, 40 segundos

A mobilidade é um dos eixos centrais da COP-30. A Agenda de Ação, que orienta as discussões do evento, destaca o papel do transporte na meta do Acordo de Paris e mostra oportunidades para o Brasil na jornada de descarbonização do setor que podem ganhar destaque com a visibilidade da conferência.

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Como aponta a Organização das Nações Unidas (ONU), o segmento é responsável por um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa. Levando em conta que 95% da energia usada na mobilidade mundial vem de combustíveis fósseis, a descarbonização é uma longa jornada.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), é necessária uma queda de 25% nas emissões globais de transporte para se chegar a um cenário net zero até 2030. Para isso, diz, é preciso diminuir a intensidade das emissões de todos os tipos de transporte – público e privado, aéreo, marítimo e terrestre.

Isso pode ser alcançado pela adoção de combustíveis menos carbono-intensivos e pela adoção de medidas tecnológicas e operacionais capazes de aumentar a eficiência no uso de energia para a mobilidade.

Eletrificados em alta e transporte sustentável

Com o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), lançado em 1975, o Brasil iniciou sua história com a produção e consumo de etanol.

Nos últimos anos, criou novos dispositivos normativos para fortalecer ainda mais a adoção de biocombustíveis, como o RenovaBio e a Lei do Combustível do Futuro, incluindo outros produtos além do etanol, como biodiesel, diesel verde, biometano e combustível sustentável de aviação.

O Itaú BBA – que lidera a emissão de debêntures de empresas de biocombustível – prevê que, até 2037, a produção de etanol proveniente de cana e milho deverá crescer 84%, e a de biodiesel, 130%. E o País tem a possibilidade de se tornar uma liderança nesse tipo de geração com práticas que minimizam impactos ambientais.

Iniciativas de recuperação de áreas degradadas permitem o aumento da produção de biocombustíveis de maneira sustentável, sem avançar sobre áreas de vegetação nativa.

Criado pela Syngenta, com financiamento do Itaú BBA e apoio da The Nature Conservancy, o Programa Reverte, por exemplo, já recuperou 279 mil hectares, área equivalente a mais de cinco cidades de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

E, no Brasil, os biocombustíveis também têm papel complementar ao uso de outra fonte renovável: a eletricidade. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), de 2023 para 2024, houve aumento de 88% nas vendas de veículos eletrificados, com destaque para os híbridos, que combinam etanol e energia elétrica.

Vale notar que o Itaú Unibanco tem objetivo de reduzir em 44% a intensidade de emissões financiadas para compra e fabricação de veículos leves até 2030 – incluindo eletrificados e os que usam biocombustíveis –, em linha com o cenário Net Zero, que limite a mudança climática a 1,5ºC, da Agência Internacional de Energia (IEA).

Financiamento

Em comum entre todos esses pontos está a questão do financiamento, tanto que esse é um eixo transversal da Agenda de Ação, atravessando todos os outros. A Climate Policy Initiative estima que o Brasil vai precisar de U$ 2,4 trilhões até 2050 para a transição climática. E a COP-30 é um momento especial para mostrar iniciativas sustentáveis práticas e buscar recursos para impulsioná-las.

Neste sentido, juntamente com nossos parceiros Itaúsa, Marcopolo, Natura, Nestlé, Vale e Bradesco, criamos a Climate Action Solutions & Engagement (C.A.S.E.) para divulgar, durante a conferência, soluções concretas e escaláveis, fortalecendo o protagonismo brasileiro na liderança da agenda climática global.

A pauta ESG é para além das responsabilidades sociais e ambientais, ela configura uma agenda de negócios. A transição só estará completa com uma economia de base renovável, resiliente e inclusiva.

Nesse contexto, a COP-30 é uma grande oportunidade para mostrar o que já fazemos em termos de transporte sustentável, e incentivar a alocação de recursos que impulsionem as soluções que irão acelerar a jornada rumo a uma mobilidade de menores emissões fósseis.

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