Descarbonização: ônibus Elétrico rodando pela capital paulista_SP_Foto: Divulgação prefeitura de SPônibus Elétrico_SP_Foto: Divulgação prefeitura de SP
Em São Paulo, as grandes obras viárias sempre chamaram a atenção: túneis, viadutos e novas pistas parecem, à primeira vista, oferecer alívio ao trânsito intenso da cidade. Mas a experiência mostra que o resultado raramente é duradouro.
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A fluidez que se busca com o aumento da capacidade viária tende a se perder em pouco tempo, porque mais espaço para carros atrai mais deslocamentos motorizados. É o conhecido efeito da demanda induzida: quando dirigir se torna mais fácil, mais pessoas optam pelo automóvel – até que o congestionamento retorne.
Novas propostas, como o túnel sob a Avenida Sena Madureira ou um viaduto sobre a Marginal Pinheiros, podem ter mérito técnico e intenção legítima de melhorar a circulação. Diante dos atuais desafios, porém, é essencial que a cidade avalie se o retorno desses investimentos compensa frente a outras necessidades.
Cada bilhão de reais destinados a uma obra rodoviária é um bilhão a menos para corredores de ônibus, requalificação de calçadas, ciclovias seguras e acessibilidade – iniciativas que beneficiam milhões de paulistanos todos os dias.
A Prefeitura de São Paulo tem avançado em políticas de mobilidade sustentável, com planos e metas claras: ampliação da rede de transporte público, integração entre modos e incentivo aos deslocamentos ativos. É a cidade que lidera a eletrificação de frotas de ônibus urbanos no País e que discute abertamente o subsídio ao transporte público, além de ter criado um programa de tarifa zero aos domingos.
Essas diretrizes estão presentes no Plano Diretor e no Plano de Mobilidade Urbana, que reconhecem a necessidade de priorizar pessoas, e não veículos. É uma visão moderna, em linha com o que fazem cidades inovadoras do mundo, como Paris, Bogotá e Medellín, que investem em transporte coletivo de qualidade, calçadas acessíveis e gestão inteligente do tráfego.
Manter essa coerência entre plano e investimento é fundamental. Obras que priorizam o automóvel podem não trazer o resultado esperado em áreas já saturadas. Um túnel na Sena Madureira, por exemplo, tenderia a deslocar o gargalo para o entorno do Ibirapuera; um novo viaduto na Marginal Pinheiros, a intensificar a pressão sobre cruzamentos e acessos. O risco é perpetuar o ciclo de obras caras e ganhos passageiros.
Vivo em São Paulo desde 2003. Neste período vi novas faixas de carros, túneis e viadutos serem implementados. Todos congestionados meses depois da sua inauguração. Qual túnel em São Paulo não sofre congestionamentos praticamente o dia todo? Quem se lembra que em 2010 foi inaugurada uma faixa central na Marginal Tietê com a promessa de resolver os engarrafamentos naquela via?
Nenhuma metrópole do mundo resolveu o trânsito com mais pistas. Los Angeles, Houston e Jacarta são exemplos de como o aumento da oferta viária apenas estimula mais viagens motorizadas e dependência do automóvel.
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Ao mesmo tempo, São Paulo enfrenta o desafio de reduzir emissões e melhorar a segurança viária. Projetos voltados ao transporte coletivo e à mobilidade ativa contribuem para ambos os objetivos: menos poluição, menos acidentes, mais eficiência no uso do espaço.
Investir em ônibus elétricos, corredores dedicados e sistemas inteligentes de controle de tráfego é investir em produtividade, saúde e qualidade de vida urbana.
A engenharia tem papel essencial nesse processo – mas a engenharia moderna não se resume ao concreto. Ela se traduz em soluções integradas, sustentáveis e adaptadas ao futuro da cidade. São Paulo já mostrou capacidade técnica e institucional para liderar essa transformação. Com planejamento, diálogo e foco no interesse público, é possível equilibrar intervenções pontuais com políticas estruturantes que beneficiem todos.
Em síntese, por detrás da polêmica sobre túneis e viadutos, o que encontramos é o debate sobre qual São Paulo queremos construir. Uma cidade voltada para as pessoas, com transporte público eficiente, calçadas acessíveis e espaços urbanos vivos, será sempre mais dinâmica e inclusiva do que aquela que busca resolver seus desafios apenas com mais faixas e pistas.
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