Vans elétricas e ônibus híbridos: os planos de Maricá (RJ) para descarbonizar o transporte público

Testes recentes estão sendo realizados com o protótipo de ônibus híbrido elétrico-hidrogênio desenvolvido pela UFRJ. Foto: Divulgação/Prefeitura de Maricá

Há 3h - Tempo de leitura: 3 minutos, 40 segundos

Maricá (RJ), uma das primeiras cidades brasileiras a adotar a tarifa zero no transporte público, quer ser pioneira também na descarbonização da frota de veículos que fazem o transporte de passageiros. A Empresa Pública de Transportes (EPT) da cidade fluminense está testando ônibus híbridos elétrico-hidrogênio desde o início do ano e se prepara, agora, para lançar um plano de transição energética das vans de transporte complementar.

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As vans do transporte complementar funcionam na cidade alimentando bairros distantes dos corredores principais, onde a demanda é pequena. O objetivo, agora, é incorporar todas as empresas que operam esse serviço à direção da EPT, com tarifa zero, e, ao mesmo tempo, financiar as vans elétricas através de recursos do Banco Mumbuca, ligado à prefeitura. O início da transição será ainda este ano, segundo a EPT.

O carregamento dos veículos elétricos será feito em pontos de carregamento da própria prefeitura. Segundo o presidente da EPT, Carlos Haddad, haverá, portanto, pontos nos quatro distritos da cidade. A criação dessa infraestrutura é coordenada pela Coppe/UFRJ em parceria com a Tracel, empresa co-executora. As futuras estações de abastecimento atenderão os ônibus e, além disso, a frota de ônibus escolares elétricos.

Maricá quer usar royalties do petróleo para descarbonização

A cidade é o maior recebedor de royalties do petróleo do País, ultrapassando a marca de R$ 1,6 bilhão de arrecadação apenas em 2025, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). De acordo com Carlos Haddad, presidente da EPT, o plano da atual gestão é usar esse recurso, enquanto ele existe, para deixar um legado de investimentos nos setores prioritários, como a mobilidade urbana.

O número de deslocamentos no transporte público de Maricá cresce continuamente desde 2014, quando começou a tarifa zero. Então, eram 2,1 milhões de passageiros por ano e 3 linhas de ônibus, com frota de apenas 13 veículos. Uma década depois, em 2024, esse número chegou a 38,5 milhões de passageiros transportados anualmente, com 49 linhas e 157 veículos.

Ônibus híbridos elétrico-etanol e elétrico-hidrogênio em testes

Além das vans, a cidade testa protótipos de ônibus híbridos desde 2021. Os protótipos, desenvolvidos em parceria entre a Coppe/UFRJ e o Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM), contam com um único motor de tração elétrica. Além disso, há uma central inteligente – composta por software e hardware – que gerencia diferentes formas de captação e uso da energia.

Testes mais recentes estão sendo realizados com um protótipo híbrido elétrico-hidrogênio. Foto: Divulgação/Prefeitura de Maricá

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O modelo híbrido elétrico-etanol passou por diversas fases de demonstração no município desde 2022. Atualmente, está em operação o quarto protótipo, que incorpora atualizações e ajustes decorrentes das versões anteriores.

Os testes mais recentes, com passageiros, estão sendo realizados com outro protótipo, híbrido elétrico-hidrogênio, também desenvolvido em parceria entre a Coppe/UFRJ e o ICTIM. Uma linha foi criada especificamente para esse fim, a E-16 – Hospital Conde Modesto/Hospital Ernesto Che Guevara. Os testes iniciaram em dezembro de 2024 e seguem, dessa forma, ocorrendo semanalmente. Além disso, nesse período os motoristas da EPT também recebem treinamentos específicos para uso eficiente dos sistemas de energia do veículo.

Após a finalização dos testes e a definição de qual tecnologia oferece melhor custo-benefício, será necessário encontrar uma montadora que fabrique os veículos conforme as especificidades do projeto.

Veículos 100% sem combustíveis fósseis até 2037

Os planos da EPT é que essa transição termine, com 100% da frota livre de combustíveis fósseis, até 2037. Apesar do longo prazo, o presidente da EPT afirma que essa meta começou em 2017 e avançou muito desde então. “Vamos até o fim. Queremos continuar sendo uma referência de transporte, mas também em matrizes sustentáveis. Melhores rotas, melhores ônibus e sim, ônibus descarbonizados”, diz.