carro elétrico_Adobe StockColor image depicting a man charging his electric vehicle at home.
A indústria automobilística vive uma transição histórica que melhora a vida das pessoas. Os veículos elétricos (VEs) já são comuns em várias regiões, e os países que abraçam essa mudança colhem benefícios econômicos, ambientais e de saúde pública. O Brasil não pode deixar que mitos e medos bloqueiem a adoção de uma tecnologia superior – e geradora de empregos.
Discute-se no País a criação de regras de segurança contra incêndio muito rígidas, voltadas especificamente para VEs. Quando baseadas em suposições sem evidências, medidas assim arriscam travar um mercado nascente. Também é fato que campanhas de desinformação têm sido usadas para retardar a transição para veículos de emissão zero.
Há 15 anos, na Noruega, também começamos com dúvidas e receios. Fomos pioneiros e, à época, sabíamos pouco sobre o assunto. Hoje é diferente: acumulamos experiência, nossos bombeiros sabem como agir em incidentes com baterias e, principalmente, temos estatísticas. Elas mostram que os carros elétricos têm menor probabilidade de incendiar do que modelos a combustão.
Ao fim, prevaleceu o pragmatismo baseado em fatos. As decisões passaram a ser guiadas por evidências – não por medo, guerra cultural ou proibições ad hoc. Como debates semelhantes ressurgem em outros países, compartilho a experiência norueguesa para que o Brasil não cometa erros evitáveis.
Como ex-ministro do Clima e do Meio Ambiente e parlamentar por mais de 12 anos, trabalhei para acelerar a adoção de VEs. Em 2015, tive papel central na meta de que, até 2025, todos os novos carros vendidos na Noruega fossem 100% elétricos – e o resultado foi um sucesso.
Hoje, na Noruega mais de 95% dos carros novos vendidos até agora, neste ano, são totalmente elétricos, e já somam 30% da frota de passeio. Com mais VEs, veio mais recarga: empresas instalaram pontos por todo o país, permitindo viajar com facilidade, inclusive em regiões remotas.
VEs trazem ar mais limpo, menos ruído e usam a energia de forma muito mais eficiente. A transição é vital para cortar emissões de gases de efeito estufa e cumprir metas climáticas. O avanço das vendas reduziu as emissões do transporte e a poluição urbana, com ganhos diretos para a saúde.
A Noruega é pouco povoada, com longas distâncias e invernos rigorosos. Ainda assim, os VEs funcionam bem em todas as regiões, inclusive ao norte do Círculo Polar Ártico.
Apesar do uso elevado, incêndios envolvendo VEs são raríssimos. Estatísticas oficiais de 2024 registram apenas 8 incêndios por 100 mil veículos elétricos, frente a 40 por 100 mil carros a combustão. Ou seja, os VEs são significativamente menos propensos a incêndios. Não há motivo para esperar um padrão diferente no Brasil conforme a frota cresce.
Nosso arcabouço regulatório ajuda: incentivamos carregadores em prédios residenciais e comerciais, porque infraestrutura adequada é condição para uma recarga segura. E, crucialmente, as normas de segurança contra incêndio aplicam-se igualmente a todos os veículos – elétricos e a combustão. Os bombeiros são treinados para ambos os cenários, e os protocolos de emergência foram atualizados.
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Os veículos elétricos vieram para ficar. Se a Noruega conseguiu, o Brasil também consegue. Ambos têm matrizes predominantemente renováveis e vastos recursos. O clima brasileiro é ainda mais favorável à eficiência das baterias do que o frio do norte – é o sonho de muitos noruegueses dirigir um VE em um país ensolarado como o Brasil.
Meu apelo é muito simples: que novas regras de segurança se apoiem em experiência e fatos, não no medo. A lição norueguesa é que dá para ampliar a adoção de VEs com responsabilidade, por meio de regulação equilibrada e neutra em relação à tecnologia. Regulação baseada em evidências também dá previsibilidade ao investimento privado e acelera a inovação nacional.
As decisões tomadas agora no Brasil são importantes. Um Estado líder como São Paulo pode estabelecer um precedente construtivo; o caminho oposto atrasará o futuro limpo, dificultará novas oportunidades de emprego e custará caro à saúde pública. O bom senso regulatório salvará tempo, recursos e, sobretudo, vidas.
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