O VLT Carioca registrou 2 milhões a mais de passageiros em 2025. Foto: Alex Ferro/Motiva
O VLT Carioca transportou 13 milhões de passageiros entre janeiro e junho de 2025, um crescimento de 18% em relação ao mesmo período do ano anterior. O avanço foi o maior da plataforma de trilhos da Motiva, que também opera as Linhas 4, 5, 8 e 9 em São Paulo e o Metrô Bahia. No total, os modais do grupo somaram 369,3 milhões de passageiros no semestre.
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Conforme José Carlos, gerente de manutenção da Motiva Mobilidade, o desempenho se deve à operação plena da nova Linha 4, que liga o aeroporto Santos Dumont ao Terminal Intermodal Gentileza. “Ela representa a conexão que faltava para integrar todos os modais do Rio. Com ela, conseguimos fazer o passageiro sair do avião, pegar o VLT, depois o BRT e chegar até a zona oeste”, explica.
Além da nova linha, a requalificação urbana da região central também contribuiu para a retomada da demanda. Para Aline Leite, coordenadora de mobilidade urbana do ITDP Brasil, o sistema tem um papel simbólico na valorização do espaço público. “O VLT recupera a vivência na cidade. Ele conecta áreas históricas e culturais e convida o pedestre a circular por lugares que antes eram apenas pontos de passagem”, afirma.
De acordo com Aline, há uma mudança visível no perfil dos passageiros. “Se, antes, o foco era o trabalhador do Centro, hoje vemos famílias, turistas, estudantes e até pessoas que usam o VLT como parte do roteiro cultural. Ele passa por lugares como o Museu do Amanhã, a Praça Mauá, a Pedra do Sal. Isso aproxima o transporte público da vida urbana de fato.”
Ela também destaca a qualidade da viagem como fator de atração. “O VLT é confortável, acessível, silencioso e sem emissão de poluentes. Ele dá uma experiência que o ônibus ou o trem nem sempre conseguem oferecer”, avalia.
Apesar do crescimento, o sistema enfrenta obstáculos. Um deles é o modelo de financiamento. O VLT Carioca tem tarifa de R$ 4,70 e não recebe subsídio público. “É o único sistema do Rio de Janeiro que opera sem nenhum tipo de subsídio, o que é insustentável no longo prazo”, afirma Aline. “Tarifa não deve ser o único pilar de financiamento de um serviço essencial como o transporte público.”
De acordo com ela, já existem tratativas com a Prefeitura para discutir formas de apoio e integração tarifária com os ônibus municipais. Outro desafio apontado por Aline é a transição para o novo sistema de bilhetagem digital “Jaé”, que ainda não foi plenamente absorvido pela população. “O processo é positivo, mas falta comunicação. Muita gente ainda não entende como funciona, o que gera insegurança no uso do sistema”, diz.
Além disso, Aline destaca pontos críticos de infraestrutura nas estações. “Faltam painéis de informação, a sinalização em algumas paradas é precária, e há locais com iluminação insuficiente, o que afasta novos usuários, especialmente mulheres”, alerta.
José Carlos afirma que a Motiva vem atuando junto ao poder público para resolver esses gargalos. “A gente entende que, para atrair mais passageiros, é preciso garantir conforto e segurança. Já estamos trabalhando na atualização de sinalização, iluminação e integração visual com outros modais.”
A Motiva vê potencial para levar o VLT a outras regiões da cidade. “Estamos em diálogo com o município para avaliar novas conexões, como uma expansão até São Cristóvão”, diz José Carlos. Ele reforça, no entanto, que qualquer ampliação depende de políticas públicas estruturadas. “O VLT é uma solução eficiente, mas para crescer precisa de apoio institucional.”
Para Aline, a experiência do VLT Carioca mostra que o modal pode ser uma alternativa viável para outras cidades brasileiras. “É uma solução de média capacidade, que funciona bem em centros urbanos densos e turísticos. Mas não pode ser implantado de forma isolada. Ele tem que dialogar com o planejamento urbano, com as políticas de transporte e com as necessidades reais da população.”
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