Beneficiárias do Auxílio Brasil opinam sobre Eleições 2022

Brasileiras e brasileiros começaram (em agosto) a receber o Auxílio Brasil de R$ 600, que vai até dezembro de 2022, de acordo com emenda constitucional promulgada em julho pelo Congresso Nacional. Foto: ADRIANA TOFFETTI/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

24/08/2022 - Tempo de leitura: 3 minutos, 49 segundos

As mais de 20 milhões de famílias beneficiárias do Auxílio Brasil passam a receber a partir deste mês de agosto um valor maior do benefício: o repasse será de R$ 600, frente aos R$ 400 pagos até aqui. Mas essa alta vale apenas até dezembro de 2022. Integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, a assessora parlamentar Monica Oliveira acredita que o movimento do governo é uma tentativa de Jair Bolsonaro conseguir mais votos nas eleições de 2022. “Sem sombra de dúvidas o auxílio vai garantir mais votos para ele, porque ainda existe na população brasileira uma certa noção de ‘gratidão’, que é aproveitada nessa estratégia do candidato Bolsonaro”, afirma.

Mesmo com a legislação eleitoral proibindo a criação de benefícios em ano de eleição, exceto em casos de calamidade pública e estado de emergência, o governo viabilizou o aumento temporário do Auxílio Brasil. Isso ocorreu por meio da aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 1/22, que institui “estado de emergência” em razão da alta dos preços dos combustíveis.

Além da ampliação do auxílio, a proposta criou um benefício para caminhoneiros e taxistas, e aumentou o valor do Auxílio Gás. O texto ganhou o apelido de ‘PEC Kamikase’ por seu impacto nas contas públicas.

Apesar disso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o candidato com maior intenção de votos entre os beneficiários do programa Bolsa Família, conforme apontou pesquisa do Datafolha. O instituto ouviu mais de 5.744 eleitores entre os dias 16 à 18 de agosto, e revelou que Lula tem 56% das intenções de voto entre pessoas que recebem o Auxílio Brasil ou moram com alguém que é beneficiário. Jair Bolsonaro, por sua vez, tem 28% entre esse grupo.

A reportagem entrevistou beneficiárias para entender como elas enxergam o cenário. Elizabete Viela recebe o Auxílio Brasil e passou a considerar o voto em Bolsonaro em razão do aumento do benefício. A dona de casa é mãe de seis filhas e vive em Paraisópolis, zona sul de São Paulo. Ela conta que estava sem esperanças nas políticas e pretendia não votar nas eleições deste ano. Mas o benefício de R$ 600 a fez querer dar mais uma chance ao atual presidente Jair Bolsonaro. “Não é só pelo auxílio, ele é uma pessoa cristã, eu também sou”, explica. Elizabete afirma, no entanto, que o valor é baixo diante da alta da inflação. “R$ 400 é uma ajuda, mas pelos preços que as coisas estão hoje, a gente pode dizer que é quase nada.”

O Auxílio Brasil começou a ser pago em novembro de 2021, em substituição ao Bolsa Família. Trata-se de um programa de transferência de renda para famílias pobres e extremamente pobres. De acordo com o Ministério da Cidadania, no total, o programa repassa R$ 12 bilhões por mês aos beneficiários.

Symone Gomes Ferreira também considera o valor baixo para as necessidades do cotidiano. “Eles aumentam o auxílio e as coisas vão a um milhão também: o alimento, o gás, o aluguel, aumenta”, afirma ela, que vive na cidade de Nossa Senhora do Socorro (SE). Mãe de cinco filhos, Symone está desempregada. Ela entende o aumento do benefício como um modo de Bolsonaro conseguir se reeleger, mas de sua parte já decidiu votar em Lula.

“Quando Lula ganhou a eleição muita coisa mudou, muito pobre nunca tinha chegado nem na porta da faculdade e começou a estudar. Muitos conseguiram sua casinha, seu carrinho. E agora muitos já estão se desfazendo, por causa das dívidas. em o carro e já não consegue colocar gasolina”, diz.

As eleições de 2022 acontecem nos dias 2 e 30 de outubro, e decidem quais serão os nomes a ocupar os cargos de presidente da República, governadores dos estados, senadores e deputados federais, estaduais e distritais.

Aumento da pobreza no Brasil: com o corte do auxílio emergencial, a alta da inflação e a retomada lenta do mercado de trabalho, o salto de pessoas em situação de extrema pobreza nas metrópoles brasileiras já beira os 20 milhões, segundo pesquisadores da área, sendo o maior índice em uma década. Na foto, pessoa em situação de rua na região central da capital paulista, na manhã do dia 8 de agosto. Foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO