Com reportagem de Simião Castro
O padre Júlio Lancellotti, referência nacional em atendimento e cuidado a pessoas em situação de rua, recebeu um prêmio do MTV Miaw na noite de terça-feira, 26. O evento entregou ao religioso o troféu “Transforma Direitos Humanos”, que o dedicou aos moradores em situação de vulnerabilidade.
A homenagem é um reconhecimento pelos esforços do padre na defesa de grupos marginalizados e ao trabalho feito na Mooca, na zona leste de São Paulo, junto a pessoas em vulnerabilidade social. Ele distribui diariamente um café da manhã reforçado, roupas e doações aos mais pobres e é constantemente criticado por isso.
Aporofobia, não!
Ao receber o troféu “Transforma Direitos Humanos”, Júlio Lancellotti falou brevemente à plateia, tomada quase inteiramente por jovens, como esperado para um evento da MTV, e foi ovacionado pelo público. O evento será exibido na quinta-feira (28), às 21h, gratuitamente pela Pluto TV.
“Lutemos pela verdade e pela justiça, na defesa dos direitos humanos. Contra a homofobia, o racismo, toda forma de discriminação e preconceito”, disse o padre, que recebeu nova onda de aplausos.
“Ofereço este prêmio e a minha vida pelos moradores em situação de rua, encarcerados, prostituídas e prostituídos, por todos os que lutam pela vida”, encerrou o sacerdote pedindo um grito de “aporofobia, não” . O termo significa ódio aos pobres, demostrado de diversas maneiras.
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Padre Júlio Lancellotti é crítico ativo de políticas excludentes
Júlio Lancellotti também foi alvo de milícias digitais, que se empenham em desacreditar o padre e tentam desvalorizar as ações que exerce. O sacerdote já foi até ameaçado de morte.
Mas enquanto há quem o recrimine, também existem os que admiram o trabalho de Lancellotti nos mais altos círculos. Como o próprio Papa Francisco, que ligou diretamente para o padre em 2020. “Peço que não desanime e permaneça, como Jesus, ao lado dos mais pobres”, disse o pontífice na ocasião, segundo o pároco.
O padre também é crítico de intervenções urbanas que limitam o ambiente público com objetivo de impedir, por exemplo, pessoas de sentarem em degraus ou dormir em bancos. Reflexos do que ele chama de aporofobia. Ele é fundador das Casa Vida I e II, criadas inicialmente para atender crianças e jovens vivendo com HIV.
No início de 2021, Lancellotti chegou a arrancar a marretadas pedras assentadas pela Prefeitura de São Paulo embaixo de um viaduto. Ele, que é coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, classificou como “uma aberração” a ação. Após a repercussão negativa, a administração pública voltou atrás e desfez o serviço.