Mesmo com tantas adversidades, as favelas cariocas mantêm sua dinâmica particular e desafiam dia a dia as dificuldades, os estereótipos e os preconceitos. O colorido e o movimento das ruas. A diversão das crianças. O engajamento político. A cultura, a arte, a diversidade, a resiliência, o senso de comunidade. Com o objetivo de mostrar essas características, fotógrafos da comunidade registram o cotidiano da população local. Uma rotina que vai além da tragédia e da violência.
Em entrevista ao Expresso na Perifa, o fotógrafo Bruno Itan e a fotógrafa Josiane Santana concordam: a favela não é sinônimo de perigo e violência. Ela tem talento, arte e criatividade.
Bruno, de 34 anos, trabalha na fotografia há 14 anos. Natural de Recife e radicado no Complexo do Alemão, ele criou o projeto Olhar Complexo, que por meio de cursos e exposições transmite à população a importância da cultura da fotografia dentro das comunidades. “Além de construir memórias dos territórios, a ideia é proporcionar novas oportunidades. A gente quer gerar renda e ajudar a tirar os moradores da pobreza e da violência”, diz Bruno. “Isso aconteceu comigo quando eu escolhi a fotografia para a minha vida.”
De volta aos trilhos — Quando atravessava um período difícil na vida pessoal, a jornalista e fotógrafa Josiane Santana, de 34 anos, também encontrou na fotografia um novo caminho. Atualmente, ela integra a iniciativa coletiva Favelagrafia, em que nove fotógrafos retratam nove favelas do Rio de Janeiro. “O projeto é de 2016, mesma época que eu estava começando o curso de jornalismo. Enviei uma foto do teleférico do Alemão, que ainda funcionava na época, e um texto dizendo porque eu gostaria de participar. Alguns meses depois, passei a compor a equipe.” Os outros participantes são Anderson Valetim, Elana Paulino, Jéssica Higino, Joyce Marques, Magno Neves, Omar Britto, Rafael Gomes e Saulo Nicolai.
O Favelagrafia se empenha, principamente, em documentar o cotidiano artístico-cultural das comunidades. De acordo com Josiane, que atua no Complexo da Penha e no Morro do Alemão, a fotografia é um ato político, porque permite construir uma narrativa verdadeira e concreta capaz de confrontar as que sempre foram impostas a esses locais de forma preconceituosa. “Costumo dizer que o fotógrafo popular, de favela, tem a missão de levar o olhar de dentro para fora”, pontua. “A gente tá acostumado a ver uma narrativa contada de fora para dentro, de pessoas que não são das favelas. Quero quebrar esse preconceito que as pessoas têm contra o nosso CEP.”