Em reabertura, Museu do Ipiranga retrata o bandeirante ‘violento’ e ‘escravizador’

Em reabertura, Museu do Ipiranga trata bandeirante como ‘violento’ e ‘escravizador’. Foto: ISAAC FONTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

02/09/2022 - Tempo de leitura: 2 minutos, 18 segundos

Após nove anos fechado, o Museu do Ipiranga será finalmente reaberto ao público no dia 8 de setembro. De objetos táteis e painéis interativos, serão várias as novidades. Uma das principais é que para algumas obras, como as estátuas dos bandeirantes Raposo Tavares e Fernão Dias, a curadoria do museu usou recursos multimídia para abordar [importantes] debates e embates atuais.

Um dos objetos de contestação é a representação heróica do bandeirante [que foi instalada por Afonso Taunay (1876-1958) para o centenário, em 1922]. “Ele [Taunay] vai pontuar o caminho com pinturas e esculturas que reforçam o protagonismo paulista. E a figura-chave para a construção desse protagonismo é a figura do bandeirante”, diz o historiador Paulo Garcez Marins, pesquisador da USP e um dos curadores atuais.

CONTEXTO HISTÓRICO DAS OBRAS: ‘OS BANDEIRANTES PODEM SER CONSIDERADOS HERÓIS?’

A curadoria do Museu do Ipiranga buscou contextualizar as obras por meio de alguns dos 333 recursos multissensoriais disponíveis para o público. “Hoje, os bandeirantes podem ser considerados heróis?”, indaga um das telas localizada próximo da porta de entrada do espaço. Em seguida, é feita uma contextualização e uma conclusão. “O museu não concorda com esta imagem heróica dos bandeirantes, que simplifica um passado que também foi violento e escravizador.”

“Hoje essas figuras [bandeirantes] têm sido extremamente contestadas por vários setores da nossa sociedade”, diz Marins. A polêmica ficou mais forte na capital há cerca de um ano, quando uma estátua de Borba Gato, na zona sul de São Paulo, foi incendiada como forma de protesto contra um passado de morte e escravização. O ataque deu continuidade a uma onda de protestos contra monumentos a figuras históricas ligadas ao colonialismo e à escravidão, que ganhou força em EUA e Europa.

“Populações indígenas e populações negras são sempre representadas de maneiras subalternas, submissas”, diz o pesquisador. “E sabemos que a história do Brasil é feita de embates, de confrontos, de lutas e disputas. [No Ipiranga] o conjunto de imagens retrata sempre corpos pacificados, não há combates aqui.”

Conforme Marins, os curadores do Museu do Ipiranga transformaram em exposição uma área que era de circulação do prédio justamente para poder se aprofundar no tema. A nova exposição abrange desde o hall de entrada do prédio, passa pela escadaria de honra – feita de mármore e com esculturas de bandeirantes como Borba Gato – e termina no Salão Nobre, que era já uma área expositiva. “Transformamos todo esse espaço em uma área expositiva para podermos tratar com o público essa decoração que foi encomendada para o centenário.”