Em São Paulo, multiartista Ciano promove arte e educação nas periferias

A periferia move a criatividade e o engajamento do multiartista Ciano. Foto: Emerson Toco/Divulgação
Juca Guimaraes
29/03/2022 - Tempo de leitura: 2 minutos, 52 segundos

As 24 horas do dia do multiartista Ciano, de 24 anos, se multiplicam para acomodar as muitas atividades nas quais ele está envolvido e que trafegam por segmentos variados de linguagem e expressão, entre eles arte, comunicação, ancestralidade e educação, além do desenvolvimento sustentável dos territórios. A periferia, mais do que localização geográfica e social na metrópole, é onde Ciano encontra motivação para criar peças de teatro, livros, músicas, quadrinhos, cursos e oficinas.

Filho de um metalúrgico e uma auxiliar de enfermagem, Ciano cresceu na Cidade Líder, zona leste de São Paulo. Em 2016, ganhou o concurso Jovens Dramaturgos do Sesc, com a obra Vielas do Minotauro. No mesmo ano, ele escreveu um livro. Em As Casas de Unzó, o protagonista vive a realidade das ocupações e a luta por uma moradia digna. “É sobre um menino, sobre território e pertencimento. Na periferia a questão da moradia é sempre latente”, diz o autor. As Casas foi publicado em 2021, com o apoio do Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais, o VAI, da Prefeitura de São Paulo. Saiu junto um CD autoral — as composições de Ciano foram inspiradas no romance. “Sou músico e escrevo de modo muito visual e musical. Gosto de escrever com ritmo e de uma forma sonora”, conta. Antes do livro-CD, em 2020, o lado quadrinista do autor sobressaiu na história Inimigo Invisível, que recebeu o prêmio Troféu HQ Mix em 2021.

Paralelamente, foram desenvolvidos projetos colaborativos de educação nas periferias, com base em vivências, experiências e histórias de sucesso do próprio território. A esse conjunto de ações o artista deu o nome de Univercidade Fluxxo, juntando na mesma palavra (um neologismo) os conceitos de universidade e cidade. “É uma universidade livre na quebrada que criei a partir de metodologias ágeis de educação”, diz Ciano. Os participantes se envolvem em todos os estágios, desde a ideia do projeto até o modo como ele será aplicado na prática, com uma intensa troca de saberes.

Cultura afrobrasileira em Suzano — A atenção de Ciano se expande para a preservação e a valorização da cultura afro-brasileira, das religiões de matriz africana e do legado que pulsa no DNA das pessoas de ascendência negra. Foi por aí que surgiu o Terreiro do Futuro, em Suzano, cidade na região metropolitana de São Paulo. “É um espaço bioconstruído por e para gente periférica”, explica. “Um espaço de axé, de ancestralidade negra, onde essa ancestralidade e o culto aos orixás se dão também no cuidado com as pessoas, com a comunidade e com a terra, protegendo a natureza e o planeta.”

O Terreiro do Futuro fica no Quilombo de Osogiyan (Egbé Nla Osogiyan Kolá), do babalorixá Bruno Akili e da iyalorixá Ana Carolina. O projeto é descrito como “um terreiro de luta antirracista e que está bioconstruindo seu espaço sociocultural em permacultura”. A ideia é (também) promover debates sobre raça, fé, classe e gênero. “Os filhos da casa também estão envolvidos em projetos interessantes e [o quilombo] funciona também como uma espécie de cooperativa”, diz Ciano. As trocas de ideias giram em torno de questões ambientais, culinária, arte e audiovisual. “O terreiro de candomblé é um espaço social e cultural.”