Florestas e rastros de destruição contam história do Brasil em novo livro
Florestas e rastros de destruição contam história do Brasil em novo livro
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04/11/2022
Por: Estadão Conteúdo
As 320 páginas de Uma História das Florestas Brasileiras (Autêntica), de Zé Pedro de Oliveira Costa, contam mais do que o título indica. Isso porque a história das nossas florestas é também a história do Brasil, de como os habitantes dessas terras se relacionam com as matas desde antes da chegada dos portugueses e de como, depois disso, a exploração que exaure as florestas nunca parou. Do primeiro ciclo econômico que extinguiu as árvores que deram nome ao país aos motivos para preservar o que ainda temos, há duas leituras possíveis: a do que fomos e somos, e a do que podemos ser.
O autor conta a história das consequências da devastação imposta por um modelo de desenvolvimento utilitarista que apartou o homem da natureza, como a tirar sua responsabilidade dessa interferência. Ao mesmo tempo, aponta caminhos para um futuro mais promissor, em que o respeito aos indígenas e ao meio ambiente podem andar ao lado do desenvolvimento. Para isso, no entanto, chama a atenção para a necessidade de ações imediatas de preservação e alerta para a emergência das mudanças climáticas.
A noção de desenvolvimento também é colocada em xeque na narrativa das florestas brasileiras. A imposição do modelo colonial, que se estendeu para o Brasil independente e alcançou o século 21, em que a expansão é resultado da exploração dos recursos naturais, é questionada ante a constatação de que não só privilegiou minorias como legou a destruição e a pobreza para a maioria da população.
No capítulo em que trata das consequências do ciclo da cana-de-açúcar, Zé Pedro escreve: “O que a exploração da cana nos deixou como herança foi um Nordeste espoliado de suas riquíssimas matas, solos empobrecidos e uma população em grande parte miserável, muitas vezes servil, possuidora apenas de sua cultura popular e da humildade e humanidade que só muitas gerações de sofrimento podem ensinar”.
Cidades mortas – O Ciclo do Café, que enriqueceu barões no Vale do Paraíba, também é abordado a partir de suas consequências. Monteiro Lobato, filho e neto de fazendeiros de café dessa região, criou a expressão “cidades mortas”, que mostra como a ocupação ocorreu no local. Um dos motivos estava na forma como o cultivo do café era feito. Ao primeiro sinal de esgotamento do solo, as plantações migraram para outro local, restando um solo degradado e que acabava sendo transformado em pasto.
Zé Pedro tem longa trajetória ambientalista. Natural de Taubaté, no interior de São Paulo, foi professor da FAU-USP por mais de 40 anos. Foi também o primeiro secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e, por duas vezes, secretário nacional de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, responsável pela criação e implantação de diversas áreas de conservação ambiental.
Uma História das Florestas Brasileiras tem depoimentos de Dráuzio Varella, Fernando Gabeira, Sônia Braga e Fabio Feldmann. Além de três fotos que ilustram desde o dia a dia dos povos indígenas à exuberância das matas brasileiras, a capa é assinada por Sebastião Salgado.
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