Mais da metade das amputações têm a ver com diabete

No caso do diabete, cujos pacientes são as maiores vítimas das amputações, descuidos podem levar a grandes problemas, segundo especialistas. Foto: Pixabay

15/08/2022 - Tempo de leitura: 4 minutos, 0 segundos

O número de amputações de membros inferiores aumentou significativamente no Brasil durante a pandemia de covid-19. Em média, 66 pacientes passam por esse tipo de cirurgia diariamente. Em 2020, quando a crise sanitária se instalou no País, a média diária de amputações saltou para 75,64. No ano seguinte, chegou a 79,19, de acordo com levantamento da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Para especialistas, o problema estaria relacionado à descontinuidade no acompanhamento de pacientes com doenças crônicas durante o período.

Entre 2012 e 2021, período do levantamento, 245 mil brasileiros sofreram com amputações de pernas, pés ou dedos. O trabalho, feito com base em dados do Ministério da Saúde, mostra que, neste período, de maneira geral, o aumento do número de procedimentos foi de 53% — o que se agravou nos últimos dois anos. O ano passado registrou a maior soma de procedimentos, 28.906 casos, uma média diária de 79,19. A probabilidade de esse número ser superado em 2022 é alta, já que a média diária de procedimentos nos três primeiros meses deste ano é de 82.

A grande maioria dos procedimentos médicos teve queda acentuada durante a pandemia. No caso das amputações, no entanto, foi registrado um aumento. Para especialistas, isso ocorreu por conta da dificuldade de acompanhamento das complicações na saúde dos pacientes que, durante a emergência sanitária, abandonaram tratamentos e evitaram a ida aos hospitais e consultórios com medo da contaminação pelo vírus. Com isso, muitos acabaram indo ao hospital apenas nas situações mais graves, em que já não era possível evitar a amputação.


FATORES DE RISCO PARA AMPUTAÇÃO
Problemas que precisam ser acompanhados para evitar complicações que  podem levar à amputação

  • Diabete
  • Tabagismo
  • Hipertensão arterial
  • Idade avançada
  • Insuficiência renal crônica
  • Estados de hipercoagulabilidade
  • Histórico familiar

A RELAÇÃO ENTRE DIABETE E AMPUTAÇÃO
Pacientes são as maiores vítimas das amputações

O diabete impacta a circulação sanguínea porque gera o estreitamento das artérias, causando redução dos índices de oxigenação e nutrição dos tecidos. Alterações de sensibilidade aumentam a chance do surgimento de pequenos ferimentos e potencializam sua evolução para casos mais graves. Estudos apontam que 85% das amputações relacionadas ao diabete têm início com uma lesão nos pés que poderia ter sido prevenida ou tratada corretamente evitando complicações.

“Pessoas com diabete, ao passar dos anos, desenvolvem neuropatia e/ou isquemia, o que as torna mais suscetíveis ao desenvolvimento de feridas de difícil cicatrização (úlceras) e infecções”, explica o médico Julio Peclat, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. “A neuropatia acarreta a perda da sensibilidade ao toque, à temperatura e à dor. Com isso, o indivíduo não sente quando fere o pé. De modo geral, por não perceber, evolui para quadros de infecção que resultam em desbridamentos [remoção de tecidos] ou amputações.”

“Grande parte dessas amputações poderia ter sido evitadas a partir de práticas de auto-observação. O paciente bem informado que se examina com frequência poderá reconhecer a necessidade de uma intervenção precoce já nos primeiros sintomas. Identificar sinais de alerta precoces é imprescindível para reduzir a incidência de complicações”, aponta o cirurgião vascular Eliud Duarte Junior.

Recomendações para quem está em grupo de risco, sobretudo se tem diabete

1. Não faça compressas frias, mornas, quentes ou geladas nem escalda pés. Por causa da falta de sensibilidade acarretada pela neuropatia, você pode não perceber lesões nos pés
2. Use meias sem costuras ou com as costuras para fora. Assim você evita o atrito da parte áspera do tecido com a pele
3. Não remova cutículas das unhas dos pés. Qualquer machucado, por menor que seja, pode ser uma porta de entrada para infecções
4. Não use sandálias com tiras entre os dedos
5. Corte as unhas retas e acerte os cantos com lixa de unha, mas com muito cuidado
6. Hidrate os pés, pele ressecada favorece o surgimento de rachaduras e ferimentos
7. Nunca ande descalço. Você pode não sentir que o chão está quente ou que cortou o pé
8. Olhe sempre as plantas dos pés e trate logo qualquer arranhão, rachadura ou ferimento. Se não conseguir fazer isso sozinho, peça ajuda a um familiar ou amigo
9. Não use sapatos apertados ou de bico fino
10. Trate calosidades com profissionais de saúde
11. Olhe sempre o interior dos calçados antes de usá-los
12. Enxugue bem entre os dedos após o banho, a piscina ou a praia