Formada por quatro negros periféricos em um mês da Consciência Negra (novembro de 2018), a banda afropunk Punho de Mahin está a mil por hora com o lançamento do primeiro álbum. Embate e Ancestalidade resulta de uma longa pesquisa coletiva sobre a presença negra nas lutas de resistência e a importância da diáspora africana na música, principalmente nas vertentes mais viscerais, como o rock e o punk.
O Punho de Mahin nasce da cena punk paulista formada por diversos coletivos, grupos e movimentos de rebeldia artística e social que produzem música e manifestam a cultura por meio de fanzines e camisetas, entre outras iniciativas e produtos.
A potência crítica do Punho de Mahin não poupa ninguém. O lema da banda, ‘o punk nasceu preto’, causa desconforto em parte da cena, porque confronta o protagonismo branco no punk, que também ocorreu no rock. Um protagonismo branco que traz embutido machismo, racismo e homofobia.
“Quando a gente diz que o punk nasceu preto é para provocar e resgatar o legado da diáspora africana”, diz Natália Matos, de 36 anos, vocalista do grupo. “Tudo o que a gente ouve hoje tem uma raiz negra ou indígena e o punk deveria ser, na sua essência, antirracista.” Natália afirma que com o tempo o discurso punk de que “somos todos iguais, negros e brancos, homens e mulheres” gerou apagamento das subjetividades e problemas sérios, como racismo e homofobia, passaram a ser reproduzidos no movimento.
Que Mahin é esse? — Além de Natália, o grupo Punho de Mahin tem Paulo Tertuliano (33 anos, bateria), Camila Araújo (31 anos, guitarra e vocal) e Du Costa (48 anos, contrabaixo e vocal). O nome é uma homenagem a Luísa Mahin, uma mulher negra que foi escravizada e liderou a Revolta dos Malês na Bahia, em 1835. O povo mahin pertencia à etnia jeje-nagô e seguia a religião muçulmana. Luísa articulou diversas rebeliões abolicionistas na Bahia contra a coroa portuguesa.
“Queremos resgatar a história das frentes de resistência que atuaram no passado e foram apagadas. É fundamental saber sobre quem lutou antes da gente”, diz o baterista Paulo. “O punk é uma expressão de indignação. Punho de Mahin é fruto da musicalidade da diáspora preta e da revolta periférica.”
Natália é de São Bernardo do Campo e Camila de Ribeirão Pires, cidades da região metropolitana de São Paulo. As duas já tinham tocado juntas, conheceram o Paulo, que também é fotógrafo e mora no morro do Macaco, na cidade de Cotia, região metropolitana. O contrabaixista Du Costa chegou em novembro de 2019, trazendo diversos elementos da musicalidade africana. Ele vive da Vila Brasilândia, zona norte da capital.
“Desde o protopunk [palavra usada para descrever artistas precursores do punk rock, do final dos anos 1960 até meados dos anos 1970] tem uma raiz black na música”, ressalta Costa. “Nosso som tem peculiaridades da musicalidade brasileira e elementos de percussão muito bacanas.”
Novo trabalho — O lançamento oficial do álbum Embate e Ancestalidade está marcado para o dia 8 de abril, sexta-feira. As nove faixas começaram a ser compostas em 2018, mas foram gravadas durante a fase mais dura da pandemia, período em que a banda fez lives e diversos ensaios.
A preocupação maior na confecção do disco foi a qualidade do som, que deveria ser fiel ao estilo dos músicos. “Não queríamos aquela coisa de banda que soa melhor ao vivo ou que tem um som de estúdio que não é o do show”, acrescenta. “A gente queria um álbum com som real e foi isso que conseguimos.”
EMBATE E ANCESTRALIDADE (2022), PUNHO DE MAHIN
Faixas: Madame Satã, Navio Negreiro, Marighella, Xingu, Punho de Mahin, Estupidez, Protagonista, Direitos Violados, Racistas
Produção, gravação, mixagem e masterização: Fábio Godoy, do estúdio HardCaos (outubro de 2021 a janeiro de 2022).
Onde ouvir: nas plataformas digitais
Show: 8 de março às 22h no Porão da Cerveja (Rua General Olímpio da Silveira, 39, Santa Cecília, São Paulo. O ingresso custa R$ 10