Rapper do Amapá se orgulha de falar da Amazônia para o mundo

MC Super Shock. Foto: Thayse Panda

05/12/2022 - Tempo de leitura: 4 minutos, 42 segundos

Conhecido como MC Super Shock, o cantor, compositor e rapper cearense Carlos Washington converte a força de seu nome em inspiração artística, na tentativa de promover a transformação (positiva) que vem simbolicamente depois do choque — do encontro, do impacto, do abalo, da perturbação. A autenticidade que o jovem artista negro busca em trabalho musical está expressa também nas roupas e nos cabelos.

Radicado no Amapá, estado da região Norte do Brasil, Super Shock se orgulha de fazer música da Amazônia para o mundo. “Sigo tentando mostrar e partilhar que, através da arte, o sonho não só se torna gigante, mas possível”, diz o artista. “Tenho 26 anos e há mais de 10 [estou] inserido no meio do hip-hop. Nasci em Barbalha, interior do Ceará, e vim para o Amapá aos 14, 15 anos de idade. Dessa forma, me tornei um artista amapaense por ter me inserido e iniciado aqui, onde represento a arte local em festivais dentro e fora do estado”, explica.

Orgulhoso de ser adotado pela Amazônia e de retratar a musicalidade da região hoje mais comentada no Brasil e no planeta, Super Shock tem consciência dos limites de reconhecimento da cultura local. “Na real, é uma das melhores coisas do mundo [ser daqui]. A originalidade, a autenticidade e o complementos específicos da região Amazônica trazem uma riqueza única. Porém, seguimos invisibilizados, já que fomos educados a tirar referências do eixo Rio-São Paulo. Porém, quero acreditar que a mudança será interna. Isso, de certa forma, já acontece: a galera consumir dela mesmo saca?.”

O artista também acredita que, com a arte, é possível reverter alguns estigmas e preconceitos que ainda estão bastante enraizados por quem é de fora em relação aos nortistas. “Geograficamente falando, as coisas chegam com limitações. Da educação à tecnologia. Não tenho acesso nem a saneamento básico. Isso tudo reflete na nossa vida, logo, na arte. E, para fechar, nossos livros didáticos mentem, nos veem como escravos e preguiçosos. Fazem pensar que os originários não são pertencentes à história. Isso tudo influencia negativamente nossa região.”

Tomada de consciência — Super Shock conta que descobriu uma nova razão de viver ao conhecer mais profundamente a arte — talvez aqui a gente pudesse fazer um trocadilho. Foi um choque de realidade, um ponto de transformação, dos bons, para o artista que surgiu e para o público que o conheceu: “Percebi que minha vida só fazia sentido depois que fui inserido no hip-hop. A música me deu acesso à informação e a formação do que é ser um cidadão e até sobre caráter”.

Ao amadurecimento e ao sentido de cidadania cada vez mais consolidado, Super Shock soma a satisfação no fazer musical junto a amazônidas, desde a Amazônia, sobre a Amazônia, para a Amazônia, aos que vivem nela e a todos que puderem e quiserem ouvir. “Meu maior orgulho é saber que, através da música, a gente compartilha dores e medos. Se a gente consegue partilhar, que o amor seja nosso próximo processo dessa barreira que pessoas pretas como eu têm de derrubar. Então, se partilharmos, é possível que seja com muito afeto pra essa galera que me curte.”

No cenário de tensão política, intolerância e racismo, tudo junto em um caldeirão de ódio, o cantor acredita que os resultados de suas ações podem causar impactos positivos em seus fãs. “Os negros sempre estiveram presentes e à frente em tudo. O problema é que o branco ‘salvador’ acha que está fazendo um favor. Eu acho que ainda temos muitos racistas nessas áreas para derrubar, contudo sempre fomos resistência.”

Referências — O que procura expressar, MC Super Shock busca em várias fontes e artistas locais que, assim como ele, lutam diariamente em busca de espaço e reconhecimento. “Eu amo muito escutar músicas instrumentais, principalmente voltada ao jazz e blues, além de ouvir muita MPB. Minhas inspirações dentro da música são primeiramente meus amigos. Eles, mais que ninguém, me inspiraram a ser tão bom quanto eles: o Malária, a Nic, a Tani de Macapá, o Anthony Barbosa. Porém, tenho muitas referências famosas também, a exemplo de Jorge Ben Jor, Elza Soares, Tim Maia, Emicida, Brisa Flow e Luedji Luna.”

Audiovisual — Para sobreviver, igual a tantos outros artistas, mas principalmente os da periferia, Super Shock atua em outras áreas na tentativa de atingir diversos públicos. Uma delas é o audiovisual. “Graças ao hip-hop, tive acesso à câmera, porquê me vi na necessidade de fazer meus clipes, para tentar impactar mais pessoas. Logo, conheci pessoas que também faziam vídeos, não clipes. Ali vi que poderia juntar os dois, então eles sempre estão juntos, mesmo eu assinando meus projetos como Saturação no audiovisual, não consigo ficar longe de nenhum dos dois.”

Próximos passos  — “Quase todos os meus beats foram produzidos por pessoas daqui da região. Logo, a Amazônia sempre está inserida, desde a textura sonora até o audiovisual. Se der tudo certo, para 2023 sai meu primeiro álbum visual/curta musical, que ainda não posso falar muito sobre. Mas a gente pode fazer outra reportagem sobre isso”, brinca, aos risos. Por fim, o rapper manda uma letra para quem está em busca de dias melhores, aonde for: Foque na sua melhora/sem romantizar/Faça primeiramente por você/Antes, se salve.