“Uma andorinha só não faz verão, mas pode acordar o bando todo.” Foi com essa ideia que Robinson de Oliveira Padia, mais conhecido como Binho, acordou o bairro do Campo Limpo para as letras. Em 1995, no bar que comandava junto à companheira Suzi Soares, surgiu o encontro semanal Noite da Vela, para tocar vinil, sempre às segundas. Nos intervalos, o público recitava poesias. “Foi um laboratório onde aprendemos a cada encontro, sempre incentivando os participantes que por ali passavam”, conta Binho. Com o tempo, ganhava corpo o famoso Sarau do Binho, um dos mais tradicionais da periferia paulistana.
“Hoje, o Sarau do Binho é um encontro de artistas de diferentes linguagens que se juntam para compartilhar a arte em espaços da periferia de São Paulo”, explica Suzi. Ela foi uma das pioneiras, junto com a Cooperifa, do movimento de sarau nas periferias.
A partir do sarau, nasceram outras ações sociais, principalmente de incentivo à leitura: quando a pequena biblioteca no bar já não cabia mais entre quatro paredes, surgiu a Bicicloteca que circulava pelas ruas do Campo Limpo. E os livros passaram a ser entregues também em pontos de ônibus e no terminal do bairro.
Outros frutos — A Felizs, a Feira Literária da Zona Sul é outra ação importante derivada do Sarau do Binho. Em 2022, ela está na oitava edição. O evento prioriza os autores, autoras e editoras independentes, percorrendo a zona sul com intervenções em diversos espaços culturais e educativos. Participam, além de escritores, professores, estudantes e artistas.
Também neste ano, o Sarau do Binho participou da comemoração do centenário da Semana da Arte Moderna de 22 — junto do Sarau das Pretas e do grupo Clarianas. “Foi um dia histórico e de muita emoção para todos nós. Foi importante estarmos nesse espaço não só ocupando, mas entrando pela porta da frente como convidados”, conta Suzi.
“Acho que o nosso projeto é uma referência quando se fala em literatura no nosso território. Nas escolas, muita gente já conhece porque são muitos anos. Somos requisitados para estarmos nas escolas com os autores, saraus, e a partir disso alguns alunos criam seus próprios saraus nas escolas, se tornando protagonistas” explica Suzi. “É importante pra gente estar na área da educação. A gente gosta também de estar no chão, ali, fazendo com todo mundo. É uma alegria muito grande”, completa Binho.
Os trabalhos não pararam nem na pandemia de Covid-19, quando o coletivo se tornou ponto de apoio para diversos artistas da região e de famílias que passavam fome.
Suzi lembra ainda do lançamento recente do terceiro livro do Binho. Vinte e três anos depois da estreia com Postesia, a coletânea Azterketa reúne poemas e ilustrações do autor.
A produtora espera que cada vez mais as atividades do Sarau e suas ramificações sejam reconhecidas como o trabalho que efetivamente são, e não um simples entretenimento. “Não é um lazerzinho, um rolezinho, e sim nosso trabalho, vivemos da nossa arte e a gente sonha que haja respeito, consideração e valorização”, afirma.