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‘She´s Tech’ quer mais mulheres na área de tecnologia

Por: Luiz Carvalho . 12/04/2022

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‘She´s Tech’ quer mais mulheres na área de tecnologia

Movimento busca mudar um cenário ainda predominantemente masculino

5 minutos, 4 segundos de leitura

12/04/2022

Por: Luiz Carvalho

Ciranda Morais (primeira à esquerda) ao lado das empreendedoras Carine Roos, Dany Carvalho e Luana Freitas na She's Tech. Foto: divulgação

A mineira Ciranda de Morais propõe um desafio: digite “brinquedos de menina no Google” e anote o que o buscador traz. Agora, digite “brinquedos de menino” e repita o exercício.

Enquanto o universo masculino é composto por objetos que estimulam a transformação, a exploração e a construção, como escavadeiras, espaçonaves e peças de montar, o feminino traz elementos associados ao cuidado, à imagem, à família e ao lar, a exemplo de maquiagens, bonecas e pias.

Para contribuir com a transformação dessa realidade e permitir que as mulheres pudessem ingressar no mercado da tecnologia não apenas como consumidoras, e sim empreendedoras, Ciranda criou a She’s Tech, um movimento que atua em um cenário bastante desafiador e busca engajar e fortalecer o público feminino no setor. De acordo com o Female Founders Report, estudo de 2021 apresentado pelo grupo Distrito Minas Tech em parceria com Google e outras companhias, somente 4,7% das startups são lideradas por trabalhadoras.

A iniciativa de Ciranda nasceu justamente em Belo Horizonte, capital do Estado celeiro de startups no Brasil. Em 2020, Minas Gerais ficava atrás apenas de São Paulo em número de empresas desse tipo. Eram 780 companhias. O desempenho da região rendeu o apelido de San Pedro Valley ao bairro São Pedro, na zona sul da cidade, brincadeira em referência ao Vale do Silício, na Califórnia, área estadunidense onde está um grande número de empresas de tecnologia e inovação.

Ausência gera ideias — Formada em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e mestre em Desenvolvimento Sustentável do Território pela Universidade de Bolonha, na Itália, Ciranda fundou a She’s Tech em 2016 a partir de um incômodo.

Em 2010, ela atuava no varejo farmacêutico e começou a desenvolver um negócio de farmácia on-line. Para isso, passou a frequentar eventos de tecnologia e programas de formação de startups. O ambiente, porém, era majoritariamente masculino e excludente.

Numa sala de 70 alunos, havia apenas nove mulheres. No programa de aceleração de startups, de 43 empreendimentos, só cinco eram fundadas por mulheres. Percebi que a falta de um ambiente acolhedor estava interferindo nos resultados profissionais (Ciranda de Morais, fundadora da She’s Tech)

Desde 2018, a She’s Tech promove a She´s Tech Conference, maior encontro de profissionais da tecnologia no Brasil. A companhia já impactou mais de 1,8 milhão de pessoas de mais de 50 países por meio de campanhas, palestras e eventos.

Segundo Ciranda, o movimento se baseia em três pilares: inspirar as mulheres, colocá-las em lugar de fala e garantir a representatividade que ela mesma não viu quando iniciou o próprio processo de formação. O objetivo é criar redes de apoio e oferecer um ambiente seguro de aprendizado a todas que queiram desenvolver ideias.

Portas de vidro — A base da conscientização proposta por Ciranda é o que ela chama de teoria das portas de vidro, construída a partir do diálogo com mais de 100 entrevistadas ao longo de 2017. “Desde a infância temos portas de vidro, barreiras invisíveis que nos afastam da tecnologia na infância”, explica. “Não nos incentivam na adolescência e na universidade, dificultam nosso acesso ao mercado, restringem o investimento e nos induzem a criarmos as própria portas.”

Uma das é o receio de errar acompanhado por uma síndrome de impostora num segmento de inovação no qual naturalmente há mais riscos, e esses acabam avaliados com maior rigor por causa do gênero.

Projetos que se ajudam — A construção de redes de conexões na She’s Tech beneficia iniciativas como as do Fundo de Aceleração para Desenvolvimento Vela, a Fa.Vela. Trata-se de outra organização social de Belo Horizonte. Seu principal objetivo está na estruturação de ideias e iniciativas de pessoas negras, de baixa renda e LGBTQIA+ em todo o País. Atualmente, as mulheres correspondem a 80% dos beneficiados.

Cofundadora e presidente do Fa.Vela, Tatiana dos Santos Silva conta que o projeto surgiu em 2014, com empreendedores do Aglomerado Santa Lúcia, região periférica da capital mineira, a partir da realidade observada durante um intercâmbio em Moçambique.

“Voltei em 2014 ao Brasil e cheguei frustrada com o contato que tive com pessoas da Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] e com uma verdadeira indústria de desenvolvimento internacional. Há várias iniciativas de desenvolvimento em Moçambique, mas o país segue como um dos mais pobres do mundo, porque são impostas de cima para baixo, não dialogam com as demandas locais”, diz Tatiana.

Perante essa realidade, o Fa.vela atua para apoiar projetos que tenham como protagonistas as populações periféricas, a partir de uma plataforma de educação e apoio estrutural, inclusive financeiro, para lideranças de grupos historicamente marginalizados.

Com aulas em grupo e mentorias que tratam desde finanças e marketing até a modelagem do empreendimento, a organização conta com a She’s Tech para mobilizar parcerias, comunicação e personalidades que sejam referência para qualificar o negócio.

Ao modo uma por todas e todas por uma, a iniciativa ocupa os espaços deixados por quem está distante da realidade das comunidades. “Alcançamos o que o Sebrae não alcança, seja por conta da linguagem ou mesmo de questões como o horário das aulas inacessíveis para quem precisa trabalhar e estudar para alcançar um sonho. Buscamos ser uma alternativa a quem não tem acesso às ferramentas necessárias”, define.

O QUE SÃO STARTUPS

Startups são empresas inovadoras que se baseiam em tecnologia para oferecer soluções originais e preencher lacunas no mercado. Em 2021, o investimento nesse segmento no Brasil foi de US$ 9,238 bilhões, segundo a consultoria Sling Hug, valos 16 vezes maior do que em 2016. Ao longo de 2021, 11 startups nacionais superaram a marca de US$ 1 bilhão de valor de mercado

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