Vivemos uma época em que cada vez mais o esporte é medido em números, não em desempenhos. Com a chegada de eventos que não eram tradicionais ao Brasil e que caíram no gosto do público daqui, como a NBA, liga norte-americana de basquetebol, e a NFL, liga de futebol americano, vieram as estatísticas, prática comum da análise esportiva internacional, que acabou encampada na cobertura esportiva brasileira, acostumada a análises personalistas e, em grande parte, empíricas.
Junto com esses números, vem a pergunta que insiste em ser feita: “Estatísticas ganham jogo?” Normalmente, não, mas apontam tendências. Daqui a um mês, a temporada 2022 da Stock Car Pro Series, uma das mais disputadas na história da Stock Car, será decidida no Autódromo José Carlos Pace, o tradicional Interlagos, na capital paulista.
Trata-se da pista que mais corridas de Stock Car já abrigou, em três traçados e cinco metragens diferentes. O original, de 7.874 metros, que recebeu corridas entre 1979 e 1989. O segundo, de 4.325 metros, de 1990 e 1996. Outro, de 4.292 metros, utilizado de 1997 a 1999. O atual, a partir do ano 2000, com 4.309 metros de extensão. E, por fim, um, que não foi bem recebido pelos pilotos de 2018, que adotava uma chicana, supostamente para aumentar a segurança, que deixou a pista com 4.314 metros, mas foi rapidamente rechaçada pelos participantes.
Entre os dez ponteiros da atual temporada, o melhor índice é o de um piloto que não tem mais chance de conquistar o título, mas pode influenciar, diretamente, a disputa, pois está sempre entre os favoritos em Interlagos: Thiago Camilo. Seu índice geral, nas 323 provas que disputou, é de 11,4%, porém, na pista onde teve início a carreira desse paulistano de 38 anos, ele ostenta 14,8% de efetividade, conquistada em sete vitórias, nas 48 corridas que disputou em Interlagos. Já Rubens Barrichello chega a São Paulo na liderança da tabela, com 298 pontos e um índice de efetividade que não anima nem o apostador mais otimista. Se o ex-piloto de Fórmula 1 tem índice geral de 9,2% (19 vitórias, em 205 corridas), em Interlagos ele é zero, pois nunca venceu no autódromo que é o quintal de sua casa, na infância.
A vice-liderança da tabela, a apenas 8 pontos de Barrichello, é ocupada por Daniel Serra, que mantém equilíbrio entre seu percentual geral e em Interlagos, de 6,7% e 6,2%, respectivamente, fazendo dele uma aposta muito confiável.
A história inverte-se com o terceiro melhor na lista de possíveis campeões. O índice de efetividade de Gabriel Casagrande o coloca como uma boa aposta para a Grande Final BRB. Em 193 provas já disputadas, seu índice é de 3,6%; porém, considerando apenas o palco da decisão do título, ele salta para 13,3%, mais que o dobro de Serra e o melhor entre os postulantes ao título. Atrás dele, o “azarão” Matías Rossi, argentino que estreou, em 2020, na Stock Car Pro Series e tem 53 corridas disputadas, que lhe conferiram um índice de vitórias de 3,7%, e, assim como Barrichello, zero em Interlagos.
Em uma categoria tão equilibrada como a Stock Car Pro Series, certamente a disputa não ficará apenas entre esses quatro pilotos, pois há muita gente boa que, mesmo sem chance de título, vai em busca da vitória. Um deles é Nelson Piquet Jr., nono na tabela, com 11,1% de efetividade, em Interlagos. As duas provas que comporão a décima etapa da temporada prometem ser eletrizantes.
Ao longo das 43 temporadas disputadas, o circuito de Interlagos recebeu 144 corridas, desde a primeira prova da categoria, disputada no autódromo em 13 de maio de 1979. Naquele dia, a vitória foi do paulista Affonso Giaffone Jr., que seria campeão em 1981. Giaffone teve um índice de 9,8% de aproveitamento, nas 81 corridas que disputou, enquanto, especificamente, em Interlagos, pista em que venceu três vezes, esse índice é de 9,3%. Estaria bem cotado se disputasse a Grande Final BRB.