Em busca de cidades mais inclusivas

Dante Grecco (editor do caderno Mobilidade), Clarisse Linke (diretora do ITDP), Carol Guimarães (99) e Renata Falzoni (cicloativista). Foto: Connected Smart Cities
Daniela Saragiotto
06/07/2022 - Tempo de leitura: 2 minutos, 15 segundos

Acesso desigual aos ambientes urbanos, ao transporte público e à infraestrutura disponível para diversos modais são apenas alguns exemplos de como as diferenças sociais se refletem, também, na mobilidade urbana, afetando pessoas em todos os municípios do País. Os impactos são conhecidos e se manifestam em diversos campos, como educação, trabalho, saúde e lazer. O assunto foi debatido durante o Parque da Mobilidade Urbana, que aconteceu em São Paulo, no final de junho.

“O uso e a ocupação do nosso espaço urbano são a origem de diversos problemas brasileiros. No geral, o que predomina são as chamadas cidades-dormitórios, em que as pessoas fazem longas viagens, todos os dias, para seu trabalho e moram em locais sem infraestrutura. Além disso, temos um modelo rodoviário que privilegia os veículos, especialmente automóveis particulares, normalizando excesso de velocidade e poluição do ar”, afirma Clarisse Linke, diretora do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP), pontuando alguns desafios estruturais.

Para a diretora do ITDP, é fundamental um olhar segmentado para todos os públicos que compõem as cidades, saindo da visão de usuário padrão, que é predominante na definição de políticas pública atuais. “Além de entender as periferias, é preciso cruzar gêneros, raças e outros aspectos da nossa realidade”, diz.

Carol Guimarães, gerente sênior de políticas públicas da 99, explicou que a empresa faz um trabalho em prol do acesso às cidades, especialmente pelas mulheres. “Sabemos que a subnotificação, em caso de violência, é frequente, e um dos motivos é que muitas mulheres não têm como ir até uma delegacia. Então, temos um serviço que oferece viagens gratuitas ao público feminino até o local de denúncia, além de incentivarmos a participação de mulheres motoristas no aplicativo”, explica.

Caminhos para a inclusão

Entre as formas de reduzir as desigualdades, incentivar e ampliar a infraestrutura para a mobilidade ativa se posicionam como uma das maneiras mais eficientes e democráticas. “Quem pedala percebe algo fundamental, que é o resgate da escala humana. O modal é uma solução simples e barata para a maioria dos problemas herdados do século 20”, afirma Renata Falzoni, jornalista, fotógrafa e cicloativista.

De acordo com estudo recente do ITDP, somente 20% da população das 27 capitais brasileiras vive próxima à malha cicloviária, o que demonstra a necessidade de ampliação da estrutura de ciclovias, em todo o Brasil. “Isso acaba impedindo que esse recurso seja usado para ampliar o acesso à saúde, à educação e às oportunidades econômicas, por exemplo”, diz Clarisse Linke.