Os mestres da luz

Pôr do sol no autódromo Velocitta une arte com velocidade. Foto: Duda Bairros

15/06/2022 - Tempo de leitura: 4 minutos, 11 segundos

Já dissemos várias vezes, neste espaço, que o automobilismo é o esporte individual mais coletivo que existe. A imagem que nos vem à cabeça é de uma equipe fazendo, em poucos segundos, trocas de pneus e reabastecimentos, nas paradas de boxe, durante a corrida.

E, se é a imagem que vem à cabeça, é dela que vamos falar, hoje. Nada valeria a pena – ou, melhor, sequer existiria – se não houvesse o registro de tudo o que acontece dentro e no entorno das corridas. E os fotógrafos são as peças fundamentais para que não só os fãs possam acompanhar seus ídolos mas que negócios sejam fechados, entregas sejam feitas a patrocinadores e toda a engrenagem funcione.

Em uma categoria que soma 43 anos de atividade ininterrupta, a história desses profissionais também fica marcada como um título eternizado pelas lentes. Os poucos pioneiros trabalhavam com filme de acetato, bem antes da era digital, com equipamentos simples e em condições precárias. O ciclo se encerrava na próxima corrida, quando vendiam suas fotos, feitas na etapa anterior, enquanto produziam novas.

A migração para a fotografia digital, que acelerou tudo, foi intensamente vivida por um deles, o paranaense Sérgio Sanderson, verdadeira lenda viva da fotografia de automobilismo no Brasil. Nascido em Francisco Beltrão (PR), radicou-se em Cascavel, sendo o responsável por colocar essa cidade do oeste paranaense como capital do fotografia automobilística do País. Viajando, em caravana, aos autódromos, Sanderson, que montava laboratórios de revelação improvisados, revelou não apenas filmes mas vários profissionais, como Cleocinei Zonta, que, hoje, segue fotografando, e o folclórico Wanderley Soares, apelidado de “Zoião”, cuja entrada à fotografia foi mais pitoresca do que se pode imaginar.

“Eu era caminhoneiro, e um pessoal me pediu para levar uma caminhonete até Brasília, com pôsteres, fotos, camisetas e bonés. Levei, mas a falta no emprego me rendeu uma demissão na transportadora, e fui pedir trabalho ao Sérgio”, conta. “Fazia de tudo, e um dia ele me deu uma máquina e dez rolos de filme, e me mandou fotografar. Queimei todos, mas aprendi que não se podia tirá-los da máquina sem o devido cuidado”, concluiu Zoião, que, hoje, atende vários clientes corporativos na Stock Car.

Outro personagem marcante é o paulista Luca Bassani, que, inacreditavelmente, sempre está em pontos em que acontecem acidentes e rodadas. Além do oportunismo, Bassani tem uma sutileza ímpar para captar imagens, da mesma forma que Miguel Costa Jr., considerado um dos mestres da arte de fotografar velocidade.

Muita gente boa

Será impossível terminar este texto sem cometer injustiças ao não citarmos vários nomes, pois é muita gente boa, como a talentosa Fernanda Freixosa, fotógrafa profissional, pioneira no automobilismo, que está fora das pistas, ou o santista Fábio Oliveira, há 22 anos na Stock Car e atuando na produção de vídeos, em que Carsten Horst também atua, desenvolvendo técnicas de captação em movimento e dentro dos carros. Dessa mesma geração, citamos o dublê de skatista e jogador de basquete Bruno Terena, uma fera das lentes. Entre os pioneiros, André Santos conta com um acervo incrível de imagens obtidas por décadas, assim como Sílvio Porto, outro “monstro” da fotografia automotiva.

Também do Paraná, porém de Campo Mourão, José Mário Dias, depois de brilhar logo que apareceu no mercado, atualmente trabalha, além da Stock Car, em eventos internacionais, caminho semelhante ao de Luca Bassani, que, hoje, ao lado de Beto Issa, forma a única dupla de fotógrafos com credencial permanente para cobrir a Fórmula 1 pelo mundo.

Atualmente, a Stock Car credencia uma média de 60 profissionais, que produzem imagens, por etapa. Em Interlagos, são mais de 150. Muitos deles são profissionais com décadas de atuação, alguns citados aqui. A lista é grande, e não será possível mencionar todos, apesar do reconhecimento do ótimo trabalho de cada um deles, como Marcus Cicarello, Rafael Gagliano, Rodrigo Silveira e a dupla Ricardo e Rodrigo Guimarães (pai e filho, justamente conhecidos como “Analógico” e “Digital”), Lucas Miranda, Carlos Chauí e muitos outros.

Ele comanda o pelotão de frente

Duda Bairros (à esq.), Fernanda Freixosa e Fábio Davini. Foto: Divulgação Vicar

O gaúcho de Novo Hamburgo Duda Bairros é o fotógrafo oficial da Stock Car. De personalidade marcante, jeito afável e sempre procurando “aquele detalhe” extra, o ex-comissário de bordo desembarcou da aviação e decidiu que seria pela fotografia que faria suas maiores viagens. E são milhares delas produzidas, desde 2007, na Stock Car. Se o automobilismo é coletivo, a fotografia também é. Duda tem, em sua equipe atual, Marcelo Machado de Melo e Magnus Torquato, autores das duas fotos eleitas como as melhores das duas últimas edições do Rally Dakar. Muita luz a todos eles, mas, se precisar, usam o flash.