Uma temporada tão equilibrada, cheia de alternativas e de tão alto nível, não poderia ser decidida de forma diferente, na segunda prova da última etapa. O palco de gala foi o Autódromo José Carlos Pace, em Interlagos, localizado na região sul de São Paulo (SP), que, pela primeira vez na temporada, recebeu carga total de público, que certamente saiu satisfeito com o recheado evento, organizado pelos promotores, que colocaram 14 categorias diferentes no programa, envolvendo cerca de 300 carros. Quem foi ao autódromo recebeu uma overdose de automobilismo para matar as saudades represadas pela pandemia.
Mas essas saudades já começaram a contar novamente para 2022, depois deste fim de semana épico, no qual um paranaense de 26 anos colocou seu nome na galeria dos campeões da Stock Car, ao obter dois terceiros lugares na Super Final BRB. O piloto da equipe A.Mattheis-Vogel, chegou ao traçado paulista com 27 pontos de vantagem sobre Daniel Serra, e conseguiu manter a diferença para faturar seu primeiro título.
Gabriel Casagrande somou 378 pontos na temporada, que contou com 24 largadas (duas por etapa). Serra atingiu 354 pontos no segundo lugar, com Thiago Camilo garantindo o terceiro, ao totalizar 310 pontos. Ricardo Zonta terminou em quarto (307) e Ricardo Maurício foi o quinto colocado, com 304.
Casagrande tornou-se o 18º campeão da história da Stock Car. O piloto de Pato Branco (PR) conquistou “apenas” duas vitórias ao longo da temporada, no início do calendário: na segunda, também disputada em Interlagos, e na terceira, realizada no Velocitta, em Mogi Guaçu (SP). O dono do Chevrolet Cruze número 83 também demonstrou enorme regularidade, com 14 pódios, em 12 etapas. Ele também é o segundo paranaense a triunfar na principal categoria nacional, depois de David Muffato, em 2003.
“Tirei um peso das minhas costas. Esse título muda tudo. Hoje, na nossa reunião pré-corrida, meu companheiro de equipe, Guga Lima, me lembrou de um detalhe que eu até tinha esquecido: quando corríamos de kart, eu falava que o meu sonho era ser campeão de Stock Car. Nunca fui muito deslumbrado com a Fórmula 1. E, hoje, o realizo. O Guga disse: ‘Só vai e realiza o teu sonho’. Consegui, estou contente para caramba, agora. Sou muito grato ao cara lá de cima por tudo o que foi posto. Agora, vamos com um pouco menos de pressão para os próximos desafios. A gente vai tentar mais. Temos carro e equipe para isso”, disse Casagrande.
O público que foi ao autódromo, assistiu pela TV ou, ainda, pelas diversas plataformas digitais da categoria, testemunhou duas corridas emocionantes, como não poderia deixar de ser. Na primeira, Thiago Camilo, já sem chances de título, colocou uma pimenta extra no molho da final, ao tomar a liderança de Casagrande, o pole position, ainda nos metros iniciais para garantir a vitória, sua 37 na carreira, igualandoª o número de Cacá Bueno e se tornando o maior vencedor em atividade, ao lado do pentacampeão.
Daniel Serra foi o segundo, levando a decisão à segunda prova, sendo “marcado” por Casagrande, como se fosse uma regata. Porém, como diz o ditado: “Corrida só acaba na bandeirada”, frase célebre em um esporte em que, às vezes, um componente de R$ 5 desliga uma máquina complexa que vale milhões.
Na segunda e decisiva prova, o papa-vitórias Ricardo Maurício cruzou, em primeiro, com seu Chevrolet Cruze, enquanto Ricardo Zonta, com um Toyota Corolla, fechou a prova com o segundo lugar. Casagrande teve outra atuação notável e terminou a prova em terceiro, garantindo o título e o seu 14º pódio na temporada. Marcos Gomes foi o quarto, sendo seguido por Daniel Serra, que ficou com o vice-campeonato. Ricardo Maurício só não chegou à decisão disputando o título, por ter sido obrigado a não competir na segunda etapa do ano, quando testou positivo para covid-19.
“Foi uma boa temporada. É lógico que tem esse gostinho de ser vice, mas o importante é que estou há cinco anos na Eurofarma RC e disputamos o título todos os anos. Conquistei três campeonatos. Sabemos qual foi o problema desta temporada, Goiânia – perdi muitos pontos ali. Mas pegamos um adversário que estava de igual para igual e muitas vezes melhor. Tem que dar os parabéns ao Gabriel. Aumenta muito o valor do meu vice o nível de piloto que ele é. Fez um campeonato muito bom”, comentou Daniel Serra.
Conhecida como Stock Light até 2021, a categoria de acesso à Stock Car Pro Series passa a se chamar Stock Series a partir da próxima temporada. Marcando a nova fase, o pacote técnico da competição sofrerá alterações. Foi apresentada a nova configuração do carro da Stock Series, com alterações que permitirão à categoria de acesso ter um desempenho bem mais próximo, tecnicamente, do carro da Stock Car Pro.
O conjunto é claramente um passo à frente: nos testes preliminares de desenvolvimento do modelo, o novo Stock Series se mostrou, em média, 1,5 segundo mais veloz que a versão que se aposenta. A evolução foca no processo de formação dos jovens pilotos, que receberão vários incentivos. Outro detalhe de alinhamento entre as duas categorias é o fato de a carroceria passar a ser a do Cruze – modelo da Chevrolet campeão na Stock Car Pro.