A maneira como nos deslocamos nas cidades vem ganhando contornos cada vez mais democráticos e inclusivos. Novos tipos de modal, em especial o elétrico, se consolidam como alternativas eficientes por serem mais econômicos e eco-friendly. A despeito dos veículos especiais, já adaptados para pessoas com mobilidade reduzida, os micromodais elétricos convencionais são compactos e livres de esforço físico. Por isso, passaram também a chamar a atenção de pessoas com algum tipo de limitação de locomoção. Um exemplo inspirador vem de um paulistano que, após um trágico acidente que provocou a amputação de uma perna, encontrou uma nova forma de locomoção.
Essa história começou em 2018, quando Márcio Frascino, então com 32 anos, trabalhava há muito tempo no escritório de uma multinacional na zona oeste da capital paulista. Ia e voltava, quase diariamente, do trabalho, no trajeto Lapa–Perdizes, de motocicleta. Tinha uma vida intensa, com muitas viagens e prática esportiva regular. No dia 23 de março de 2018, porém, isso tudo mudou: ele sofreu um acidente, se chocando contra um ônibus com sua motocicleta. Como resultado, teve a perna direita amputada pouco acima do joelho. E agora? Como será minha vida? – foi o seu primeiro pensamento.
Foi uma longa jornada até a total cicatrização do corte (que teve mais de 100 pontos), aprender a andar de muletas, conseguir uma prótese (caríssima) capaz de lhe proporcionar qualidade de vida adequada e encontrar um propósito para a vida. Passou quase sete meses em casa, antes de retornar ao trabalho, já com a prótese, mas ainda sem dominar o seu uso.
Seus deslocamentos passaram a ser um enorme desafio. A mobilidade de pessoas com amputação, muitas vezes, requer adaptações, como no caso de um carro modificado que Frascino possui. E, para dirigi-lo, é necessário também a habilitação especial para PCD (pessoa com deficiência).
Porém, para pequenos percursos, ainda havia a necessidade de alguma solução mais prática. Foi quando Márcio Frascino decidiu conhecer modais portáteis, cuja condução fosse possível com o uso da prótese. A opção por um monociclo elétrico, em um primeiro momento, parecia impossível. Afinal, andar num veículo de uma roda só requer treinamento. Mas, mesmo sabendo das dificuldades iniciais, a resiliência de Frascino o impediu de desistir da ideia.
Após o êxito das primeiras aulas, faltava, ainda, aprender a subir no monociclo com mais facilidade. Foi, então, que, ao ver um caso similar de outro amputado da Tailândia (e que também é monociclista), ele entendeu que, para realizar a ‘subida’, precisaria elevar o quadril do lado da prótese, puxar o pé para apoiá-lo no pedal e, então, estabilizar o corpo na posição ereta, necessária para a condução correta do veículo. No início, ele se utilizava de apoios laterais para conseguir realizar a manobra, coisa que agora já não é mais necessária.
Márcio Frascino é o único amputado no Brasil que conduz, com grande desenvoltura, um monociclo elétrico. Ele possui um modelo capaz de atingir 30 km/h de velocidade máxima. ‘Uso o monociclo quase diariamente, principalmente como lazer e para ir até a aula de teatro. É minha terapia’, diz ele, sempre com bom humor.
Agora, aos 35 anos, Frascino tem como objetivo inspirar pessoas, mostrando que a forma positiva de lidar com as diferentes situações da vida é a chave para ser ou não feliz e contribuir para ajudar outras pessoas com suas próprias dificuldades.
Na rua, hoje em dia, pilotando seu monociclo elétrico pelas ciclofaixas, não é raro encontrar uma criança que, depois de juntar mentalmente o monociclo (um veículo ainda pouco comum na paisagem paulistana) e sua prótese metálica, logo se apressa em chamá-lo de ‘robô’ ou ‘super-herói’, rótulos que Frascino descarta. ‘Sou uma pessoa comum reaprendendo a viver e, agora, com um propósito muito claro de inspirar pessoas’, afirma. Future-se.