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A visão de gênero e raça na mobilidade urbana

Por: . Há 11 dias
Maio Amarelo

A visão de gênero e raça na mobilidade urbana

O perfil de óbitos por sinistros de trânsito revela que a insegurança viária afeta diretamente a população
economicamente mais vulnerável

3 minutos, 25 segundos de leitura

07/05/2024

regras de trânsito para ciiclistas
Em torno de 51% dos mortos no trânsito em 2023 eram de pessoas na faixa entre 20 e 29 anos. Foto: Getty Images

Estamos no mês do Maio Amarelo, movimento que visa alertar sobre o alto índice de mortos e feridos em sinistros de trânsito, além de colocar em pauta o tema segurança viária para mobilização da sociedade. A campanha, que acontece em todas as cidades e Estados do Brasil, além de em outros países, envolve governos, empresas, organizações não governamentais e a comunidade em geral.

Tendo como base o tema deste ano, que é “A paz no trânsito começa por você”, me pergunto: será mesmo? Na minha visão, a responsabilidade, na verdade, se inicia pelos gestores e tomadores de decisão. E quando falo sobre isso, trago a discussão também acerca da construção de infraestrutura necessária para todos, principalmente para os pedestres e ciclistas, que acabam sendo os mais vulneráveis quando o assunto é sinistro de trânsito.

A falta de investimento em transporte público, calçadas e ciclovias é histórica. E, tão importante quanto, é necessário avançar na priorização de políticas e investimentos em transporte público de qualidade e adequado, e, ao mesmo tempo, desestimular o uso de transportes motorizados individuais, fomentar o uso da bicicleta e da mobilidade ativa e difundir os direitos dos ciclistas e de pedestres.

Insegurança viária

Sinistros de trânsito podem ser evitados com diversas estratégias: redesenho das vias, diminuição de velocidade, alteração nas leis de trânsito, maior fiscalização e fortalecimento de políticas públicas, mencionando apenas alguns exemplos.

E toda essa discussão é urgente, não somente em maio, mas ao longo de todo o ano. As mortes de pessoas nas vias são um reflexo da insegurança viária que ocorre no Brasil e em outros paises.

Quando olhamos para raça, números do MobiliDADOS, plataforma que reúne indicadores e dados abertos para apoiar a elaboração e monitoramento de políticas públicas de mobilidade urbana, eles mostram que, somente em 2021, quase 60% (ou exatos 59.34%) das mortes no trânsito foram de negros e negras, e 22,51% eram de pessoas na faixa entre 20 e 29 anos.

O perfil de óbitos por sinistros de trânsito mostra que a insegurança viária afeta diretamente a população economicamente mais vulnerável. Ao analisar o uso da bicicleta, em 2021 foram registradas 33.813 mortes em sinistros de trânsito em todo o Brasil, de acordo com o DATASUS, do Ministério da Saúde.

Os ciclistas respondem por 5% deste total, contabilizando 1.906 óbitos em acidentes no Brasil, número que tem aumentado a cada ano. Segundo o DATASUS, 35% das mortes são de motocicletas e em sua maioria homens e negros e jovens, da mesma forma que eles são os maiores alvos da repressão do Estado de maneira geral.

Representatividade

No Instituto Aromeiazero, discutimos pautas sociais como essa todos os dias. Acreditamos que não apenas no mês de maio, mas durante todo o ano, elas precisam estar no centro das decisões de empresas, sociedade civil e Poder Público.

Acreditamos que a construção de um trânsito mais seguro para toda a sociedade brasileira requer a adoção, também, de uma perspectiva de gênero e de raça no planejamento urbano e na definição de políticas públicas. Isso exige, por exemplo, a participação de mais mulheres e de pessoas negras ocupando cargos de poder em mobilidade e nos transportes.

Apenas assim as tomadas de decisão poderão refletir o que as pessoas realmente precisam em seus deslocamentos diários. Esse é um exemplo de discussão que queremos ver acontecendo também.

Que os futuros Maio Amarelo sejam de muitos debates e reflexões acerca das pautas urgentes e que levem em consideração, também, a perspectiva da representatividade, especialmente de mulheres e pessoas negras.

Acreditamos que esse olhar para gênero e raça seja fundamental para a criação de cidades mais seguras para pedestres, ciclistas, além dos usuários de transporte público de maneira geral.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão

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